"Perguntas-me um caminho para a perfeição; eu conheço o amor e somente o amor". (Teresa de Lisieux)
Num desses dias primaveris, longe da agitada rotina da cidade francesa de Lisieux, as paredes do Carmelo daquela cidade presenciavam, em meio a atrozes dores de uma tuberculose, o findar de uma vida que mais parecia uma rosa que ainda estava por desabrochar. Passados 114 anos daquele 30 de setembro, ainda hoje o perfume dos dias que antecederam este episódico continua a exalar o exemplo de vida deixado através das pegadas de Maria Francisca, a Santa Teresa de Lisieux ou simplesmente Santa Terezinha como de forma carinhosa, afável e íntima a chama o povo brasileiro.
Oriunda de uma família católica, a carmelita Teresa do Menino Jesus e da Sagrada Face, ainda na infância, com apenas dois anos, manifestou o desejo pela vida religiosa consagrada. Coincidência ou não, todas suas irmãs tornaram-se freiras; seu pai iria ser padre e sua mãe iria ser freira não fosse a recusa que receberam das ordens religiosas que ansiavam integrar, o que foi primordial ao surgimento da jovem supra mencionada.
A jovem francesa nunca fascinou-se em quantidade e grandeza e sim em qualidade e isso é facilmente constatado se ao debruçarmo-nos sobre a pessoa de Teresa, damos à figura juvenil desta “grande criança”, como a chamou Pio XI ao canonizá-la, olhares filosóficos investigativos e não apenas teológicos; se assim procedemos nos deparamos com uma criatura fantástica, um verdadeiro abismo de virtudes, um ser admirável que nos deixa grandes lições por sua vontade de vencer, de realizar seus projetos fazendo de tudo para tanto, inclusive desbravando seus limites.
Teresa sempre foi tímida, mas em seu silêncio revelava toda grandeza de espírito que pode habitar em alguém. Em que pese sua timidez, e aqui fica uma grande lição, sempre soube superá-la quando o que idealizava assim exigia; foi assim que com apenas 15 anos entrou no Carmelo, uma das ordens religiosas mais rígidas de seu tempo, algo sem precedentes que conseguiu, após o recebimento de muitos nãos em face de sua tenra idade, buscando todas as instâncias possíveis para realização de tal anseio até, finalmente, receber do Papa Leão XIII apoio para tanto.
“Foi de amor sua vida um sorriso”, assim diz um verso de uma das estrofes do hino que a igreja católica dedicou a uma de suas mais jovens santas. Aqui fica outra grande lição de Teresa: amar-se o que se faz como pressuposto para uma realização enquanto pessoa, amor este que rendeu-lhe a tuberculose que lhe encurtou os dias em face a forma, por vezes irresponsável, com que se preocupava mais com os outros buscando ser útil do que consigo mesma.
Amante das rosas, pois segundo ela revelavam o poder de seu Deus, tal qual as rosas tinha uma visão aguçada, de forma que no esterco onde todos viam fedentina, enxergava perfume que para ser sentido necessitava apenas de um meio para refinar-se, daí porque ser chamada de “a florzinha gentil do Carmelo”. De fato, transformava suas dores decorrentes da tuberculose em alegria e, ainda que gravemente abatida, por dentro era ríspida consigo mesma e não se permitia deixar transparecer o cansaço, tampouco o pesar do braço de sua enfermidade, ao contrário, ai que procurava ficar mais sorridente visando sempre inebriar os que lhe rodeavam com alegria, qual rosa que açoitada por lufada espalha seu perfume em muitas direções.
Impossível enumerar-se os muitos exemplos deixados por Teresa do Menino Jesus e da Sagrada Face. Que bom seria, e o mundo assim o seria, se as pessoas fossem a exemplo de Teresa, rosas que tendo por instrumento seu cotidiano transformassem “os estercos” que lhes cercam em “perfumes”; que fizessem de seus mais luminosos ideiais “o Carmelo” de seus horizontes e de tudo fizessem para alcançá-lo; que ante as “tuberculoses” do existir não se deixassem abater mesmos quando as circunstâncias não lhes facultarem agir de forma diversa e, como a nobre Santa, tomassem ciência da brevidade da vida e se apressassem em serem úteis aos que lhes cercam através da valorização das pequenas coisas, valorizando cada minuto de vida na certeza de que nas pequenas atitudes, desde que primem pela qualidade, está a felicidade se praticadas com amor, este sentimento tão nobre que pode habitar a criatura humana e que fez esta jovem abdicar de sua juventude e definhar toda formosura da beleza: de seus olhos de um verde profundamente intenso; cabelos loiros; voz suave e qualidades tão altivas como sua estatura em meio aos claustros da clausura carmelita que a tornou felizpor conta de seu amor a tanto. Eis, portanto, o grande ensinamento desta jovem mulher que visto sob o prisma filosófico investigativo, independentemente de credo religioso, é lição de vida e sem dúvida mensagem que esta faculdade dá ao usar tal nome.
Durante os 24 anos em que esteve neste mundo, o silêncio sempre permeou a vida da Santa das Rosas. Ante a época em que vivemos onde os homens buscam sempre serem o foco dos holofotes fica a lição de que o sucesso jamais é atingido e se o é não é de forma perene, se buscado primordialmente; mas sim, e assim o é mais esplendoroso quando surgi como conseqüência de um ideal que é perseguido de forma discreta porém ativa, a prova maior vê-se nesta que foi proclamada doutora da igreja cuja difusão em vida foi seu ideal.
P.S: O corpo de Santa Teresinha foi inumado no cemitério de Lisieux, numa cova rasa, no dia 03/10/1897. Portanto, o funerou durou mais de três dias e em momento algum o corpo da santa (que não foi embalsamado ou coisa do tipo) exalou mal cheiro. Quando da exumação, por ocasião de sua beatificação, na cova foi encontrado apenas alguns poucos fragmentos de seus restos mortais, contudo a medida que as escavações eram feitas enorme odor de rosas exalava da terra revolvida.
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