O
que caracteriza o gênero humano? A priori
esta pode parecer uma pergunta retórica, todavia não é e para respondê-la,
tentarei demonstrar a grandeza desse gênero analisando, na diversidade da pluralidade
inerente ao gênero, aquilo que é comum a tudo e a todos. Portanto, independentemente
de diferenças de credo, sexo, ideologia, raça, posição socio-econômica e cultura,
etc., é fato que alguns valores não se esgotam em apenas um destes segmentos e
aqueles que são presentes em todos revestem-se, por isso mesmo, de uma
magnanimidade que os torna supremos.
A
emoção e a razão polarizam, não há duvidas, a medida que baliza a mensuração
daquilo que é magno, ou seja essencial; supremo em todas as áreas da atuação
humana, na qual coexiste a dicotomia secular: bem e mal, certo e errado,
verdadeiro e falso, luz e treva, e assim por diante. Em todos os segmentos
humanos se encontram essas realidades antagônicas, as quais representam
entraves – o que não significa dizer que não possam ser superados – a plenitude da sublimação do gênero humano, cuja grandeza perpassa a
racionalidade, urbanidade, fraternidade, consideração e a empatia pautada no
respeito e na dignidade presente na singularidade de cada pessoa, seja ela homossexual ou heterossexual: em todos há sentimentos.
Contudo, com
tristeza deveras imensa assisti e tomei conhecimento de atitudes, extremamente
desrespeitosa, de ativistas e simpatizantes do movimento GLBT que, em marcha
denominada “Parada Gay” promoveram no último domingo, 07/06/2015, na cidade de São
Paulo-SP, uma manifestação na qual sobressaiu o desrespeito para com a
religiosidade cristã, com vilipêndio e quebra de imagens que remetem os mais
caros simbolismos e sentimentos da fé cristã.
Imagens
da Virgem Maria foram quebradas, crucifixos foram utilizados para tapar órgãos
genitais e, em alguns casos, introduzidos no ânus por alguns participantes.
Representações de Jesus crucificado em situações que insinuavam que o mesmo era
homossexual, inclusive com beijo na boca. Enfim, embora tais acontecimentos
impressionem pelo deboche que se impregna nos atos, em nítida afronta a Igreja
Católica e a segmentos religiosos protestantes/evangélicos, não é de hoje
que a “Parada Gay” da cidade de São Paulo inova em práticas tão reprováveis.
Atribuo
o adjetivo reprovável, não porque eu tenha formação cristã, mas porque na
conduta que zomba daquilo que para outrem possui um valor e um significado
imaterial (embora representado simbolicamente através da materialidade de
imagens e ícones) e, por isso mesmo, especial, rebrilha a mediocridade que não
se coaduna com a grandeza do Ser Humano, o qual dotado de emoção, intelecto e
racionalidade capaz de elevá-lo dos demais seres do planeta.
Quem
quer ter suas convicções respeitadas deve respeitar as alheias e quando estas
não lhes forem ou parecerem agradáveis, deve ter o necessário discernimento e
inteligência para fazer valer suas convicções não pela força, ou pelo menosprezo
pautado na zombaria desqualificada de bom censo, na vã ilusão de diminuir o que lhe é contrário. Afinal, pessoas até podem ser
mortas, exterminadas, se calarem; contudo as ideias e as convicções que carregam jamais,
elas pertencem ao campo do imaterial, logo do intangível, motivo pelo qual o uso
da força e da zombaria apenas revelam a pobreza de espírito e a fraqueza moral e intelectual de quem as impunha.
O
deboche e o desrespeitoso modo como alguns manifestantes portaram-se durante a
Parada Gay, eu diria ser mais um ato irracional e, portanto, impensado. Jamais
será uma conduta revolucionária de um movimento forte que se levanta sob a
chancela de uma utópica luta por direitos e pela não discriminação e, por isso
mesmo, tende a permanecer no campo da utopia, a intermináveis léguas de
distância de se tornar a realidade aspirada.
É
preciso utilizar a racionalidade de modo inteligente e a inteligência de modo
criativo, dentro dos limites do mais austero e extremo respeito ao pensamento
divergente, primando pela diplomacia na exposição de suas convicções, pois com
mais eficácia tem sua ideologia abraçada pelos demais quem a expõe através de
argumentos e não pela força, ou a pejorativa difamação do que lhe é contrário. Quem
assim não age, não só não respeita, como também não se dá o respeito e, no
apagar das luzes, é quem menos tem razão de reclamar ou reivindicar qualquer tipo
de tratamento respeitoso, pois é a essência que faz magnas as coisas e somente
as coisas magnas – portanto caras – inspiram respeito.
A
Igreja Católica e as Igrejas Protestantes – a verdade é essa – se dão respeito
e, seja esta a razão pela qual, uma vez afrontadas, ou mesmo ridicularizadas em
suas ideias, através de atos de zombaria e grosseria que emergem de uma
violência moral... Sem esforço algum, despertam a SOLIDARIEDADE de muitos,
solidariedade esta que falta a comunidade GLBT por culpa exclusiva de alguns de
seus integrantes revoltosos que ainda não souberam canalizar essa revolta em um
protesto cívico e acima de tudo inteligente e tolerante ao pensamento
contrário. Não por menos, penso que seja esta a resposta, repito, para que as metas
pretendidas pelos GLBT’s ainda permaneçam apenas no campo da utopia.
Não
sou “homofóbico”, tampouco sou “cristofóbico” e aqui falo de modo imparcial,
sem fazer nenhuma apologia ou apostasia as Igrejas Católica e Protestante
(embora seja cristão por fé e convicção), tampouco ao movimento GLBT. Levanto
a bandeira da tolerância e desfraldo o estandarte da liberdade de expressão
dentro dos limites da prudência e do mais austero e extremo respeito ao
pensamento divergente, assente na necessidade de utilização racional dos
argumentos e do embate de ideias no plano da urbanidade, com o nítido propósito
de apenas expor suas convicções: o tempo sempre se encarrega de ratificar as
proposições que merecem sê-las.
Consigno
que em momento algum tomei partido para dizer que a razão está com uma ou outra
forma de pensar, apenas não compactuo com a forma como as ideias do movimento
GLBT foram defendidas, posto que a defesa implicou proposital desrespeito ao
pensamento divergente, o qual levado a efeito da forma mais reprovável possível.
E
para finalizar esta sutil reflexão penso que melhor maneira é expressamente renunciar
a toda apostasia – desde a mais violenta até a mais branda – da grandeza da
dignidade do gênero humano, fazendo-se, para tanto, da apologia desta grandeza um sacerdócio intrépido
e impávido que não se cale aos brados irracionais de toda e qualquer apostasia
da dignidade humana, com a convicção e a emoção de que, o silêncio que ignora, também tem o timbre capaz de suplantar a acústica de uma conduta reprovável, mediante o desprezo.
A
terra, insultada, vinga-se dando-se flores (Tagore). Entretanto, sendo vingança
um sentimento medíocre, encerro esta apologia com uma história sobre o Sândalo:
as árvores quanto mais grossas em seus caules ficam mais resistentes a
investidas de machados, contudo essa dureza não lhes permite produzir essências
aromáticas duradouras e abundantes; aquelas de perfume mais suaves são, consequentemente,
aquelas com o caule mais maleável que, exatamente por isso, produzem em maior
escala a seiva que serve de substrato aos aromas e dentre elas destaca-se o sândalo;
ocorre que por possuir bastante seiva e muito fácil derrubá-lo a golpes de
machado, o qual sem encontrar no caule aquela dureza própria das arvores com pouca
seiva, não tem sua lamina comprometida no atrito.
Isto
quer dizer apenas uma coisa: machado que derruba um Sândalo nunca sai
vitorioso, pois para a proporção da violência do golpe que desfere, concorre o
Sândalo exatamente com a liberação pródiga e generosíssima da seiva perfuma que
exala a cada golpe, impregnando na lamina de tal modo que o machado conserva em
si, por onde for, a suavidade daquele aroma cuja investida tentou ceifar.
Portanto,
a ambas as partes envolvidas no embate, do qual estou certo, restaram consequências
chagadas de revolta para ambos os lados – afinal é grotesco engano fazer
apostasia, ainda que sutil, da dignidade humana, qualquer que seja o motivo ou justificativa –
deixo uma apologia esperançosa de paz que nasce do diálogo pautado no respeito
e que aqui assume a forma de uma exortação que não é minha, mas a qual passei a refletir racionalmente: "Sê Sândalo; perfuma até o machado
que te fere".
No
cultivo dos valores que são a todos supremos a solução pacífica para uma convivência
harmônica de antagônicas maneiras de pensar e conceber o gênero humano na
pluralidade de sua diversidade, o que excede a isso não pertence ao gênero humano
e renuncia a condição de humano quem ignora esta máxima, sobremaneira racional-emotiva.
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