Como os poetas que já cantaram,
e que já ninguém mais escuta,
eu sou também a sombra vaga
de alguma interminável música.
Com estas palavras do gênio poético de Cecília Meireles, quero
oficiar as despedidas inerentes a este dia - derradeiro do ano. De fato, todo
final de ano possui, no mais das vezes, sob a ótica da coletividade, uma gama
emocional em que saudade, esperança, ansiedade e expectativa causam um
sentimento difícil de ser explicado com palavras.
Os poetas já cantaram; os dias já se passaram e as noites também;
as alegrias já floresceram, outras tantas já murcharam e há aquelas que
perduram como se fossem uma eterna primavera enquanto o ano vai dando seus
últimos acenos. Por educação, entendo que deve haver recíproca nos acenos,
afinal o ano que passa ofertou, generosamente, dias que foram vividos conforme
o alvitre das circunstâncias dos propósitos de cada pessoa e das forças
empregadas para fazê-los reais.
A realidade estruturada durante o ano que finda é resultado das
escolhas feitas a todo instante, dia após dia. Portanto, não parece responsável
classificar o ano como bom ou mal, alegre ou triste, responsabilizando-o por
atos nossos. Exatamente, por isso, ele não é igual a todos, embora a todos
disponibilize igual quantitativo de dias, horas, minutos e segundos.
A luz do entendimento aqui defendido, não convém dizer “adeus ano
velho”. Há pessoas a cujo respeito a passagem de ano em nada influirá: seja
porque neles a mesmice estagnante e inconsciente fará do ano que se
aproxima pura velhice; seja porque nele a diversidade criativa e consciente que
preserva, permitindo-se inovar, descobrirá e se fará arquiteta da novidade,
fazendo do novo uma construção diária e constante.
Em uns o conhecimento de causa sobre o que pode vir a ser o velho
e abundante e constante; em outros a abundância e a constância de conhecimento
é sobre o novo, porém existem também aqueles que experimentando o velho
caminham paro o novo e vice-versa e desta constatação para resposta da
indagação sobre qual o caminho correto, dou as mãos a São José de Anchieta para
dizer "o caminho se faz ao caminhar".
Para alguns a passagem de ano não simbolizará a passagem de um
estado de velhice para um estado de novidade, mas tão só a transposição de um
dia a mais de uma contínua novidade. Sejamos a interminável música, cheia de
novidade, repleta de luz.
A sombra será sempre resultado de posturas covardes; embora vagos,
tenhamos a coragem de iluminar, porque a luz, em si mesma, não possui sombras
nem se permite sombrear, crepita em estado gracioso, o qual não é velho e nem
novo.
A todos, até mesmo ao instante que respira-se, Luminosidades e à
passagem de ano, Graciosidade. Com Cecília Meireles que cantou, e ainda hoje se
faz escutar, concluo com cânticos, afinal o canto é bem maior que a razão:
Faze a tua palavra perfeita.
Dize somente coisas eternas.
Vive em todos os tempos
Pela tua voz.
Sê o que o ouvido nunca esquece.
Repete-te para sempre.
Em todos os corações.
em todos os mundos.
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