domingo, 31 de maio de 2015

ADEUS DE MAIO

Acabou-se o mês de maio/ que Jesus nos concedeu
Acabou-se o mês de maio/ adeus Nossa Senhora, adeus!

Assim dizia o refrão de uma canção que minha bisavó Cecília Marques cantou para mim, após recitar o Ofício de Nossa Senhora, no fim da tarde de 11 de maio de 2006. Após aproximadamente uma hora de uma gostosa conversa, pedi-lhe a bênção e ela abençoou-me dizendo pela última vez: Deus te abençoe. Nas primeiras horas da noite daquele mesmo dia, o adeus daquela canção ganhou vida e ela deixou, subitamente, esta dimensão corpórea do existir, deixando nos corações dos seus, no meu em particular, profunda tristeza.

Hoje vejo o caminhar do relógio, contemplo o passar das horas e o findar de mais um mês de maio e também digo “adeus Nossa Senhora, adeus!” E dentro em mim floresce uma tristeza, não por minha bisavó, pois hoje Ela é para mim muita saudade, e saudade boa, que não se coaduna com tristeza, mas com conforto que me faz fechar os olhos para enxergá-la na mansidão de seu sorriso fagueiro...

A tristeza é porque constato uma realidade triste na minha terra natal. Pela primeira vez em minha existência, e creio que também seja a primeira vez desde que foi criada a Prelazia de Pinheiro, o tradicional encerramento do mês de maio com a Coroação da imagem da Virgem Maria no dia 31 de maio não ocorre na Igreja Matriz de Santo Inácio de Loyola, Catedral da Diocese de Pinheiro-MA. E então questiono-me: qual seria a razão? O governo paroquial está deixando a Mãe do céu de escanteio?

Neste ano a Solenidade Litúrgica da Santíssima Trindade coincidiu com o dia 31 de maio, festa da Visitação da Virgem Maria a sua Prima Santa Isabel, daí porque as coroações da imagem da Virgem Maria nas igrejas de todo Brasil. A igreja Matriz de Santo Inácio, por ser a Catedral, se reveste de um valor que pede um respeito compatível com sua dignidade, pelo que o fim de maio sem a tradicional coroação – e a Igreja valoriza as tradições – soa desleixo, ao menos para mim, o que não significa dizer que minha impressão esteja correta.

A bem da Verdade preciso consignar aqui, o fato da Coroação da Virgem Maria ter ocorrido no domingo passado, dia 24 de maio, coincidindo a data com a Solenidade de Pentecostes, ocasião em que a cerimônia realizou-se de modo todo belo. A justificativa para a antecipação da cerimônia: a ordenação dos primeiros quatro diáconos permanentes da diocese. Como para a realização da Coroação é montado todo um cenário no Altar-mor da Catedral, com palanques e escadas – devidamente ornamentados com tecidos, tapetes, lâmpadas e flores – onde mais de 30 crianças e adolescentes vestidos de anjo fazem alusão a tão augusto acontecimento no céu, com a realização da coroação no dia 31 de maio, a celebração de ordenação dos diáconos, marcada para o dia 30 (ontem), ficaria prejudicado em razão do espaço do Altar-mor ficar pequeno para acomodar o Bispo com todo o Clero, ao menos foi o que apurei com meus conterrâneos e o que também me parece ser coerente.

Sou católico, procuro ser prudente e compreensivo e não critico apenas por criticar, muito menos para diminuir os outros, contudo a antecipação da Coroação da Virgem Maria na catedral – um espetáculo do ponto de vista artístico e ato sublime de fé – foi medida quase que profana no meu humilde entendimento de leigo pouco esclarecido das ciências teológicas. E ao final fica a indagação: para que foi antecipada a coroação? A cerimônia de ordenação dos diáconos permanentes ocorreu do lado de fora da catedral, em missa campal, na concha acústica da igreja: seria então ocasião para repensar-se a forma e o modo como as atitudes são tomadas no âmbito da paróquia de Santo Inácio de Loyola e mais especificamente na Catedral Pinheirense?

O fato é que na data de hoje quase todas, senão todas as capelas da cidade de Pinheiro e igrejas Matriz da diocese encerram o mês de maio, mês mariano, com este belíssimo ato de fé da Coroação da Imagem da Virgem Maria e a Catedral, igreja mãe, encerra o mês de maio de modo opaco e sem a austeridade inerente a condição da sua dignidade de Igreja Catedral. Então, suspiro fundo e relembro com tristeza a relativização de algumas cerimônias; sou obrigado a contemplar as consequências de tanto e chego a conclusão de que quem sai perdendo sempre nessas relativizações é a fé, que fica cada vez mais vulnerável.

Tempo houve em que a missa do galo era a meia noite na Catedral, foram antecipando o horário da missa ao longo dos anos de forma tal que hoje mal tem a missa (apenas no Fomento Pe. Risso resiste em fazer a missa a meia noite) e a procissão do Menino Jesus, tão piedosa, desde 2004 não ocorre, hoje vive apenas no passado; a cerimônia da Paixão do Senhor que começava as três horas da tarde foi postergada, atualmente se realiza a partir das quatro horas e a procissão do Senhor Morto, essa simplesmente morreu, acabou-se. Agora o encerramento do mês de maio com a Coroação da Virgem Maria foi relativizado, nos resta rezar e pedir a Mãe do Céu que o pior não ocorra e que a coração também não se torne ilustre lembrança exilada no passado.

Não sou intolerante, tampouco ergo a bandeira da intransigência para justificar que as coisas permaneçam da mesma forma per omnia saecula saeculorum. Todavia, a fé que professo, a faço acima de tudo com fé, mas também com convicção; já dizia São João Paulo II, "a fé e a razão são como que duas asas que elevam o pensamento humano", ou seja, uma nunca deverá anular a outra, ambas devem caminhar de mãos dadas, resultando desse convívio o fortalecimento de ambas.


Ao final, consigno aqui meu apreço pela Diocese de Pinheiro, da qual tenho orgulho em pertencer, e o meu profundo respeito ao bispado em comunhão com o bispo de Roma, bem assim a todo o Clero, onde possuo amigos. O importante é que o nome Santíssimo de Jesus seja louvado e a Bem-aventurada Sempre Virgem Maria. Se esta reflexão despertar para esta necessidade constante, não terá sido em vão minhas mal feitas linhas.


Aquilo que é caro deve ser tratado como tal e, sobretudo, aquilo que se consolidou na fé pela tradição, ao menos no meu módico jeito de ver, não pode ser - no todo ou em parte - de improviso, abruptamente desconsiderado. No mais, daqui a pouco já é junho! Maio já está se findando e encerro como comecei, com o refrão de uma tradicional cantiga que minha bisavó apreendeu de sua mãe lá no vale do Cariri, onde o sertanejo - na pobreza de sua instrução - trazia no peito a sabedoria de um coração repleto de fé que os fazia caminhar, até a Igreja da Virgem das Dores no Juazeiro do Norte-CE do Pe. Cícero, para cantar:


Acabou-se o mês de maio/ que Jesus nos concedeu
Acabou-se o mês de maio/ adeus Nossa Senhora, adeus!

SALVE MARIA per omnia saecula saeculorum. Amém.

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P.S: A virgem Maria, sob o título de Senhora do Sagrado Coração, é padroeira da Diocese de Pinheiro-MA.

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