A imortalidade, muito mais que uma questão biológica é: uma escolha, um desejo, um propósito e uma utopia que se faz palpável na efemeridade de cada hora, a partir da vontade de saborear – na fugacidade – os instantes de eternidade que a possibilidade de viver proporciona.
A imortalidade é assim
uma construção – constante – que se plenifica na (in)certeza do que somos, para
onde vamos e o que queremos. É que identificadas estas três condições como
pilastras dessa construção, quem se predispõe a palmilhar a senda da
imortalidade, ainda tombe desfalecido, continuará imortal na quilo que foi, ou
ainda é; por onde foi, ou até onde chegou;
naquilo que quis, ou no que conseguiu; pois na ceia do infinito a comunhão
é de fraternidade: tudo se perpetua no plano das ideias, onde a alternância de
sujeitos, qual carvão no fogareiro, vai dando consistência e fulgor aos ideais
feitos labaredas, tanto mais vivas quanto luminosas.
Ao transpor no tempo, a
soleira dos primeiros 15 anos de existência, a Academia Pinheirense de Letras
Artes e Ciências, registra além do dado cronológico, uma consciência elevada em
razão das aspirações que nutre. Quiçá o porvir, na senda da imortalidade, conserve
a formosura e beleza da viçosidade próprias do espírito juvenil inerente a
idade de quinze anos, e também extensiva a todas as idades que a queiram e
conservem.
Com efeito, para além
do fato das academias serem – e devem sê-lo – templos da excelência e do
requinte, onde as tradições devem ser cultivadas e prevalecerem, engana-se quem
pensa que para tal mister, a solidez da antiguidade tenha, por prerrogativa, a
imutabilidade de ritos, consciências, pensamentos e liturgias. Que ninguém se
olvide, o que parece imutabilidade, em verdade é uma questão essência, que não
é – e nem pode ser – algo frívolo que se esvai ao sabor do vento; mas, ao
contrário, galgando-o se espalha e difunde sem jamais perder a consistência.
Nos átrios acadêmicos, qualquer
ideia de imutabilidade cede lugar ao sacerdotal propósito de preservação,
cultivo e fomento da essência do espírito acadêmico que empreendeu a ousadia
dos primeiros passos. Ora, “a essência é o que
faz magnas as coisas” e em função disto, os ritos, as liturgias e tudo o
mais convergem e desenvolvem-se de forma pragmática e alternativa, comportando
inclusive mudanças, desde que a essência seja preservada.
Sobre a antiguidade –
relicário onde a sabedoria resplandece e se faz substrato das tradições – constitui-se
o voto primeiro e mais importante de quem abraça o ideal acadêmico, porém por
si só, ela surge e torna-se mera consequência do passar do tempo se não se
significar, pois a significância é o que dá sentido as coisas e ao viver,
cingindo-os com o diadema da simplicidade: o que de mais sublime há no extraordinário.
Sim! O extraordinário
que habita a singeleza do desabrochar da flor, do voo do pássaro, do pingo da
chuva, da velocidade da luz, da semente que germina, da vida que nasce, entre
outras coisas que se congregam em sutilezas indecifráveis; ou, por vezes,
irreproduzíveis... Esse mesmo extraordinário habita o íntimo de quem se faz
cativo dessa busca pela essência e com denodo, nas assas da esperança, vai até
a divisa de antônimos, para concebê-la, gerando em si a própria primavera,
florescendo em olentes fragrâncias que perfumam iluminando e iluminam
perfumando.
O perfume tem de
intangível o que o infinito tem sublime – não tem começo nem fim – e essa
sutileza tão própria da leveza, tanto mais leve tanto melhor, porque quanto
mais leve, mais essencial... É o substrato à percepção apurada na contemplação
da imortalidade, diluída no tempo e no espaço feito um dilúvio que, entre a
terra e o céu, tudo transborda e dilui. Vive-se, sobre o flagelo do Covid-19 e de
tantas outras realidades que desafiam a sobrevivência humana... Um ano de
lágrimas! Um tempo de dilúvio em cujas águas diluem-se o viver; o morrer; o
ser; o ter; o querer; o fazer; o poder e as esperanças de tudo quanto não seja ESSENCIAL.
Nesta
atmosfera de singular significância, em que a efemeridade do transpor do tempo se
oferta no Cristal de um Jubileu… Que os dilúvios sejam de luminosidade, os
séculos de sabedoria, os dias de imortalidade, as horas de alegria e os
instantes da mais singela e autêntica felicidade – jocosa por natureza, sublime
por essência e extraordinária por leveza – projetando nas marcas dos passos futuros
a venturosa marca de quem acendeu-se e iluminou, a si e ao seu redor,
combatendo as sombras que escurecem a essência do clarão, da lucerna que
cintila o olhar do mais frágil e singelo ser humano.
Ave academia! Seja-se a
luz, faça-se a luz, propague-se a luz em ousada e imortal claridade.
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