quinta-feira, 11 de novembro de 2021

DOSTOIÉVSKI: bicentenário de nascimento.


Fiódor Dostoiévski, um nome e um legado literário, social, cultural e humanitário. Há 200 anos, Moscou se tornava o berço de uma das maiores genialidades da humanidade, que fez da literatura impulso propulsor de avanços significativos e substanciais no campo das ciências e das artes, pela construção filosófica da ideia e valor do ser humano em si, enquanto sujeito, essência e resultado de suas escolhas e reclusão (in)voluntária, sob um viés psíquico a luz do arbítrio, livre ou prisioneiro, das mais diversas variantes a que esta suscetível o gênero humano.

Viveu e conviveu com a morte de perto. Perdeu a mãe ainda jovem e num curto espaço de tempo também ficou órfão de pai; casou, teve duas filhas, a primeira faleceu com meses de nascida; ficou viúvo, também num espaço de tempo relativamente curto; casou-se novamente, foi condenado a morte pelas sua postura coerente com os ideais filosóficos que alimentava, porém recebeu o perdão do imperador que, entretanto, converteu a pena capital em 8 anos na prisão. Na prisão maturou suas experiências existenciais e renasceu, aurindo um conhecimento a partir do elevado nível de compreensão e identificação da linha tênue entre o ser e o não ser, o racional e o insano, o real e o imaginário entre outros tantos pontos e questões antagônicos, configurando a ideia de livre arbítrio a uma racionalidade emotiva insaciável que depura as questões para atingir o discernimento, inclusive psíquico.

A profundidade da literatura de Dostoiévski decorre da capacidade de ampliar a mentalidade do leitor a partir de inafastável reflexão filosófica, psíquica e moral que impele o leitor a identificar nos antônimos existenciais e circunstancias, além da divisa e melindros que, a exemplo do que ocorre com os laboratórios farmacêuticos, define a aquela medida que difere o veneno do remédio. A consistência atemporal dos temas que analisa, de certa forma formulam as questões filosóficas mais serias da existência humana, por isso, seus escritos são tidos como romances filosóficos e/ou romances psicológicos.

Apesar de uma existência de apenas 59 anos, dos quais metade absorta em meio as tragédias existenciais e pessoais que viveu, não enloqueceu, não se desesperou, tampouco desistiu. Decidiu-se e fez-se, com a própria existência, um laboratório de tudo que a lavra de sua pena legou a humanidade: a imensa riqueza, contida nas páginas de seus livros, escritos em russo, a partir de novelas, contos, críticas, memórias e escritos jornalísticos. Nesse legado, sobressai-se a promoção de uma intensa atividade de busca da essência de questões relevantes a atuação humana racional e emotivamente, transpondo a barreira do vernáculo russo, sendo traduzido em vários idiomas.

A perspicácia e agudeza do intelecto deste gênio investigaram o significado e o sentido do sofrimento e da culpa, do livre-arbítrio e a partir disso discorreu sobre temáticas as mais variadas, desde o cristianismo, passando pelo racionalismo, o niilismo, até questões socioculturais como a pobreza, a violência, o assassinato, lançando balizas mestras sobre o altruísmo, analisando em profundidade e meticulosamente transtornos mentais relacionadas à humilhação, ao isolamento, ao sadismo e masoquismo, até chegar aos porquês do suicídio, o qual tratou cirurgicamente, com diagnóstico psíquico de causa-efeito e de forma literária.

Uma cabeça que a frente de seu tempo ocupou-se de questões que ainda hoje, 200 anos após seu nascimento, mostram-se atuais, colapsadas e urgentes em nossa sociedade tecnológica, do isolamento fisco e da proximidade virtual de uma humanidade fragilizada não só pela COVID-19 e a realidade inoportuna e constante da morte, mas também por vários infortúnios e tragédias, naturais, morais, sociais e éticas, mas com o detalhe de que as percepções de sua obra promovem a reflexão que conduz uma reanálise do ser e do existir, como pressuposto de partida das soluções.

Gratidão Dostoiévski, pela tua LUMINOSIDADE.

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