quinta-feira, 5 de novembro de 2020

O JARDINEIRO DA FELICIDADE

 Um jardineiro aniversariava e a Primavera resolveu visitá-lo. Logo na chegada o cumprimentou com os mais belos aromas e cores da sua pujante beleza, felicitando-o pela efemeridade da data. Surpreso, indagou o jardineiro: É verdade que sois a porta-voz da felicidade? A felicidade não usa palavras, nem precisa de porta-voz, respondeu a Primavera, cheia de graciosidade, sorrindo silenciosamente, de forma tão intensa e imensa que se fazia insondável. 


O jardineiro ligeiro e contundente perguntou: Então a conheceis? Apresente-me essa distinta dama, vos peço. Mas a resposta foi novamente um sorriso de ternura, com o qual foi indo embora, deixando ao jardineiro uma muda de violeta. 


Percebendo a despedida, o jardineiro apressou-se em correr para acompanhá-la. Esforço inútil, pois sem a leveza do suspenso não poderia sequer voar com as borboletas, quanto o mais acompanhar a primavera que, em sua fagueira brisa, gentilmente, voltou-se; e, num aceno de despedida exclamou uma única palavra, em forma de desejo, no plural: felicidades.


Intrigado, o jardineiro ficou a pensar o porquê daquilo, tentou interpretar aquele acontecimento e, sem respostas, voltou-se ao seu jardim - foi cultivar a violeta - absorto no silêncio de suas inquietudes, feitas labaredas que consumiam seu íntimo e pediam o refrigerio de respostas. 


Passados vários dias a violeta em fim amanheceu florida e no fim do mesmo dia já estava murchando, deixando no ar o perfume agradabilíssimo de sua essência, um perfume tão suave que relembrava a beleza da flor e superava a tristeza das pétalas murchas. 


Detendo-se o jardineiro na contemplação de todas aquelas sensações, as quais saboreava com ávida fome de infinito... De repente, a Primavera achegou-se novamente sorrateira e suavemente sussurrou: “são as brevidades, nelas habita a felicidade; e na delicadeza de quem cultiva violetas, fazem pousada”.

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