Pe. Geraldo Lima Silva
Pinheiro-MA
* 04/01/1934 + 14/06/2015
Ao
anúncio do súbito falecimento do querido padre Geraldo Lima Silva, o céu azul
anil pinheirense vestiu-se com aquele cinza pesaroso e chorou, precipitou sua
imensidão em chuva torrencial que, como que num soluçar de dor, ia e vinha com
intermitência; os sinos da Catedral choraram; o sol, como que num gesto de
solidariedade, recolheu-se de forma amena; por todo lado a brisa fagueira
soprou velozmente espalhando a notícia, causando um furação de tristeza.
Como
definir Pe. Geraldo em uma palavra? Para mim, particularmente, a mais
adequada seria amigo e digo seria porque, neste momento de separação, seu nome se traduz em sinônimo de saudade que já começa a se fazer imensa, como
as águas do Pericumã a inundar os campos de Pinheiro. Dele nunca se viu no
rosto a sombra de cansaço. Como coroinha, convivi com ele de perto e dou testemunho
do que vi: era ele quem acordava o sol para rezar a missa; aos domingos fazia
uma verdadeira maratona para celebrar cinco missas e ainda fazer desobrigas
onde promovia uma média de dez batizados na zona rural.
Das
6:30h – hora da missa dominical matinal na Catedral antigamente – apenas as 15h,
quando voltávamos das desobrigas, famintos, ele descansava e bem rápido; as 17h
voltava a celebrar missa, a qual seguida de outra as 19:30h: desdobrava-se em
quantos fossem necessários para que Deus fosse louvado. Nele ganhou vida a
inscrição que principia a fachada da Matriz de Santo Inácio: tudo para a maior
glória de Deus. Sacerdote, poliglota, professor, músico e poeta: ao passar pela
Catedral deixou-a com os afrescos que tanto a embelezam; proferiu homilias
fecundas e edificantes, cheias de uma sofisticada simplicidade; e, compôs dois
hinos em louvor a Santo Inácio, um mais belo que o outro, tanto na letra como
na melodia.
Quando
deixou a administração da Catedral, os paroquianos renderam-lhe uma justa
homenagem, impregnada de gratidão pelo trabalho desenvolvido. Naquela ocasião
ele emocionou-se e até chorou, mas logo em seguida, para não ficar refém da
emoção, fez desabrochar sorrisos nos lábios de todos; disse cheio de bom humor,
em meio a risos, naquela sua voz grave inconfundível: eu pensei que eu tivesse
morrido, porque ouvi tantas coisas bonitas e geralmente só se diz essas coisas quando
alguém morre.
Agora
aquele vigor intrépido e a sonoridade do timbre daquela voz firme e vibrante que
animava nossas procissões são silenciados pela lápide fria que tombará o corpo
desprovido de vida; a sua existência começa a se diluir no oceano sem fim da centelha daquela Eternidade que se celebra em cada missa. Doravante habitará o invisível,
porém tornou-se inesquecível; continuará na corporeidade do pulsar dos
corações que cativou e que agora se abrem como sacrários para guardar-lhe a
memória, o sorriso, o olhar, a voz e a canção.
Na
efusão da emoção que floresce ao clarão da vela silenciosa que se consome; aqueles
sentimentos caros que emergem do âmago d’alma – por não poderem ser
transmitidos em palavras – fazem fechar os olhos para enxergar-se através da fé; cintilam na lembrança as homilias onde dizia que santo é
todo aquele que faz a vontade de Deus. Então, com os olhos da fé, vejo seu
irmão Pe. Almir, na porta do céu, juntamente com São Pedro a dar-lhe as boas
vindas, bem como Cristo pressuroso, com uma batuta, para incumbir-lhe de reger,
ensaiar e dar o tom ao coro dos anjos que cantam louvares a Virgem Maria que lhe abre os braços e sorri.
Deus
te chamou, ele te acolha meu amigo. E já que santo é todo aquele que faz a
vontade de Deus, a sinceridade de minha amizade hoje te canoniza: São Geraldo de Pinheiro;
rogai por nós!
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