sábado, 14 de novembro de 2015

O BEM VIVER

A vida bem vivida é um bem cuja grandiosidade reside na ausência de grandeza, em se tratando dos padrões de acumulação, haja vista a impossibilidade do “bem viver” coadunar com a ideia de “armazenamento”, pois esta permite aglomerar, tanto o bom como mal, ao longo de reiterados dias.
Saudade sim, sentimento sublime, abraça a noção de armazenamento e o faz de modo benéfico porque armazena somente bondades e nisso repousa o seu valor, por assim dizer, transcendental. Destarte é que nunca se ouviu dizer que alguém sinta saudade do que lhe causa sofrimento, dor ou algum malefício e um viver sem nenhuma fagulha de saudade é grave diagnóstico de uma vida mal vivida.
Portanto, cada dia a sua vez é uma vida e em cada dia, renascer e/ou morrer, um pouco, é escolha solitária da qual o vivente é supremo senhor, dentro do arbítrio de decidir. 
Ainda que sob a égide de adversidades ou coações que, muitas vezes, tolhem a vontade, mesmo assim renascer e morrer é uma escolha diária que, de modo involuntário talvez, se processa nas aspirações que as subjetividades engendram no ideário de vida de cada pessoa.
É possível sofrer pressões externas emergentes das mais variadas situações, contudo os anseios d’alma são indiferentes a tanto, encontram-se em um patamar elevado, protegidos pela berlinda da esperança que em seus suspiros profundos chancelam a possibilidade de sonhar. 
Sonhar é o sublime penhor de viver. Quem não traz no peito uma utopia está gravemente doente e sequer deu-se conta de seu estado moribundo, no qual se processa a putrefação espiritual que engendra o perecimento da matéria que, pela sua própria natureza, já é perecível.
O espírito, imperecível por essência, quando entra em estado de putrefação, a míngua de ilusões, envenena-se com desilusões. Porém sonhar não é se iludir. Um sonho é uma enseada no mar das possibilidades do ideário criativo que habita todo ser humano.
Quando sonhamos nos libertamos das pressões e das amarras próprias das dimensões de nossas limitações e ao desprendimento do torpor do sono, a vastidão do subconsciente, reino do invisível onde o impossível não tem prestígio tampouco existência, tudo se cria e recria, inventa e reinventa.
Há quem sonhe acordado e nisso nada há de mal se o sonhador, imbuído e embebido, de auroras se predispõe a contemplar o sol para depois concebê-lo em si de modo inteligente e com sabedoria.
Uma diferença é clara: vida é o milagre das possibilidades que se oportunizam; a oportunidade é um estado criativo que pertence ao momento; viver é o coletivo de vida; vivente é o administrador e promotor desta coleção.
A vida bem vivida é uma consequência natural, um desdobramento contínuo da compreensão da diferença integrativa existente entre vida, oportunidade, viver e vivente e da disponibilidade e compromisso deste último em protagonizar seu papel de modo dinâmico, consciente e consistente.
             O mais é pura vivência: Vida + Experiência; Vida + Consciência; Vida + consequência. A vida é o enigma de ser, então sejamos, apenas sejamos, pois o “ser” pertence ao momento e ele é todo oportunidades.
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