terça-feira, 9 de junho de 2015

PARADA GAY: APOSTASIAS E APOLOGIAS A DIGNIDADE HUMANA


O que caracteriza o gênero humano? A priori esta pode parecer uma pergunta retórica, todavia não é e para respondê-la, tentarei demonstrar a grandeza desse gênero analisando, na diversidade da pluralidade inerente ao gênero, aquilo que é comum a tudo e a todos. Portanto, independentemente de diferenças de credo, sexo, ideologia, raça, posição socio-econômica e cultura, etc., é fato que alguns valores não se esgotam em apenas um destes segmentos e aqueles que são presentes em todos revestem-se, por isso mesmo, de uma magnanimidade que os torna supremos.

A emoção e a razão polarizam, não há duvidas, a medida que baliza a mensuração daquilo que é magno, ou seja essencial; supremo em todas as áreas da atuação humana, na qual coexiste a dicotomia secular: bem e mal, certo e errado, verdadeiro e falso, luz e treva, e assim por diante. Em todos os segmentos humanos se encontram essas realidades antagônicas, as quais representam entraves  o que não significa dizer que não possam ser superados   a plenitude da sublimação do gênero humano, cuja grandeza perpassa a racionalidade, urbanidade, fraternidade, consideração e a empatia pautada no respeito e na dignidade presente na singularidade de cada pessoa, seja ela homossexual ou heterossexual: em todos há sentimentos.

Contudo, com tristeza deveras imensa assisti e tomei conhecimento de atitudes, extremamente desrespeitosa, de ativistas e simpatizantes do movimento GLBT que, em marcha denominada “Parada Gay” promoveram no último domingo, 07/06/2015, na cidade de São Paulo-SP, uma manifestação na qual sobressaiu o desrespeito para com a religiosidade cristã, com vilipêndio e quebra de imagens que remetem os mais caros simbolismos e sentimentos da fé cristã. 

Imagens da Virgem Maria foram quebradas, crucifixos foram utilizados para tapar órgãos genitais e, em alguns casos, introduzidos no ânus por alguns participantes. Representações de Jesus crucificado em situações que insinuavam que o mesmo era homossexual, inclusive com beijo na boca. Enfim, embora tais acontecimentos impressionem pelo deboche que se impregna nos atos, em nítida afronta a Igreja Católica e a segmentos religiosos protestantes/evangélicos, não é de hoje que a “Parada Gay” da cidade de São Paulo inova em práticas tão reprováveis.

Atribuo o adjetivo reprovável, não porque eu tenha formação cristã, mas porque na conduta que zomba daquilo que para outrem possui um valor e um significado imaterial (embora representado simbolicamente através da materialidade de imagens e ícones) e, por isso mesmo, especial, rebrilha a mediocridade que não se coaduna com a grandeza do Ser Humano, o qual dotado de emoção, intelecto e racionalidade capaz de elevá-lo dos demais seres do planeta.

Quem quer ter suas convicções respeitadas deve respeitar as alheias e quando estas não lhes forem ou parecerem agradáveis, deve ter o necessário discernimento e inteligência para fazer valer suas convicções não pela força, ou pelo menosprezo pautado na zombaria desqualificada de bom censo, na vã ilusão de diminuir o que lhe é contrário. Afinal, pessoas até podem ser mortas, exterminadas, se calarem; contudo as ideias e as convicções que carregam jamais, elas pertencem ao campo do imaterial, logo do intangível, motivo pelo qual o uso da força e da zombaria apenas revelam a pobreza de espírito e a fraqueza moral e intelectual de quem as impunha.

O deboche e o desrespeitoso modo como alguns manifestantes portaram-se durante a Parada Gay, eu diria ser mais um ato irracional e, portanto, impensado. Jamais será uma conduta revolucionária de um movimento forte que se levanta sob a chancela de uma utópica luta por direitos e pela não discriminação e, por isso mesmo, tende a permanecer no campo da utopia, a intermináveis léguas de distância de se tornar a realidade aspirada.

É preciso utilizar a racionalidade de modo inteligente e a inteligência de modo criativo, dentro dos limites do mais austero e extremo respeito ao pensamento divergente, primando pela diplomacia na exposição de suas convicções, pois com mais eficácia tem sua ideologia abraçada pelos demais quem a expõe através de argumentos e não pela força, ou a pejorativa difamação do que lhe é contrário. Quem assim não age, não só não respeita, como também não se dá o respeito e, no apagar das luzes, é quem menos tem razão de reclamar ou reivindicar qualquer tipo de tratamento respeitoso, pois é a essência que faz magnas as coisas e somente as coisas magnas – portanto caras – inspiram respeito.

A Igreja Católica e as Igrejas Protestantes – a verdade é essa – se dão respeito e, seja esta a razão pela qual, uma vez afrontadas, ou mesmo ridicularizadas em suas ideias, através de atos de zombaria e grosseria que emergem de uma violência moral... Sem esforço algum, despertam a SOLIDARIEDADE de muitos, solidariedade esta que falta a comunidade GLBT por culpa exclusiva de alguns de seus integrantes revoltosos que ainda não souberam canalizar essa revolta em um protesto cívico e acima de tudo inteligente e tolerante ao pensamento contrário. Não por menos, penso que seja esta a resposta, repito, para que as metas pretendidas pelos GLBT’s ainda permaneçam apenas no campo da utopia.

Não sou “homofóbico”, tampouco sou “cristofóbico” e aqui falo de modo imparcial, sem fazer nenhuma apologia ou apostasia as Igrejas Católica e Protestante (embora seja cristão por fé e convicção), tampouco ao movimento GLBT. Levanto a bandeira da tolerância e desfraldo o estandarte da liberdade de expressão dentro dos limites da prudência e do mais austero e extremo respeito ao pensamento divergente, assente na necessidade de utilização racional dos argumentos e do embate de ideias no plano da urbanidade, com o nítido propósito de apenas expor suas convicções: o tempo sempre se encarrega de ratificar as proposições que merecem sê-las.

Consigno que em momento algum tomei partido para dizer que a razão está com uma ou outra forma de pensar, apenas não compactuo com a forma como as ideias do movimento GLBT foram defendidas, posto que a defesa implicou proposital desrespeito ao pensamento divergente, o qual levado a efeito da forma mais reprovável possível.

E para finalizar esta sutil reflexão penso que melhor maneira é expressamente renunciar a toda apostasia – desde a mais violenta até a mais branda – da grandeza da dignidade do gênero humano, fazendo-se, para tanto, da apologia desta grandeza um sacerdócio intrépido e impávido que não se cale aos brados irracionais de toda e qualquer apostasia da dignidade humana, com a convicção e a emoção de que, o silêncio que ignora, também tem o timbre capaz de suplantar a acústica de uma conduta reprovável, mediante o desprezo.

A terra, insultada, vinga-se dando-se flores (Tagore). Entretanto, sendo vingança um sentimento medíocre, encerro esta apologia com uma história sobre o Sândalo: as árvores quanto mais grossas em seus caules ficam mais resistentes a investidas de machados, contudo essa dureza não lhes permite produzir essências aromáticas duradouras e abundantes; aquelas de perfume mais suaves são, consequentemente, aquelas com o caule mais maleável que, exatamente por isso, produzem em maior escala a seiva que serve de substrato aos aromas e dentre elas destaca-se o sândalo; ocorre que por possuir bastante seiva e muito fácil derrubá-lo a golpes de machado, o qual sem encontrar no caule aquela dureza própria das arvores com pouca seiva, não tem sua lamina comprometida no atrito.

Isto quer dizer apenas uma coisa: machado que derruba um Sândalo nunca sai vitorioso, pois para a proporção da violência do golpe que desfere, concorre o Sândalo exatamente com a liberação pródiga e generosíssima da seiva perfuma que exala a cada golpe, impregnando na lamina de tal modo que o machado conserva em si, por onde for, a suavidade daquele aroma cuja investida tentou ceifar.

Portanto, a ambas as partes envolvidas no embate, do qual estou certo, restaram consequências chagadas de revolta para ambos os lados – afinal é grotesco engano fazer apostasia, ainda que sutil, da dignidade humana, qualquer que seja o motivo ou justificativa – deixo uma apologia esperançosa de paz que nasce do diálogo pautado no respeito e que aqui assume a forma de uma exortação que não é minha, mas a qual passei a refletir racionalmente: "Sê Sândalo; perfuma até o machado que te fere".

No cultivo dos valores que são a todos supremos a solução pacífica para uma convivência harmônica de antagônicas maneiras de pensar e conceber o gênero humano na pluralidade de sua diversidade, o que excede a isso não pertence ao gênero humano e renuncia a condição de humano quem ignora esta máxima, sobremaneira racional-emotiva.

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