O decurso do ano de 2015 está propiciando
momentos singulares, de encanto e deslumbramento, que fazem muitos fixarem a
visão ao firmamento e não é pra menos, afinal os protagonistas são os corpos
celestes.
No anoitecer do dia 30 de junho os
planetas Vênus e Júpiter se alinharam numa espécie de bailado cósmico que,
segundo os iniciados na astrologia, é resultado da órbita dos aludidos
planetas, fato que proporcionou a aproximação dos mesmos na última semana. Com
efeito, o acontecimento pode ser visto com facilidade, pois ocorreu de maneira
tal que dispensou a utilização de aparelhos como, por exemplo, binóculos.
O mês de Julho, por sua vez, já começou
sob os auspícios de uma lua cheia que desponta logo no primeiro dia do mês, com
a particularidade que também será a lua cheia quem
fechara o mês, contudo com mais encanto e beleza do que iniciara, haja vista no
dia 31 de julho está previsto um fenômeno lunar excepcional, assim como o é o
fato de um mês possuir duas luas cheias.
Aos acontecimentos que sucedem no plano da
visibilidade da existência humana, a notoriedade é pertinaz em sublinhar os
antagonismos e antônimos: Alfa e Ômega; início e fim, etc. De certo modo, este
destaque que em principio seria um sublinhar, transubstancia-se, em algumas
ocasiões, em um "sublimar" quando à invisibilidade é permitido
desfilar o colorido de seus matizes.
Com especial sutileza e encanto aquela
lucubração, contemplativa, amealha dimensões e parâmetros antagônicos que se fazem
visíveis e perceptíveis, na polarização que define o mês de julho de 2015,
assinalada pela ocorrência de duas luas cheias que prometem ser,
sucessivamente, uma mais linda que a outra.
A notoriedade visita o início de julho e
também visitará o seu final – ao menos as ciências astrológicas prevêem – com a
lua cheia, sendo que na segunda ocasião ocorrerá um fenômeno astrológico que
deixará o luar com um brilho e uma proporção diferente do que hodiernamente lhe
é peculiar e a diferença é para mais, não para menos.
Neste ínterim, a contemplação faz
florescer uma lição: a expectativa – primogênita da notoriedade – impregna nos
sentidos e na imaginação uma ansiedade que, quando mal administrada, resulta em
decepção que compromete o antes, o durante e o depois.
A decepção torna sem sentido o tempo
empregado na espera; torna desolador o durante e deixa ao depois, por legado, a
desilusão, em toda potencialidade de seu amargor. Tomando Julho por espectro ou
mesmo álibi da quimera de existir, a constatação de que o tempo sempre ratifica
o que merece sê-lo, impele no ser o inarredável compromisso de evolução, a qual
não se confunde com progresso, mas antes se traduz na sinonímia do desejo e da
busca da perfeição – como o luar de julho, desponta belo e caminha na senda que
deságua no aperfeiçoamento dessa beleza.
É em razão dessa evolução que os bons
sempre são lembrados; cintilam na escuridão, fulgurantes da imortalidade que
sopra a poeira do esquecimento com a delicadeza de quem cultiva violetas e, com
a impetuosidade do mar bravio, propaga suas lembranças na serenidade peculiar
de um porto seguro.
A perfeição
da condição humana é a benignidade, sobremaneira aquela que ocorre em mínimas
proporções; é que o universo na sua grandiosidade e magnitude se compõe de
minúsculas moléculas. As estrelas, por exemplo, que na visão humana aparentem
ser pequeninas, em verdade são bem maiores, inclusive na essência - e
essência faz magnas as coisas: sutileza singela que intriga e descortina
em amplidão, o restrito e a imensidão da vastidão cósmica do universo.
A vista
destas lucubrações que se me assaltam neste primeiro de julho, não posso, de
maneira alguma, olhando a lua e o transcurso do dia, não recordar meu avô
paterno, Júlio Alves, homem centenário que vivia embarcado, homem do mar, porém
com pé na terra firme e amante do luar, esse mesmo luar que lembra dias idos e
que rebrilha saudade.
Completaria
meu avô paterno 106 anos, se vivo fosse, contudo foi habitar o insondável em
agosto de 2010, abandonando a visibilidade para revestir-se do invisível no
qual sua lembrança cintila para mim de maneira especial, assim como este luar
de julho, protagonizado pela sutileza da lua que ele ensinou-me apreciar e que
tantas vezes foi por ele contemplada, refletida nas águas da baia de São
Marcos.
Então um
valor maior se levanta; é a consideração que independe de laços sanguineos, mas
que de modo algum os despreza. Considerar é saber valorizar e valorizar e ter
consciência do valor que as coisas possuem, exatamente por isso, já ensina a
sabedoria popular que "pelo santo se beija o altar".
Ao clarão do
luar, portanto, a luminosidade sugere muito mais que claridade, sugere a
necessidade de cada pessoa, a exemplo da lua, administrar as fazes de sua
existência de maneira a obter seu próprio clarão – visível e intangível –
a fim de que quando o insondável se fizer invisível e nós partículas dele, a
notoriedade não seja algo polarizado, porém linear e com a constância de uma
evolução, oficiada pela benignidade, a promover uma maré de luz e
o invisível congregado em poesia, canto e imensidão que ultrapassa os
domínios da notoriedade para valsar com a eternidade ao luminoso som do
inesquecível.
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