A vida bem
vivida é um bem cuja grandiosidade reside na ausência de grandeza, em se
tratando dos padrões de acumulação, haja vista a impossibilidade do “bem viver”
coadunar com a ideia de “armazenamento”, pois esta permite aglomerar, tanto o
bom como mal, ao longo de reiterados dias.
Saudade sim, sentimento sublime, abraça
a noção de armazenamento e o faz de modo benéfico porque armazena somente
bondades e nisso repousa o seu valor, por assim dizer, transcendental. Destarte
é que nunca se ouviu dizer que alguém sinta saudade do que lhe causa
sofrimento, dor ou algum malefício e um viver sem nenhuma fagulha de saudade é
grave diagnóstico de uma vida mal vivida.
Portanto, cada dia a sua vez é uma vida
e em cada dia, renascer e/ou morrer, um pouco, é escolha solitária da qual o
vivente é supremo senhor, dentro do arbítrio de decidir.
Ainda que sob a égide de adversidades ou
coações que, muitas vezes, tolhem a vontade, mesmo assim renascer e morrer é
uma escolha diária que, de modo involuntário talvez, se processa nas aspirações
que as subjetividades engendram no ideário de vida de cada pessoa.
É possível sofrer pressões externas
emergentes das mais variadas situações, contudo os anseios d’alma são
indiferentes a tanto, encontram-se em um patamar elevado, protegidos pela
berlinda da esperança que em seus suspiros profundos chancelam a possibilidade
de sonhar.
Sonhar é o sublime penhor de viver. Quem
não traz no peito uma utopia está gravemente doente e sequer deu-se conta de
seu estado moribundo, no qual se processa a putrefação espiritual que engendra
o perecimento da matéria que, pela sua própria natureza, já é perecível.
O espírito, imperecível por essência,
quando entra em estado de putrefação, a míngua de ilusões, envenena-se com
desilusões. Porém sonhar não é se iludir. Um sonho é uma enseada no mar
das possibilidades do ideário criativo que habita todo ser humano.
Quando sonhamos nos libertamos das
pressões e das amarras próprias das dimensões de nossas limitações e ao
desprendimento do torpor do sono, a vastidão do subconsciente, reino do
invisível onde o impossível não tem prestígio tampouco existência, tudo se cria
e recria, inventa e reinventa.
Há quem sonhe acordado e nisso nada há
de mal se o sonhador, imbuído e embebido, de auroras se predispõe a contemplar
o sol para depois concebê-lo em si de modo inteligente e com sabedoria.
Uma diferença é clara: vida é o milagre
das possibilidades que se oportunizam; a oportunidade é um estado criativo que
pertence ao momento; viver é o coletivo de vida; vivente é o
administrador e promotor desta coleção.
A vida bem
vivida é uma consequência natural, um desdobramento contínuo da compreensão da
diferença integrativa existente entre vida, oportunidade, viver e vivente e da
disponibilidade e compromisso deste último em protagonizar seu papel de modo
dinâmico, consciente e consistente.
O mais é pura
vivência: Vida + Experiência; Vida + Consciência; Vida + consequência. A vida é
o enigma de ser, então sejamos, apenas sejamos, pois o “ser” pertence ao
momento e ele é todo oportunidades.
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