sábado, 26 de novembro de 2011

Emoção

"Amor com amor se paga", já dizia Santa Teresa de Lisieux. "A medida do amor é amar sem medida" ensinava Santo Agostinho.


É o imperativo de um amor que hoje conduz a redação destas linhas que tem no momento presente a essência do perfume que embala as palavras que ora afloram imbuidas da mais autêntica sinceridade desse sentimento sublime, recíproco, incondicional e dessinteressado.

Neste dia até as palavras fogem-me ao tentar descrever este estado de espirito. Assim, tomo a liberdade de deixar de tentar narrar o inenarrável; limito-me a contemplar, ou melhor, recordar.

Quero falar de um amor excelso; excelso, porque possui elos indestrutíveis e mais fortes que os sanguineos. Hoje a bondade em pessoa completa 85 anos e se senti feliz em ter-me ao seu lado e vibra ao saber que eu, se não dispuser o porvir de forma diversa, retornarei para bem perto.

Trata-se de Julieta, minha avó, segundo um amor que transcende a consaguiniedade, cuja mão amiga acompanha-me desde o berço de forma zelosa, como se jóia rara eu fosse. Hoje, no calor de um abraço, esse amor se sublima em um querer bem imenso, como sempre o foi. E se a racionalidade não tem a capacidade de mensurá-lo ou compreendê-lo, a emoção o sabe bem e tudo sintetiza em uma expresão singela, porém sincera e carregada de amor: Parabéns vovó!

domingo, 13 de novembro de 2011

Radiografia poética

"Tântalo"

Conta uma lenda antiga, cuja fama
pelos tempos modernos inda voa,
que lá no inferno, condenado à toa,
de fome e sede Tântalo rebrama.

Junto, corre uma fonte clara e boa.
Perto, um galho de frutas se recama.
Mas, se ele quer comer, se afasta a rama,
e, se tenta beber, a água se escoa.

Tem minha vida e a lenda o mesmo traço,
flagela-me também um vão desejo,
fome e sede incontidas também passo.

Punido como Tântalo me vejo:
Tão perto desse corpo, e não te abraço!
Tão junto dessa boca, e não te beijo!


Esta beleza de poema é de Mata Roma: um dos grandes poetas do Maranhão. Alguns críticos consideram o soneto acima como um dos mais belos da literatura nacional.

José Mata Roma nasceu em Chapadinha-MA e era vaqueiro, contudo ao entrar em contato com as letras delas não mais se apartou, deixando o ofício de vaqueiro para tornar-se exímio professor e imortal da Academia Maranhense de Letras.

Mata Roma era um homem de espirito jovem, mas austero, conforme determinava a sociedade da primeira metade do século passado. Conta-se que esse erudito morria de amores por uma bela jovem, com quem não lhe era lícito casar, entre outras coisas pela diferença de idade entre ambos e pelo fato de que o divórcio não existia e os casamentos só tinham fim através da morte de um dos cônjuges.

Especula-se sobre o fato de Mata Roma ter mantido ou não uma relação amorosa extraconjugal com a jovem. Fato é que, ao que tudo indica, a moça que inspirou o poema Tântalo fosse talvez uma aluna sua, o que naquela epóca tornava ainda mais dificultoso que a sociedade aceitasse um romance entre os dois e, sendo assim, ao poeta cabia apenas sofrer e sofrer, em silêncio, essa angustia de amar e não poder se declarar.

Assim surgiu o soneto Tântalo e, ao menos parece, após esta radiografia poética, a beleza dos versos ganha maior relevo e faz que quem o lê senta e compreenda a angustia existente em cada verso. Se bem verdade que o poeta é um fingidor, como disse Fernando Pessoa em um de seus poemas, não fica dificil compreender porque quando o poeta põe no poema sua experiência própria - deixando o fingimento de lado - o resultado beira o esplêndido.

A amante dos sonhos do poeta soubera o tamanho do bem-querer que este lhe nutria? talvez sim, talvez não. Essa resposta o poeta levou ao túmulo. O certo é que como dizia Camões "o canto é maior que a razão", e que a amante do poeta, ao menos nos devaneios deste, fora talvez uma das mulheres mais amadas de sua epóca, amada com um "fogo que arde e não se vê", nesse "contentamento descontente".

Na minha pequenez, longe de igualar-me a Mata Roma também arrisco meus versos, mas a radiografia deles reservo-me para além túmulo. Que viva o canto e o meu é amoroso e tímido, tão tímido como eu.

"Timidez amorosa".

Quero-te mas não posso ter-te. Não posso...
Pois falta-me coragem para te dizer
Que quero em meus braços o carinho vosso!
Ainda que me fosse a coragem amiga

O hoje não permitiria eu viver
No calor de teus braços, lábios... Seios!
Se é para arriscar-me dizer-te e não ter-te
Como mulher. Prefiro ter-te assim...

Como menina, ou quem sabe amiga
Pois para viver sem o teu sorriso
É melhor desistir antes do fim

Ficar calado em sonhos... Anseios!
Pois neles tenho-te sempre comigo
Até o dia em que olhes para mim!
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domingo, 23 de outubro de 2011

Homenagem a Frei Jose Preziosa


Exatamente há um ano, partiu para o abraço com o Pai, Frei José Preziosa, italiano de nascimento e pinheirense de coração.

A frente do Colégio Pinheirense revolucionou a educação em Pinheiro. Na fé, sempre trazia grande fortaleza com seu inconfundível jeito de ser severo-doce.

Neste dia em que as lembranças trazem a mente aquela noite de sábado em que o céu de Pinheiro ganhou mais uma estrela, homenageio em silêncio esse maestro singular, fazendo-o com uns singelos rabiscos que apelido de soneto, o qual versa sobre aquilo que a fé gradiosa que frei José abraçou proclama: a vida eterna.


Espetáculo.

No teatro da imortalidade
Sobre o palco da existência
Abrem-se as cortinas do infinito
Proclama-se a vida majestade
Surgem atores... Seres benditos
E cantam, vibram, choram... Encenam
Interpretam seu escripte
E quando os holofotes se apagam
Fecham-se as cortinas... Infinito
Saem os atores profissionais
Aos aplausos da nobre platéia.
Entram os coadjuvantes
E assim faz-se espetáculo sem igual
Tornando da vida peça imortal.

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domingo, 2 de outubro de 2011

Anjos da Guarda


A Igreja Católica Romana dedica o segundo dia do mês de outbro à festa dos anjos da guarda. Aqui trago uma oração conhecidíssima sobre os anjos, só que com a versão original em latim e sua respectiva tradução. Penso que as palavras que seguem falam melhor por si só.

Angele Dei,
qui custos es mei,
me, tibi commissum pietate superna,
hodie illúmina, custódi,
rege et gubérna.
Amen.

Santo Anjo do Senhor,
meu zeloso guardador,
se a ti me confiou a piedade divina,
sempre me rege,
me guarda, me governa
me ilumina
Amém.

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LIÇÕES DE TERESA DE LISIEUX


"Perguntas-me um caminho para a perfeição; eu conheço o amor e somente o amor". (Teresa de Lisieux)

Num desses dias primaveris, longe da agitada rotina da cidade francesa de Lisieux, as paredes do Carmelo daquela cidade presenciavam, em meio a atrozes dores de uma tuberculose, o findar de uma vida que mais parecia uma rosa que ainda estava por desabrochar. Passados 114 anos daquele 30 de setembro, ainda hoje o perfume dos dias que antecederam este episódico continua a exalar o exemplo de vida deixado através das pegadas de Maria Francisca, a Santa Teresa de Lisieux ou simplesmente Santa Terezinha como de forma carinhosa, afável e íntima a chama o povo brasileiro.

Oriunda de uma família católica, a carmelita Teresa do Menino Jesus e da Sagrada Face, ainda na infância, com apenas dois anos, manifestou o desejo pela vida religiosa consagrada. Coincidência ou não, todas suas irmãs tornaram-se freiras; seu pai iria ser padre e sua mãe iria ser freira não fosse a recusa que receberam das ordens religiosas que ansiavam integrar, o que foi primordial ao surgimento da jovem supra mencionada.

A jovem francesa nunca fascinou-se em quantidade e grandeza e sim em qualidade e isso é facilmente constatado se ao debruçarmo-nos sobre a pessoa de Teresa, damos à figura juvenil desta “grande criança”, como a chamou Pio XI ao canonizá-la, olhares filosóficos investigativos e não apenas teológicos; se assim procedemos nos deparamos com uma criatura fantástica, um verdadeiro abismo de virtudes, um ser admirável que nos deixa grandes lições por sua vontade de vencer, de realizar seus projetos fazendo de tudo para tanto, inclusive desbravando seus limites.

Teresa sempre foi tímida, mas em seu silêncio revelava toda grandeza de espírito que pode habitar em alguém. Em que pese sua timidez, e aqui fica uma grande lição, sempre soube superá-la quando o que idealizava assim exigia; foi assim que com apenas 15 anos entrou no Carmelo, uma das ordens religiosas mais rígidas de seu tempo, algo sem precedentes que conseguiu, após o recebimento de muitos nãos em face de sua tenra idade, buscando todas as instâncias possíveis para realização de tal anseio até, finalmente, receber do Papa Leão XIII apoio para tanto.

“Foi de amor sua vida um sorriso”, assim diz um verso de uma das estrofes do hino que a igreja católica dedicou a uma de suas mais jovens santas. Aqui fica outra grande lição de Teresa: amar-se o que se faz como pressuposto para uma realização enquanto pessoa, amor este que rendeu-lhe a tuberculose que lhe encurtou os dias em face a forma, por vezes irresponsável, com que se preocupava mais com os outros buscando ser útil do que consigo mesma.

Amante das rosas, pois segundo ela revelavam o poder de seu Deus, tal qual as rosas tinha uma visão aguçada, de forma que no esterco onde todos viam fedentina, enxergava perfume que para ser sentido necessitava apenas de um meio para refinar-se, daí porque ser chamada de “a florzinha gentil do Carmelo”. De fato, transformava suas dores decorrentes da tuberculose em alegria e, ainda que gravemente abatida, por dentro era ríspida consigo mesma e não se permitia deixar transparecer o cansaço, tampouco o pesar do braço de sua enfermidade, ao contrário, ai que procurava ficar mais sorridente visando sempre inebriar os que lhe rodeavam com alegria, qual rosa que açoitada por lufada espalha seu perfume em muitas direções.

Impossível enumerar-se os muitos exemplos deixados por Teresa do Menino Jesus e da Sagrada Face. Que bom seria, e o mundo assim o seria, se as pessoas fossem a exemplo de Teresa, rosas que tendo por instrumento seu cotidiano transformassem “os estercos” que lhes cercam em “perfumes”; que fizessem de seus mais luminosos ideiais “o Carmelo” de seus horizontes e de tudo fizessem para alcançá-lo; que ante as “tuberculoses” do existir não se deixassem abater mesmos quando as circunstâncias não lhes facultarem agir de forma diversa e, como a nobre Santa, tomassem ciência da brevidade da vida e se apressassem em serem úteis aos que lhes cercam através da valorização das pequenas coisas, valorizando cada minuto de vida na certeza de que nas pequenas atitudes, desde que primem pela qualidade, está a felicidade se praticadas com amor, este sentimento tão nobre que pode habitar a criatura humana e que fez esta jovem abdicar de sua juventude e definhar toda formosura da beleza: de seus olhos de um verde profundamente intenso; cabelos loiros; voz suave e qualidades tão altivas como sua estatura em meio aos claustros da clausura carmelita que a tornou felizpor conta de seu amor a tanto. Eis, portanto, o grande ensinamento desta jovem mulher que visto sob o prisma filosófico investigativo, independentemente de credo religioso, é lição de vida e sem dúvida mensagem que esta faculdade dá ao usar tal nome.

Durante os 24 anos em que esteve neste mundo, o silêncio sempre permeou a vida da Santa das Rosas. Ante a época em que vivemos onde os homens buscam sempre serem o foco dos holofotes fica a lição de que o sucesso jamais é atingido e se o é não é de forma perene, se buscado primordialmente; mas sim, e assim o é mais esplendoroso quando surgi como conseqüência de um ideal que é perseguido de forma discreta porém ativa, a prova maior vê-se nesta que foi proclamada doutora da igreja cuja difusão em vida foi seu ideal.

P.S: O corpo de Santa Teresinha foi inumado no cemitério de Lisieux, numa cova rasa, no dia 03/10/1897. Portanto, o funerou durou mais de três dias e em momento algum o corpo da santa (que não foi embalsamado ou coisa do tipo) exalou mal cheiro. Quando da exumação, por ocasião de sua beatificação, na cova foi encontrado apenas alguns poucos fragmentos de seus restos mortais, contudo a medida que as escavações eram feitas enorme odor de rosas exalava da terra revolvida.

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quarta-feira, 21 de setembro de 2011

LEMBRANÇAS EM VERDE MAIOR


Hoje acordei contemplativo em demasia.

Abri a janela de meu Eu para vislumbrar o infinito de meus devaneios incontidos.

Suspirei saudade na brisa feita favônio que me afagou a face.

Tributei louvores ao Criador prestando reverência a criação.

Finalmente resumi tudo em um silencioso contemplar e... Sentado à sombra de uma árvore, fixei o corpo neste plano e com o espírito vaguei em vôos rasos e planos pelas lembranças que outrora à sombra de uma árvore semeei.

De repente planei sobre o céu pinherense de brigadeiro e no pátio da escola José de Anchieta aterrissei exatamente em um dia como este: dia da árvore. O motivo desse nostálgico passeio?! Qualquer coisa de altivo e sublime da sofisticada simplicidade de uma afável cantilena que lá aprendi, observando e acompanhando, no dia da árvore, a diretora, dona Maria do Carmo, cantarolar quando nós, alunos, comemorávamos o dia das árvores plantando-as no pátio do colégio.

Voei mas alto. Visitei as praças de meu Pinheiro e nas sombras das árvores de lá meu espírito sosseguei lembrando a melodia daquele cantarolar. Daquele hino singelo, tão esquecido e, nestes dias de tanto desmatar, conservo em verde vibrante a essência de uma saudade-esperança de ver um verdejante-sol no horizonte despontar!

         Festas das Árvores
        (Arnaldo Barreto)

Cavemos a terra, plantemos nossa árvore,
Que amiga e bondosa ela aqui nos será!
Um dia, ao voltarmos pedindo-lhe abrigo,
ou flores, ou frutos, ou sombras dará!

O céu generoso nos regue esta planta;
o Sol de dezembro lhe dê seu calor;
a terra, que é boa, lhe firme as raízes
e tenham as folhas frescuras e verdor!

Plantemos nossa árvore, que a árvore amiga
seus ramos frondosos aqui abrirá,
Um dia, ao voltarmos, em busca de abrigo,
ou flores, ou frutos ou sombra dará!

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VERSOS EM MEL

  
                         A minha rosa-menina, Adriana Penha, com todo amor
                       de meu bem-querer, no superlativo plural da hipérbole
                       do infinito, na data risonha de seu aniversário.
        
        ROSA - MENINA

Delicadeza guarnecida em espinhos!
Paradoxo que revela sutil cantar...
Ao soar incógnitas feitas caminhos
Das cifras de teu Eu feitas luar
Translúcido em delgado véu de linhos
Mistério em fases de um abismo-mar...
Quimera do ímpeto de adivinhos
Perfume caudaloso do destilar
De pétalas de calmos redemoinhos...
Rosa - Menina... Dogma e sofismar!

Forte sustenido em fragilidade!
Contraste que valsa de infinito...
Fragrância de indócil-suavidade
No sopro de brando-bravo desfolhar
Centelha de eterno... Imenso-restrito...
Essência de fugaz perenidade
Deleite que da brisa é sussurrar
Fascínio de delírio bendito
Menina - Rosa... Rosa - Menina...
Luz que a primavera fez decantar!

Fulgura que a insondável visita...
De sentimentos condensa em efusão
Do colorir de corola que entrevista
No exalar de aroma-turbilhão...
Sépalas de fugidio eternizar...
Proclamas de intangível carrilhão
Suspenso em esperança que palpita...
Eis botão entreaberto ao suspirar
Gigantismo que em pequenez crepita...
Rosa - menina... Primazia singular!

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sábado, 17 de setembro de 2011

Tempo bom que ficou pra trás


As boas vivências são dádivas arquivadas no coração em determinados momentos de nossa vida emergem e nos trazem a lembrança de um tempo que foi bom. Assim diz uma missiva que recebi de alguém que me é deveras caro e que hoje utilizo para subindo o mirante da existência, por-me ao peitoril da sacada de meu Eu para prestar continência de saudade a um tempo que foi bom.

Nesta continência, feita naquela linha divisória tênue que se chama lembrança, a recordação traz a efusão de tempos idos, impregnados de realismo singular que não raro causa aquela bilocação existencial de, estando no presente, vivenciar o passado que se põe faceiro ante os olhos, desfilando com todas as suas cores, perfumes e sabores na avenida da vida sob o cadenciar de um saudosismo que projetado no presente, nutri o desejo de perpetuação do âmago de tempos pretéritos.

Em meio aquela bilocação existencial, contemplo a Matriz de Santo Inácio que dobrando de seus sinos saúda a aurora, desperta a cidade de Pinheiro a qual logo se envolve em atmosfera fúnebre para despedir-se de um tempo que foi bom: um tempo em que no Natal tinha-se a procissão do Menino Jesus e na Semana Santa a do Senhor Morto; tempo em que a Catedral de Pinheiro tinha missa todo santo dia e não apenas de terça-feira a domingo; tempo em que havia a procissão da Virgem de Fátima em maio e de São Sebastião em Janeiro; tempo em que as Missas do Galo e de Passagem de Ano, bem como a vigília pascal eram realizadas bem próximas da meia-noite; tempo em que a fé que transpõe montanhas, fazia o povo vencer a distância e sair em procissão da Igreja de São José, no Fomento, até a Igreja Matriz no dia de “Corpus Christi”; tempo em que a Praça Pe. Newton Pereira tinha a vitalidade do verde das plantas e não a frieza e morbidez do cimento corrido; tempo em que Pe. Almir Lima Silva M.S.C. (Missionário do Sagrado Coração) era pároco e vigário da Igreja Matriz de Santo Inácio de Loyola, Catedral da Diocese de Pinheiro!

Um dia, porém, os fiéis estranharam o fato do padre não ter ido celebrar a missa matinal das seis horas e logo veio a notícia: o padre passará mal no caminho até a igreja, sendo socorrido por um moto-taxista que o levou até o Hospital Antenor Abreu, onde chegou próximo das seis da manhã com sintomas de infarto, vindo a falecer por volta das 6 horas e 22 minutos daquela segunda-feira, 16 de setembro de 2002.

A notícia ecou ligeiro nos quatro cantos da cidade que perplexa chorou com profundo pesar a morte repentina de seu vigário; o prefeito decretara luto oficial de três dias e o Colégio Pinheirense preparara seu salão nobre para velar seu diretor durante todo aquele dia, colocando um lençol preto que ia da fachada do último até o primeiro andar, bem como hasteara seu pavilhão a meio mastro. Ao cair da tarde contingente numeroso de pessoas, entre elas alunos, acompanharam o translado do caixão com o corpo do religioso até a Igreja Matriz, onde ficaria até a tarde do dia seguinte.

Naquele 17 de setembro, ao cair da tarde, a Catedral ficara pequena para a missa de corpo presente do padre defunto. As homenagens numerosas eram tributadas ao homem religioso, ao pinheirense estimado, ao educador incansável, que dirigiu o Colégio Pinheirense até o ultimo sopro de vida. Finda a missa a guarda de Honra da Banda Marcial do referido Colégio retirou o caixão da igreja nos ombros, debaixo de um profundo silêncio, quebrado somente pela cadência lentíssima de batidas de bumbo pelos demais integrantes da banda que, acompanhavam o cortejo, executando sons que se assemelhavam ao pulsar de um coração que desfalece.

A frente do cortejo até o Cemitério Santo Inácio, ia o Senhor Bispo e ao seu lado eu com outros coroinhas e padres que traziam nas mãos as flores deixadas durante todo o dia no velório e, por todo caminho pessoas se colocavam a esquina para ver o caixão conduzido a pulso por autoridades e pelo povo, enquanto um mar de gente se formava da Rodoviária até a Praça Pe. Newton, aumentando a proporção que a marcha prosseguia. Adentrando o corredor principal do campo santo, o cortejo convergiu a esquerda no meio do caminho que vai até a capela, seguindo em direção ao jazigo da família do morto que se acha no fim daquela viela e estando a catacumba aberta, as últimas orações eram feitas pelo padre italiano Nicolau Gizzi M.S.C. e quando o túmulo ia ser fechado, com a voz embargada, Pe. Geraldo Lima Silva, irmão do falecido, recitara três ave-marias, sendo acompanhado pela multidão.

Hoje, passados nove anos daquele ocorrido, a nitidez dos sorrisos largos, a consistência das homilias, a essência da jovialidade, o espírito de vanguarda, tradição e otimismo de Pe. Almir ainda se apresentam em cores vibrantes nas lembranças de quem o conheceu e se aquele tempo bom em que ele era vigário de Pinheiro não é mais possível, ao menos é possível tomá-lo por referência para que outros tempos bons frutifiquem no porvir!

Soldado de auroras, nunca se preocupou com quantidade: celebrava missas com um vigor próprio dos entusiastas não importando se na assembléia tinha apenas um os muitos fiéis, assim como também nas procissões. Homem cheio de conhecimento, humano e divino, vivia dizendo que o dia mais importante da vida do cristão é dia de sua morte, pois nesse dia parte para o encontro definitivo com o Pai.

Terminando esta continência de saudade a um tempo que foi bom, lembrando das palavras do saudoso padre para quem o mar só é imenso e único entre as obras da criação que pode refletir o céu (em suas águas) porque, numa atitude de humildade, se coloca abaixo de todos, só posso dizer uma coisa: Quanta saudade de você Pe. Almir!

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terça-feira, 13 de setembro de 2011

LETRAS ENLUARADAS

                    
           "Ao esplendor do reflexo das noites de luar pinheirenses nas centelhas das águas caudalosas e misteriosas do Pericumã". 

ROSAS A MEIA NOITE

Perseverança traduzida em cores
Que ante a debilidade das retinas
Tem seu brilho furtado ao entardecer
E que mesmo nos da escuridão horrores
Continuam coloridas a quem saiba ver...
Oh! Sois rosas nas carnificinas...
Prova que do horrendo nasce beleza
Que do desprezo grande açoite
Transforma em adubo para a glória
D’esterco faz belas rosas à meia noite!

Espetáculo para os bravos seres
No temor que da noite assalta...
Tranqüilidade que da luz provém
E dos que corajosamente seus teres
Deixam ante sonhos que põem em pauta...
Presente dos céus aos que amor tem
No mais profundo do âmago d’alma
Fazendo da perseverança açoite
Ao amargo que ao ódio bate palma...
Eis rebentar de rosas à meia-noite!

Tributo à generosidade
Que doa sem visar recompensa ter...
Alento ao mundo em putrefação
Que insiste em não se sanear...
Do eterno visita efêmera
Cheia de doce cordialidade...
De sutil melodia oferecer
Em tons de silenciosa canção
Eis das rosas... Oh! Das doces rosas...
Perfumar nas noites do coração!

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sábado, 18 de junho de 2011

Lampejo poético

               
VERDES OLHOS

Lindas opalas de clorofila
Lapidadas em orvalho gentil
Do sopro que infinito ventila!
Ostras que Artífice Divino
Em deslumbrante brilho sutil
Com cinzel de fascínio descerrou...
Eis pálpebras a piscar em aceno fino
Verdes pérolas são teus olhos primor!

Lampejo que sobrepuja o claro sol
Reflexo em tênue espelho d’água!
É lucerna cintilante em lágrimas
Que sublima furor de dores... Mágoa
Em lacrimar de retinas feitas crisol
Do magno verdor que nos prados galga
Reverente e refletido ao arrebol!
Verdes turmalinas... Olhar que deságua!

Diamantes tingidos d’Esperança
Leveza de verdejante piscar
Que paradoxo cultiva... Entrelaça!
Pestaneja euforia. Bonança...
Na sutileza de gemas sem jaça
Hauridas das jazidas de verde crepitar...
Que de Ofir o brilho do ouro embaça!
Verdes diamantes... Cândido olhar!

Canção muda em acordes vibrantes
Clarins bélicos de tons fulminantes!
Pupilas... Harmonia de singeleza...
Ternura que proclama em dureza
Pérolas, turmalinas, diamantes ...
Nuanças de verdejante proeza
Que reprimenda em rara beleza!
Belos olhos... Esverdeados brilhantes!

Oceanos que mistério viceja
Na imensidão que se faz pequenez
Nos lagos caudalosos que verdeja
Em Prudente-insana sensatez
Suplício... Enigma... Doce peleja
Naufrágio da quimera de destilar
Essência do segredo que vagueia
Verdes olhos... Fotossíntese do mar!

Templos que o esplêndido evoca
Em murmúrio do indizível... Incenso
Do fervor de prece... Deslumbramento
Que o ímpeto das palavras sufoca
Na graça feita sortilégio imenso
Que de eternidade traz efusão...
Contemplar esmeraldas polidas
Verdes olhos... Aragem-furacão!

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segunda-feira, 7 de março de 2011

Sutilezas da leveza do suspenso



Há lugares em que a reflexão encontra verdadeiros templos, onde se faz deusa a ser cultuada e não raro deságua no infinito, onde o tempo não se confere, pois os relógios têm horas infindáveis nas quais um segundo é incomensuravelmente interminável.

Às vezes aqueles lugares se fazem suspensos e dotados de uma leveza gravitacional inimaginável como as entrelinhas de um manuscrito que, lidas, ganham a forma de palavras que se vão esvoaçadas pelo vento; outras tantas exalam leveza e tornam suspensos aqueles que lhe visitam ou tão somente contemplam.

Aquilo ocorre por uma razão bem simples: a sensação, ainda que fugacíssima, de ausência de tempo; ou de seu instantâneo estagnar, ainda que por breve fração de segundo; ou ainda de seu caminhar em câmera lentíssima, a protagonizar, pela lucubração, o fomento de grandes lições, como a que se extrai do Capítulo 3, versículos de 1 a 8 do Livro do Eclesiastes:

“Tudo tem seu tempo, há um momento oportuno para cada empreendimento debaixo do céu. Tempo de nascer, e tempo de morrer; tempo de plantar, e tempo de colher a planta. Tempo de matar, e tempo de sarar; tempo de destruir, e tempo de construir. Tempo de chorar, e tempo de rir; tempo de gemer, e tempo de dançar. Tempo de atirar pedras, e tempo de ajuntá-las; tempo de abraçar, e tempo de se separar. Tempo de buscar, e tempo de perder; tempo de guardar, e tempo de jogar fora. Tempo de rasgar, e tempo de costurar; tempo de calar, e tempo de falar. Tempo de amar, e tempo de odiar; tempo de guerra, e tempo de paz”.

Compreender o tempo, que o digam os historiadores e o cronômetro, é fracioná-lo em anos, meses, dias e horas para aprisioná-lo em relógios, controlando-o e demarcando o ritmo de seu passar, observando-o, fazendo-o vassalo da vontade humana a estipular tempo e ocasião para tudo. Lêdo Engano! Que a tempo para tudo ninguém duvide, mas querer delimitar e determinar esse tempo é, no mínimo, burrice de quem buscando compreendê-lo não se permite tempo para si próprio.

Leve e suspenso caminha e caminha e caminha... as vezes ligeiro, por vezes vagaroso e assim vai caminhando como bem lhe apetece, porque compreender é um ato de conhecer e conhecer é algo que não se faz por meio da arrogante postura de dominar. Relógios existem e se seus ponteiros em um único caminhar dá, em forma de segundos, sessenta passos, é porque o tempo se faz e julga está de acordo. Não por menos, quem o compreende passa por ele, e com ele caminha, perenizando-se, mesmo depois de sua existência física fazer-se suspensa, por lembranças, numa intangível leveza que se inaugura com o ocaso de um viver. Que o diga William Shakespeare:

"O tempo é muito lento
para os que esperam,
muito rápido para os que têm medo,
muito longo para os que lamentam,
muito curto para os que festejam.
Mas, para os que amam, o tempo é eternidade"

Caminhar de mãos dadas com a leveza, e fazer-se suspenso da realidade e de si, é cavalgar pelo vento na contramão do relógio, fazendo de seu Eu o peitoril suspenso de infinito. Permitir-se ficar fora do tempo, para compreender a existência de um patamar onde presente, passado e futuro possam ser vislumbrados de forma panorâmica, impõe continência à leveza do suspenso.

Portanto, se o tempo não é o mesmo para todos e muito menos uniforme ou submisso aos relógios, concebidos a luz de parâmetros uniformes e invariáveis, que não albergam as dilações de um caminhar contínuo, porém variante e variável em uma escala gradativa de infinidade... É válida a lição do Eclesiastes, no sentido de sabendo qual tempo é chegado, melhor administrá-lo já que para uns é ligeiro, para outros, vagaroso e para outros tantos, verdadeiras eternidades. Destarte, demos as mãos a Mário Quintana:

“Sentir primeiro, pensar depois
Perdoar primeiro, julgar depois
Amar primeiro, educar depois
Esquecer primeiro, aprender depois
Libertar primeiro, ensinar depois
Alimentar primeiro, cantar depois
Possuir primeiro, contemplar depois
Agir primeiro, julgar depois
Navegar primeiro, aportar depois
Viver primeiro, morrer depois”.

Sutileza suspensa em sublime leveza de quem passou pelo tempo conjugando todos os tempos, definindo-o em um particular por menor de ceticismo, cheio de dogmática certeza, de um certo Mário, chamado Quintana, que fez-se poeta, e da folha de papel em branco o jardim onde semeou letras feitas palavras que rebentam na mesma leveza suspensa de quem apenas as materializou, tanto mais leves quanto sutis, para visitarem o suspenso quando, da folha de papel, ditas pela leitura da palavra escrita: “O tempo é a insônia da eternidade”.

“Conhecer a essência de algo é o mesmo que conhecer sua causa” (Aristóteles). Portanto, cada um procure dar ao tempo a definição que melhor lhe convier, contudo sendo certo que toda definição impõe prévio conhecimento, que ninguém gaste tempo tentando compreender as sutilezas da leveza do suspenso do universo e de sua própria existência se não estiver disposto a compreender e conhecer a sua causa: a ausência de tempo. Para quem se dispõe a tanto é mister primeiro conhecer aquilo cuja ausência se pretender identificar; necessidade está que exige um encontro sem o qual nenhum conhecimento se dá de forma plena. Em todo caso fica a proposta de Mário Lago:

"Fiz um acordo de coexistência
pacífica com o tempo:
nem ele me persegue, nem eu fujo dele,
um dia a gente se encontra"

Sublime sutileza. Encontro fundamental e inevitável! Sendo o tempo insônia da eternidade, está preparado para esse encontro é caminhar sabendo que a noite é longa e se bem verdade que há tempo para tudo, até mesmo a eternidade há que ter tempo para dormir e, como toda noite de sono, o alvorecer sempre coincide com o despertar de sonhos ou pesadelos cuja lembrança se prolonga nas horas que se inauguram com a aurora.

Eis a sutileza do suspenso: passar pelo tempo de forma a ser registrado no inconsciente da eternidade em seus mais risonhos sonhos; sonhos intensos que se façam retidos na mente ao alvorecer. Alvorecer luminoso como o imorredouro gênio poético de Cecília Meireles:

Sê o que o ouvido nunca esquece.
Repete te para sempre.
Em todos os corações.
Em todos os mundos.

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Para L. Rabelo, com quem contemplei a leveza do suspenso em sua mais risonha faceta.
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domingo, 13 de fevereiro de 2011

RECEITA DE FELICIDADE

Imagem 01

Dizem que felicidade não existe, mas sim momentos felizes. Sobre essa questão não tenho intenção alguma de pronunciar uma resposta definitiva, contudo não ignoro que sendo o momento algo fantástico, a sucessão de vários momentos felizes, cause extasia sem entediar, projetando no corpo um bem-estar cuja nascente se dá em um espírito repleto de leveza e serena alegria, qual rio caudaloso que, incontinente, caminha na direção do mar ultrapassando qualquer obstáculo que possa ser posto em seu curso.

Se para o corpo sentir os reflexos de uma felicidade é preciso um espírito – alma – igualmente feliz... Fazer brotar essa felicidade n’alma se mostra tarefa tanto mais prazerosa quanto necessária. Plantar uma árvore, escrever um livro e ter um filho: quem nunca ouviu dizer ser essa a receita para ser feliz?!

Talvez, por isso, Victor Hugo certa vez disse que “a suprema felicidade da vida é ter a convicção de que somos amados”. De fato, ter um filho é meio caminho andado para ser amado e amar de forma extraordinária. Contudo, existem aqueles que não podem ser pais ou mães e se aquela receita realmente for infalível estas criaturas já estão condenadas a infelicidade.

Mas pode a felicidade condensar-se em bens corpóreos ou circunstâncias? “Há duas épocas na vida, infância e velhice, em que a felicidade está numa caixa de bombons”, já dizia Carlos Drummond de Andrade. Não obstante o poeta não tenha tido a intenção de responder positivamente a indagação formulada, soam suas palavras como respaldo a uma insofismável certeza alimentada por este indigno jardineiro de palavras que ora vos fala: a felicidade é simplista.

Ser simples é ser humilde, ser humilde é ser sábio, ser sábio é ser feliz. Que ninguém se iluda. A sabedoria simples não se encontra nos bancos de faculdade, tampouco em um doutorado ou no alcance de um conhecimento científico elevado sobre o átomo, o universo ou coisa do tipo. As vezes pode está em, simplesmente, saber fazer um castelo de areia na beira da praia, mesmo sabendo que a onda virá e o desmanchará.

“Não existe um caminho para a felicidade. A felicidade é o caminho” (Mahatma Gandhi). Talvez em se tratando de felicidade esta seja a única “verdade verdadeira”. Certa vez, em uma de minhas idas ao Tribunal de Justiça do Maranhão, ouvi falarem que “uma pessoa feliz abraça pelo menos doze pessoas por dia”. Essa receita foi dada pela Sra. Adriana, responsável pela coordenadoria das câmaras cíveis daquele órgão, que na oportunidade explicava: cada abraço é uma troca de fluído, de energia, e de abraço em abraço canalizamos afetivas positividades através do tato, quando no abraçar há reciprocidade.

Nesta matemática da felicidade, certo é que, uma criança feliz, por exemplo, sorri pelo menos umas seis vezes por minuto, já um adulto... Quando sorri seis vezes por dia já é um milagre e quando sorri, ou melhor, para sorrir necessita de motivos para tanto, o que para a criança é irrelevante. Crianças sorriem de tudo, até do mais insignificante acontecimento; sorriem do nada, sem motivo algum. Isto me faz lembrar outra vez Carlos Drummond de Andrade: “ser feliz sem motivo é a mais autêntica forma de felicidade”.

Se há infelicidade no mundo, a receita para uma vida feliz deve ser elaborada por cada um no íntimo de suas necessidades. Mas se for válido uma advertência, que a busca por essa receita não se dê de forma obcecada a ponto de preocupando-nos tanto em encontrar a fórmula perfeita, acaso a encontremos, tenhamos por lamentar não ter mais disponibilidade de tempo para pô-la em prática, fazendo com que sobre a nossa busca se faça recair o dizer de Mário Quintana:

“DA FELICIDADE
Quantas vezes a gente,em busca da ventura,
Procede tal e qual o avozinho infeliz:
Em vão, por toda parte, os óculos procura
Tendo-os na ponta do nariz!”


A felicidade é simplista. Jamais nos esqueçamos! Assim quem sabe um dia nos seja lícito parafraseando Johann Goethe dizer também: “na plenitude da felicidade, cada dia é uma vida inteira”. Para tanto, não é demais lembrar os romanos: Ex abundanctia enim cordis os loquitur (A boca fala do que está cheio o coração).
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§§ - Publicação dedicada a alguém especial que com seu jeito de ser muito colaborou sendo umas das fontes de inspiração das linhas desta postagem.
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Créditos: Imagem 01 - Acessado em 12/02/2011, disponível em: http://go.microsoft.com/fwlink/?Linkld=121315

domingo, 16 de janeiro de 2011

LIÇÃO EM PLUMAGENS

Pássaros aprisionados em gaiolas, privados de liberdade, cantam de forma sublime e em momento algum seu cântico tem acordes tristes ou enfadonhos; pelo contrário, é belo e vibrante, tem sinfônica vitalidade: que o diga o sabiá! Mas por quê?
                                  (Imagem 01)          

 
A primeira vista pode parecer um contra-senso perder a liberdade e ainda assim se alegrar. Contudo, saber o porquê de tanta alegria impõe a resposta de outra indagação. Mas por que canta o sabiá engaiolado?

                        
Talvez cante porque, apesar de tudo, está vivo já é um motivo de alegria, ou quem sabe cante porque trás no peito a esperança em dias melhores onde novamente possa, livre outra vez, voar. Quem sabe seja porque sendo da natureza dos pássaros cantar e voar, estando privado desta faculdade, realize aquela na tentativa de não deixar de ser pássaro; canta porque sabe cantar e o faz tentando contornar a privação da sua liberdade, para não ficar aprisionado nos grilhões dessa condição de prisioneiro, ou contaminar-se com esse mal imposto, esquecendo-se até de como é maravilhoso voar, ou, o que é pior, desaprender a voar.

Independentemente de qual seja a resposta ou motivo do cantar do pássaro privado de sua liberdade, inegável é a beleza de seu cântico e a alegria que nele ressoa. Que bela lição! Numa perspectiva comparativa, tomando o homem por pássaro, o cântico pode ser tido com a alma, prisioneira nas dimensões do corpo. Apreender como os pássaros é fundamental.

                                                                                                                                           (Imagem 02)

A alma aprisionada no corpo quase nunca canta e se essa prisão sofre a influência de fatores como doenças, dificuldade de ordem financeira e emocional, entre outras, a situação agrava-se e o cárcere, beirando o insuportável, pode que dê azo a práticas suicidas: desespero camuflado de busca por liberdade.

Canta o sabiá ainda que o cenário a sua volta não inspire alegria. Canta porque quem canta seus males espanta, já ensina a sabedoria popular. Canta porque se não cantar as adversidades e as tristezas chegam e se alojam definitivamente.    
                                                                                                              
Cantemos! Cantemos porque a alegria é sublime. Busquemos um motivo para cantar, ainda que tão somente para driblar a tristeza ou simplesmente menosprezá-la. Imitemos os pássaros nessa escola chamada vida. Não permitamos que o espírito se envenene: cantemos!

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