domingo, 26 de abril de 2015

Palavras a um Homem de Palavra.

O número sete, para os iniciados da numerologia e astrologia, tem uma natureza arcana que de certo modo projeta ao infinito. Não sou iniciado em tais áreas e das mesmas tenho conhecimento superficial, motivo pelo qual não discuto se assiste ou não razão a esse modo de pensar. Contudo, reflito nesta data sobre os dois: o número sete e o infinito.

Há sete anos uma pessoa que me é cara foi habitar o infinito. Seu nome, Domingos Esmeraldo de Araújo; seu legado, um censo de retidão e justiça extraordinário associado a uma inteligência incomum de uma simplicidade extrema temperada de severa picardia.

Nascido entre os povoados de Rio da Prata e Palestrina, próximo de Pinheiro-MA, em 21 de fevereiro de 1921, filho de Hipólito Silveira e de dona Inocência Gomes Silveira (parteira de enorme fama), foi criado por seus padrinhos batismais, os quais também lhe deram o sobrenome Araújo. Apesar de ter recebido sobrenome diverso daquele de seus pais biológicos, nunca deixou que os laços sanguíneos se rompessem.

Foi marido de mais de duas mulheres e pai de aproximadamente vinte filhos. Como do seu primeiro relacionamento amoroso os filhos nascidos foram registrados sem qualquer menção a seu nome, na qualidade de pai, a todos os demais filhos também não registrou. Ruindade? Não. Apenas um censo de justiça segundo o qual se registrasse os últimos não seria justo com os primeiros.

Assim, justifica-se o fato de que no meu registro de nascimento não consta nome de avô materno. Contudo, com ele convivi, tive experiências fantásticas como pescar; passar dias em seu sítio, ver todo o processo da fabricação da farinha desde o plantio da mandioca até o beneficiamento da mesma na casa do forno; extrair guarimã; preparar e tomar vinho de buriti e murici; apanhar perdizes entre outras experiências que só se vive e sente no campo.

Foi-se o homem, ficou o nome. Assim falou alguém no cemitério Santo Inácio a hora que o sepulcro era fechado. Ficou o nome e nele impregnado a solidez  do infinito de um sentimento bom. Dele não se pode dizer que fosse dado a externar manifestações públicas de carinho ou afetos, embora de fato nutrisse enorme estima pelos seus. Porém era deveras respeitador e gentil no tratar sem jamais renunciar a sua personalidade bem definida e consistente: seu sim era sim, seu não era não, não havia meio termo quando era preciso dizer e definir o certo do errado, só é pena que fazia com muita severidade, mas fazer o que?! Toda rosa tem espinhos.

Enfim... O tempo passou, ontem era presente e hoje só o infinito e o rastro luminoso das virtudes vivenciadas que relativizam a austeridade da severidade com a lembrança risonha do exemplo de justiça, retidão, inteligência. Vigor fenomenal e virilidade que o tornaram “um homem de palavra”.

A este homem de palavra, uma palavra, no plural – como eram suas virtudes: saudades.

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