segunda-feira, 15 de junho de 2015

PADRE GERALDO: UMA SAUDADE PERFUMADA DE LUZ


Pe. Geraldo Lima Silva
   Pinheiro-MA
* 04/01/1934  + 14/06/2015

Ao anúncio do súbito falecimento do querido padre Geraldo Lima Silva, o céu azul anil pinheirense vestiu-se com aquele cinza pesaroso e chorou, precipitou sua imensidão em chuva torrencial que, como que num soluçar de dor, ia e vinha com intermitência; os sinos da Catedral choraram; o sol, como que num gesto de solidariedade, recolheu-se de forma amena; por todo lado a brisa fagueira soprou velozmente espalhando a notícia, causando um furação de tristeza.

Como definir Pe. Geraldo em uma palavra? Para mim, particularmente, a mais adequada seria amigo e digo seria porque, neste momento de separação, seu nome se traduz em sinônimo de saudade que já começa a se fazer imensa, como as águas do Pericumã a inundar os campos de Pinheiro. Dele nunca se viu no rosto a sombra de cansaço. Como coroinha, convivi com ele de perto e dou testemunho do que vi: era ele quem acordava o sol para rezar a missa; aos domingos fazia uma verdadeira maratona para celebrar cinco missas e ainda fazer desobrigas onde promovia uma média de dez batizados na zona rural.

Das 6:30h – hora da missa dominical matinal na Catedral antigamente  apenas as 15h, quando voltávamos das desobrigas, famintos, ele descansava e bem rápido; as 17h voltava a celebrar missa, a qual seguida de outra as 19:30h: desdobrava-se em quantos fossem necessários para que Deus fosse louvado. Nele ganhou vida a inscrição que principia a fachada da Matriz de Santo Inácio: tudo para a maior glória de Deus. Sacerdote, poliglota, professor, músico e poeta: ao passar pela Catedral deixou-a com os afrescos que tanto a embelezam; proferiu homilias fecundas e edificantes, cheias de uma sofisticada simplicidade; e, compôs dois hinos em louvor a Santo Inácio, um mais belo que o outro, tanto na letra como na melodia.

Quando deixou a administração da Catedral, os paroquianos renderam-lhe uma justa homenagem, impregnada de gratidão pelo trabalho desenvolvido. Naquela ocasião ele emocionou-se e até chorou, mas logo em seguida, para não ficar refém da emoção, fez desabrochar sorrisos nos lábios de todos; disse cheio de bom humor, em meio a risos, naquela sua voz grave inconfundível: eu pensei que eu tivesse morrido, porque ouvi tantas coisas bonitas e geralmente só se diz essas coisas quando alguém morre.

Agora aquele vigor intrépido e a sonoridade do timbre daquela voz firme e vibrante que animava nossas procissões são silenciados pela lápide fria que tombará o corpo desprovido de vida; a sua existência começa a se diluir no oceano sem fim da centelha daquela Eternidade que se celebra em cada missa. Doravante habitará o invisível, porém tornou-se inesquecível; continuará na corporeidade do pulsar dos corações que cativou e que agora se abrem como sacrários para guardar-lhe a memória, o sorriso, o olhar, a voz e a canção.

Na efusão da emoção que floresce ao clarão da vela silenciosa que se consome; aqueles sentimentos caros que emergem do âmago d’alma – por não poderem ser transmitidos em palavras – fazem fechar os olhos para enxergar-se através da fé; cintilam na lembrança as homilias onde dizia que santo é todo aquele que faz a vontade de Deus. Então, com os olhos da fé, vejo seu irmão Pe. Almir, na porta do céu, juntamente com São Pedro a dar-lhe as boas vindas, bem como Cristo pressuroso, com uma batuta, para incumbir-lhe de reger, ensaiar e dar o tom ao coro dos anjos que cantam louvares a Virgem Maria que lhe abre os braços e sorri.

Deus te chamou, ele te acolha meu amigo. E já que santo é todo aquele que faz a vontade de Deus, a sinceridade de minha amizade hoje te canoniza: São Geraldo de Pinheiro; rogai por nós!

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