(Amanhecer no Rio Pericumã - Pinheiro/MA)
Recentemente muitas são as pessoas que convivendo comigo, tanto no meio familiar como no ambiente de trabalho, ouvindo o nome alusuras, fazem-me uma pergunta que em meus ouvidos cada vez mais tem maior freqüência: o que é Alusuras?
Bem. A resposta de tanto é algo que de antemão informo ser, ou melhor, pertencer a um campo transcendente que em ligeiras palavras não conseguiria transmitir e ainda que tivesse a meu favor a imortalidade, ainda assim, penso que a vitaliciedade também não colaboraria muito para que, não tendo que preocupar-me com o tempo, pudesse, enfim, responder o que é Alusuras.
Alusuras, por sinal, é palavra que à língua portuguesa só presta reverência nas normas atinentes ao plural das palavras e assim o faz, não é porque seja melhor que a referida língua, mas porque é de tal modo extraordinária que não é apenas substantivo, nem adjetivo, tampouco verbo, conjunção, preposição, advérbio e por ai vai. Mas antes que talvez possa ser entendido como louco, antecipo-me em dizer que concordo com a idéia de que seja um neologismo como sustentado por alguns, o que não afasta a necessidade de uma análise semântica, e sobre este aspecto assumo a paternidade de tanto.
Dito isto, chamo para mim a responsabilidade de, senão explicá-lo, pelo menos apresentá-lo, caros leitores, para que tireis vossas conclusões e nesse sentido um breve histórico, ao menos parece-me, é o melhor caminho a ser trilhado em tal propósito. Outrossim, lembro que sendo o filho extensão do pai, em última análise Alusuras sou eu próprio numa versão mais polida, pelo menos é o que pretendo ser.
Corria o ano de 2002. Na cidade de Pinheiro-MA, com a efervescência própria da mentalidade juvenil de 14 anos, muito me era agradável os dias da semana em que tinha aula com a Professora Mota que, aquela época, lecionava na Fundação Bradesco, Língua Portuguesa e Literatura. Como tenho saudades desse tempo! Dividia-o entre os afazeres domésticos com mamãe; a escola; os amigos; o convívio familiar; passeios vespertinos nos campos de Pericumã com banhos no rio de mesmo nome e a Catedral de Santo Inácio de Loyola, onde tornei-me acólito em 1998.
Destaco aqui a escola e a igreja. Nesta, a figura sempre risonha do saudoso Pe.Almir Lima Silva, pinheirense fanático como eu, grande orador, sacerdote fervoroso e amante das tradições sem perder de vista o novo, educador exímio e muito inteligente; naquela, a figura altiva e excelsa da Professora Mota que pelo domínio da arte de lecionar e o apurado senso crítico e elevado saber, fazia de suas aulas oásis da sabedoria que de encantamento deslumbrava-me.
Não deu outra: unindo o ensinamento divino ao humano e entrelaçando tudo no seio familiar surgiu a “alusura”. Aqui, ao menos parece-me, assiste razão ao filho mais ilustre de Pinheiro, José Sarney, que por ocasião do centenário da Academia Maranhense de Letras, falando sobre a arte de escrever, no discurso que proferiu na qualidade de decano do sodalício, lembrou que tal arte, ao autorizar conceber e reinventar mundos e pessoas pela palavra escrita, nos faz participar da grandeza criadora do arquiteto divino. Assim foi com a Alusura.
Lembro-me bem que, em uma tarde risonha dessas em que o céu de Pinheiro é faceiro em seu azul-anil, terminava em casa uns rabiscos que chamava de poesia, a qual tinha começado na Fundação Bradesco, sentado na grama, debaixo de uns cajueiros que faziam sombra em abundância por trás da quadra de esportes e onde por sinal os bem-te-vis são insistentes em sempre cantar, ao passo que a brisa soprava com uma agradabilíssima intensidade.
Naquele cenário tão encantador, experimentei algo bom em demasia que embora saiba e tenha consciência do que foi não quero aqui segredar; permitam-me esse “egoísmo salutar” desse mister que a mim foi dado viver e sentir. Apenas digo que no ímpeto de tanto, busquei nas palavras algo para expressar tal sensação e em meio a grandeza da arte de escrever, se experimentei a grandeza divina não sei, só sei que me veio nos lábios “alusura” e não por menos somente eu sei o que significa: foi a única palavra que satisfez minha sede.
Assim, a referida palavra figurou primeiramente naquela poesia, um soneto por sinal, da qual infelizmente perdi tanto o rascunho como a via que passei a limpo e entreguei a professora Mota que como se fosse hoje, lembro-me bem, disse: eu desconheço essa palavra, até procurei no dicionário, mas não encontrei. Ela foi a primeira a ficar intrigada com tal palavra, só que os dias foram passando... Outros tantos também começaram a partilhar com ela de tal inquietação e eu cada vez mais apreciava fazer versos; então, resolvi por alusura no plural, batizando meu endereço eletrônico pessoal com o mesmo, depois do que, tudo ganhou maior dimensão, desde a inquietação de alguns em saber o seu significado, como o embaraço de outros que quando lhes dizia o referido endereço, rendiam-se ao riso, perplexos, e pediam: soletre!
Partilho da idéia que determinadas coisas na vida muito embora possam ser explicadas, nada compara-se a satisfação que senti-las proporciona ao intelecto. Alusuras permanecerá meu segredo, minha força pungente, o meu “claro enigma” para o mundo, porém em tudo que faço sempre tem e fica um pouco das alusuras, muito embora entenda que, tomando o viver por luminária translúcida, tenha aplicação o pensamento que certa vez li folheando um livro de Schopenhauer: Somente extinta que a luz revela se quando acessa era luz de vela ou lampião.
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