quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

SAUDAÇÃO AO ANO QUE PASSA

Como os poetas que já cantaram,
e que já ninguém mais escuta,
eu sou também a sombra vaga
de alguma interminável música.

Com estas palavras do gênio poético de Cecília Meireles, quero oficiar as despedidas inerentes a este dia - derradeiro do ano. De fato, todo final de ano possui, no mais das vezes, sob a ótica da coletividade, uma gama emocional em que saudade, esperança, ansiedade e expectativa causam um sentimento difícil de ser explicado com palavras.
Os poetas já cantaram; os dias já se passaram e as noites também; as alegrias já floresceram, outras tantas já murcharam e há aquelas que perduram como se fossem uma eterna primavera enquanto o ano vai dando seus últimos acenos. Por educação, entendo que deve haver recíproca nos acenos, afinal o ano que passa ofertou, generosamente, dias que foram vividos conforme o alvitre das circunstâncias dos propósitos de cada pessoa e das forças empregadas para fazê-los reais.
A realidade estruturada durante o ano que finda é resultado das escolhas feitas a todo instante, dia após dia. Portanto, não parece responsável classificar o ano como bom ou mal, alegre ou triste, responsabilizando-o por atos nossos. Exatamente, por isso, ele não é igual a todos, embora a todos disponibilize igual quantitativo de dias, horas, minutos e segundos.
A luz do entendimento aqui defendido, não convém dizer “adeus ano velho”. Há pessoas a cujo respeito a passagem de ano em nada influirá: seja porque neles a mesmice estagnante e inconsciente fará do ano que se aproxima pura velhice; seja porque nele a diversidade criativa e consciente que preserva, permitindo-se inovar, descobrirá e se fará arquiteta da novidade, fazendo do novo uma construção diária e constante.
Em uns o conhecimento de causa sobre o que pode vir a ser o velho e abundante e constante; em outros a abundância e a constância de conhecimento é sobre o novo, porém existem também aqueles que experimentando o velho caminham paro o novo e vice-versa e desta constatação para resposta da indagação sobre qual o caminho correto, dou as mãos a São José de Anchieta para dizer "o caminho se faz ao caminhar".
Para alguns a passagem de ano não simbolizará a passagem de um estado de velhice para um estado de novidade, mas tão só a transposição de um dia a mais de uma contínua novidade. Sejamos a interminável música, cheia de novidade, repleta de luz.
A sombra será sempre resultado de posturas covardes; embora vagos, tenhamos a coragem de iluminar, porque a luz, em si mesma, não possui sombras nem se permite sombrear, crepita em estado gracioso, o qual não é velho e nem novo.
A todos, até mesmo ao instante que respira-se, Luminosidades e à passagem de ano, Graciosidade. Com Cecília Meireles que cantou, e ainda hoje se faz escutar, concluo com cânticos, afinal o canto é bem maior que a razão:

Faze a tua palavra perfeita. 
Dize somente coisas eternas. 
Vive em todos os tempos 
Pela tua voz. 
Sê o que o ouvido nunca esquece. 
Repete-te para sempre. 
Em todos os corações. 
em todos os mundos.
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