quinta-feira, 10 de agosto de 2023

BICENTENÁRIO DE ANTÔNIO GONÇALVES DIAS





BICENTENÁRIO DE ANTÔNIO GONÇALVES DIAS.

O ano é 1823, o dia 10 de agosto. O sabiá canta e o vento espalha seu canto na Mata do Jatobá, esvoaça as palmeiras de babaçu e anuncia com seus silvos o nascimento de um poeta.

Caxias se levanta altaneira porque o poeta é filho seu. Homem de inteligência precoce, etnólogo, advogado abolucionista que cantou os Timbiras, com o Romantismo de sua pena e, por isso, canta o Piaga um canto de infinito que une o poeta e a poesia pela encantaria do lirismo.

São Luís, a Ilha do Amor, louva o poeta de muitos Cantos e comovida pela sua Canção do Exilio, oferece guarida à sua memória no Largo dos Amores, em meio as palmeiras e ao sabor dos ventos, debaixo das estrelas que cintilam o Eu lírico desse brasileiro que traz no sangue a mistura dos povos que construíram a identidade nacional: indígena, africano e europeu.

No bicentenário do etnólogo que escreveu o primeiro dicionário da língua Tupy, maranhense que orgulha todos os outros, o Tamoio canta seu "canto de morte" com acordes da imortalidade que ecoa em Guimarães, no litoral maranhense, na voz da sereia que, nas noites enluaradas, canta e decanta os versos que o gênio da literatura brasileira levou consigo, quando se encantou nas águas da baia de Cumã.

Para o Poeta Nacional cantam os dias, cantam os séculos, por séculos e dias, e para sempre o sabiá e no seu canto a proclamação de que se o Imperador da Língua Portuguesa é o lusitano Antônio, o padre Viera; outro Antônio, brasileiro, é o Imperador do Lirismo da última flor do Lácio.

VIVA GONÇALVES DIAS.

sábado, 13 de maio de 2023

A LEI MAIOR: 135 ANOS DA ABOLIÇÃO DOS ESCRAVOS

 A LEI MAIOR.

Ha 135, no dia 13 de maio, em pleno domingo, a Princesa Regente, Sua Alteza Isabel de Orleans e Bragança, assinou a Lei 3.353, com uma pena de ouro ornada com 25 pedras vermelhas e 27 brilhantes. 

A Lei foi cognominada de Áurea, pela sua essência, finalidade e espírito; e dona Isabel, declarada REDENTORA, pela coragem do ato. 

Para os constitucionalistas a Constituição é a Lei Maior. Mas isso diz respeito apenas a hierarquia legislativa,  porque a Lei Áurea, mesmo pequena no tamanho; é, e sempre será, colossal pelo que se propôs: abolir a escravidão.

Outrora o óbvio dispensava comentários e, por isso, a Lei Áurea tem apenas dois artigos; porém nos dias atuais, o óbvio, de tão óbvio precisa ser bradado, para não ser ignorado.

É preciso vigilância para escravidão não voltar sob aspecto trabalho forçado, ou de qualquer outro, que reduzam o sagrado direito da Liberdade que, depois da vida, é o mais fundamental dos direitos: liberdade para crer e para não crer, inclusive na ciência, que é incerta.

Não faz muito tempo o judiciário adotou medidas coercitivas contra quem não se vacinou contra a COVID-19,  legitimando postulados da ciência, apesar das suas probabilidades incertas e pouco tempo de testes. Um "apartheid científico" que segregou tantos quantos (no exercício da Liberdade de não crer), duvidaram da eficácia das vacinas do COVID-19, separando vacinados de não vacinados, para restringir o acesso destes aos recintos públicos e até particulares.

Não nego o mérito e avanços da ciência; mas a Liberdade é bem maior. Liberdade inclusive de crer e de não crer, assegurada por uma Lei nunca alterada, nunca retocada, nunca revogada: a Lei Maior do Brasil, Áurea por essência, a Carta da Liberdade. 

Uma atualização hermenêutica da Lei Áurea é premente contra as modernas formas de escravidão: do judiciário, das tecnologias, da ciência,  do mercado financeiro e das ideologias que alienam. Afinal, a vida só vale a pena com Liberdade, principalmente a liberdade de crer e não crer, pois só quem tem essa faculdade pode se considerar realmente livre.

sábado, 1 de outubro de 2022

INDEPENDÊNCIA OU MORTE

 Independência ou Morte.

O brado do Ipiranga foi inegavelmente o estopim para o surgimento do Brasil Imperial e de uma “Nação Continental”. Porém, entre falar e fazer existe um hiato e transpô-lo exige denodo. Um brado heroico, não há dúvidas, mas a heroicidade do acontecimento não é mérito exclusivo do imperador.

Não se pode falar em independência brasileira sem retroagir no tempo e prestar continência à memória de Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, grande “Mártir da Independência” que testemunhou, com a própria vida, o que o Imperador bradou.

Ao celebrar-se a Independência do Brasil, é dever de justiça prestar reverência à memória dos irmãos Andrada e Silva, especialmente José Bonifácio, homem considerado o mais culto de seu tempo, cognominado “O Patriarca da Independência”, pelo papel decisivo para que o importante evento se projetasse no campo das realidades.

Para não dizerem que não falei das flores, pontuo a memória da baiana Maria Quitéria. Disfarçada de homem, sentou praça e empunhando armas, foi lutar por aquela independência proclamada pelo Imperador, para que “o brado retumbante” ultrapassasse às margens do Ipiranga. Trago à baila a cearense Bárbara de Alencar, avó do escritor José de Alencar, que reunindo homens aguerridos, lutou e foi presa em nome de uma independência, que apesar de proclamada com palavras imperiais, só se efetivaria em julho de 1823, quando a última província, o Maranhão cheio de portugueses, aderiu ao Império do Brasil.

A divisa “Independência ou Morte”, pela interjeição alternativa que utiliza, evidencia que as duas realidades não podem coexistir. A morte atualmente está ressoando mais forte, a começar no Ipiranga que não tem mais as margens tão verdes como quando foi pronunciado o célebre dístico, com o qual Dom Pedro I, aclamado Defensor Perpétuo do Brasil, se dignou romper os laços com Portugal para criar a nação brasileira e nela erguer um império.

Há 200 anos “raiou a liberdade no horizonte do Brasil”, todavia com a névoa densa da escravidão, que o viril proceder do Imperador não foi capaz de debelar. Outra independência hoje é premente. É urgente a independência da tirania do obscurantismo da ignorância, do tráfico de entorpecentes, da ditadura das facções e organizações criminosas.

Os grilhões da escravização, persistem em vários campos, modernizados. Camuflam-se sobre a forma de estatísticas e alarmam o degredo da Dignidade Humana, mas por serem reduzidos a números frios, esses grilhões estatísticos são ignorados, apesar de gritantes, com uma sonoridade maior que o brado o Imperador.

O coração do Imperador Pedro I, pela primeira vez, depois de sua morte, deixou a cidade do Porto, chegando a Brasília no dia 23 de agosto, onde permanecerá até dia 7 de setembro de 2022, como parte das comemorações do bicentenário da nação brasileira. Já o corpo do Patriarca da Independência, inumado no Panteão dos Andradas, faz de Santos um farol onde brilha a nobreza de seu espirito. Ir a Santos, portanto, é um ato de patriotismo que fomenta a heroicidade da inteligência, erudição e retidão de José Bonifácio de Andrada e Silva, tão necessárias ao Brasil

Independência ou Morte. Um brado que interpela a “brava gente brasileira” e para que a primeira alternativa se perpetue, que haja um pouco da “Inteligência Bonifácia” é primordial, para que se construa o porvir desde agora. Sejamos Bonifácios: BRASILEIROS de Inteligência e Coração.


CANAÃ DO PERICUMÃ

 CANAÃ DO PERICUMÃ.

Pinheiro, terra cheia de esperança que se derrama e espalha e tinge seus campos... Esperança que enche a alma, os olhos; e, de assalto, com deslumbre, o coração que contempla daqueles campos a vastidão.

O coração do pinheirense é verde porque esse é esperançoso. Nele pulsa um sangue nobre e fraterno que não é azul como o da Realeza, mas verde como o babaçual.

Sangue vivo, líquido e corrente que segue o curso caudaloso das águas do Pericumã; águas benditas, porque espelham o céu. Rio de peixes em que o milagre da fartura se renova a cada inverno e se prolonga no verão.

A esperança é a última que morre?! Não creio, pois é filha do futuro e esposa do amanhã. "Vive Pinheiro ainda, nos séculos rainha", eternamente em cada coração pinheirense, terra santa e do Pericumã a Canaã.

Parabéns Pinheiro. Cidade de Esperanças, imensas como o bem querer de todos os de sangue verde, que te amam com Verde Coração.


CASA SANTA

 

CASA SANTA 
(Mauricio Gomes Alves, APLAC)

Deus é CARIDADE e da prática dessa certeza de fé, dá testemunho o sobrado no cruzamento da Avenida Presidente Dutra com a Avenida Paulo Ramos, erguido pelo caridoso Coronel Manoel Serra Carneiro – genitor da sogra da escritora Graça Leite – coletor de impostos federais, que faleceu, em 1922, envolto no perfume da caridade que praticava. Ao noticiar sua morte o jornal Cidade de Pinheiro o descreveu “homem de acção, espírito devotado as grandes causas, trabalhador infatigável e desinteressado” e “amigo da pobreza, que protejia generosamente, até o sacrifício”.

Homem de posses, o coronel viajou pela Itália, França, Espanha, Inglaterra, Suíça e Portugal; e, regressando a terra natal, após casar-se, em 1909, com Esther Mendes Carneiro, ergueu a casa que seria o lar e refúgio dos caridosos nubentes e que hoje é um dos últimos edifícios remanescentes da antiga Vila de Santo Inácio do Pinheiro, que permanece de pé, com a distinção de ser o primeiro sobrado erguido na Rua Nova e naquela vila, como enfatizado pelo jornal Cidade de Pinheiro, no obituário do coronel.


A Rua Nova virou a Av. Presidente Dutra; e, a vila dilui-se na cidade que esse sobrado viu nascer, das janelas altaneiras de suas sacadas, acompanhando a pressa do progresso que passou na sua porta, a qual tantas vezes aberta, pela já viúva por dona Esther, para socorrer a pobreza que passava na calçada. Nessa casa, incontáveis quermesses foram promovidas, angariando importâncias generosas para a construção da Igreja Matriz que, mesmo sem viver par ver a conclusão, dona Esther teve grande participação.

Em 1933, apenas três anos antes de falecer, a viúva caridosa vendeu o sobrado, para o português Américo de Almeida Gonçalves, rico comerciante instalado em Pinheiro, que providenciou para o imóvel um bonito portão com suas iniciais e o ano da compra. Chega o ano de 1946 e nove padres italianos, desembarcam na Faveira, entre eles Dom Afonso Ungarelli, que adquire o terreno de propriedade de Doninha Paiva, que fica em frente a casa; fazendo, posteriormente, com o Sr. Américo Gonçalves, a permuta do terreno pelo sobrado, onde instalou os padres da Prelazia de Pinheiro.


Casa santa, aliás, santíssima! Desde quando tornou-ser residência dos padres Missionários do Sagrado Coração, respira os frescores de uma capela, modéstia, mas rica da graça que se encerra em um sacrário, onde Cristo, que é Caridade, habitou no silêncio da clausura daquele “cofre de graça”, iluminado ininterruptamente pelo clarão de uma lâmpada. O último morador dessa Casa Santa, Pe. Risso, falecido em 09/03/2022, santificou muitas vidas com a pregação da fé, palpável nas suas obras de caridade, testemunhadas pelas paredes desse sobrado até o último suspiro, impregnando-as com a caridade que sempre realizou, especialmente às crianças para quem se fez “Vovô Risso”.

Agora, nessa Casa Santa – onde o vazio preenche o sacrário da capela em que por mais de meio século a missa fora celebrada – a lâmpada do sacrário apagada é pressagio de incertezas, inclusive do funcionamento da capela. Nessa hora, para uma casa santa, as palavras de um santo caem bem e como dizia Santo Agostinho: “quem canta reza duas vezes”. Na porta dessa CASA SANTA, onde a caridade há mais de 100 anos fez morada, o futuro certamente há de ouvir, na nossa voz, o canto das taumaturgas e benditas ladainhas, aprendidas de nossos avôs.

Oh Deus te salve casa santa,
Onde Deus fez a amorada,
Aonde mora o cálix bento
E a hóstia consagrada.

sábado, 25 de dezembro de 2021

CANÇÃO A TEIMOSIA

 






(Prédio onde funcionou o Jornal. Arquivo Sandra Mendes)

Ao Centenário do Jornal Cidade de Pinheiro, o Teimosão, que hoje celebra seu Jubileu de Jequitibá, jornal maranhense mais antigo em circulação.

CANÇÃO A TEIMOSIA

Virtude oposta... filha da resistência
Tem a água que consegue a pedra furar
E o coração sincero, auto obediente
Que não desiste e além de si existe!
Virtude oposta... mãe da insistência
Tem o denodo e sutileza do que persiste
Ao sabor da essência dessa ciência:
Querer, Insistir e Resistir... Teimar!

Virtude oposta... Tolice ou demência?
Quem foi, quem sabe, quem é, quem será?
A teimosia com consciência
Querer e fazer... é lutar e sonhar!
Virtude oposta... a que ou a quem?
A obediência ou a pertinência?
Virtude... composta e disposta
Da obediência a própria essência

Virtude oposta... sim! Qual espanto?
Não o é também o sorrir ao pranto?
Teimar é auto obedecer a si próprio
É lutar, brilhar, resistir e ser canção...
Ser o oposto e vencer o desgosto
Como sol brilhante em chuva de verão
Que resiste e insiste com maestria
Na teimosia de ser TEIMOSÃO!

NATAL FELIZ




NATAL FELIZ.

Parece estranho o adjetivo depois. Mas parece-me ser o mais correto. Como dizer Feliz Natal para uma mãe que dá a luz em uma estrebaria? Em meio ao fedor característico de um curral? E com que dor uma mãe não coloca seu recem-nascido em um cocho(anjedoura)? Qual mãe se alegraria em semelhante condição?

A alegria vem da consciência de saber o que é essencial. Por isso, os adjetivos e toda espécie de assessórios vem depois, inclusive o conforto e o adjetivo FELIZ, porque a consciência da humanidade de Cristo basta para que haja o Natal, a felicidade se torna adjetivo que, nesse caso depende do Natal, mas o Natal não precisa de nada: é simplesmente Natal, festa da luz, da vida, da esperança e da humildade.


Na imagem, o Menino Deus tem na cabeceira o Evangelho de Lucas aberto na página do nascimento em Belém, acima Maria de Nazaré e alguns santos que tiveram alguma ligação de devoção ao Verbo encarnado (Santos José, Antônio, Benedito, e João Batista).

Um sino aguarda para ser tocado e velas para serem acessas, tudo à meia noite. Nessa ocasião a leitura do Evangelho sugere a reflexão se nosso coração está como uma manjedoura cheia de ração para animais (a serviço dos que passam fomes/necessidades as mais fiversas), ou se está pior que um pântano, onde tudo afunda. 

A todos, fugindo a regra do Feliz Natal,  desejo um consciente NATAL FELIZ

segunda-feira, 22 de novembro de 2021

MINHA BISAVÓ CECÍLIA. 

 
MINHA BISAVÓ CECÍLIA. 

MissãoVelha-CE, 22 de novembro de 1906, na casa de Manoel Privado Marques, dona Maria Alexandria, sua esposa, dá a luz para mais uma menina. Como se chamaria? Dona Alexandrina: "hoje é dia de Santa Cecília, Cecília será seu nome". Dona Genoveva, avó da recem-nascida diz: "oh minha filha, toda Cecília é sofredora. Mas não se apoquente: vamos no Juazeiro pra padre Cícero batizar e tudo se resolve".

Veio a seca de 1915, o sol rachou o chão do Cariri e a irmã caçula de Cecília morreu de fome e desnutrição. O pai desolado, reuniu a família e parentes, foram tomar bênção ao padim Ciço no Juazeiro, encontraram Lampião e Maria Bonita pelo caminho e depois seguiram para o Maranhão, andando a pé durante 48 dias e 49 noites, feito bando de ciganos, fugindo da seca e da fome.

Com pouco mais de 6 anos Cecília registrou todos esses acontecimentos na memória que, desde então, ficou apurada até os últimos instantes de sua vida, em 2006. No tempo que não tinha HD, ninguém a superava na capacidade de gravar datas, nomes, acontecimentos e tudo em quanto, vírgula por vírgula: legado que sua genética transmitiu aos descendentes que, até hoje, não tem nenhum que sofra de Alzheimer.

Uma mulher forte e valente que enfrentou a seca, aparando as próprias lágrimas para irrigar suas esperanças. Deu a luz a 10 filhos, enterrou 7, ficou viúva cedo. Criou filhos, netos, sobrinhos e afiliados que cruzaram seu caminho. Seu neto Manoel (meu pai) era seu chodo, talvez por ter o nome do seu velho pai, até que eu nasci e o destronei, kkkk.

O tempo marca 115 anos de seu nascimento. Brotam saudades, lembranças palpitam o coração e com a memória precisa que herdei, volto no tempo e vou ao seu quarto tomar bênção. Vejo a cama a direita, uma rede de fios, armada por cima, tecida a mão com uma varanda rica de detalhes. Fito a janela em frente a porta, sopra o vento; volto-me à cômoda cheia de perfumes, brincos e fivelas, posta a minha esquerda.

Detenho a vista por uns instantes naqueles utensílios da vaidade feminina. Levanto a vista e leio, com nitidez, num quadro com uma paisagem de flores: "Aquilo que nos separa não destrua o que nos une."

Parabéns vovó Cecília.