quarta-feira, 9 de outubro de 2019

O MISTER DE ESPELHAR: 9.10.2019 - 9102.01.9

A ESSÊNCIA DO VICE-VERSA E O DESLINDE DO REVERSO

 

Espelhar é um verbo, por assim dizer, translúcido; tanto mais reflexivo quanto os reflexos que projeta, ao clarão da luz, qualquer espelho. E o que é um espelho ?! Vidro com uma película de prata em um dos lados.

Ninguém estranha ou se escandaliza com o fato do espelho retratar inversamente as coisas que se colocam à sua frente: o direito torna-se esquerdo, tudo fica invertido e o vice-versa passa a ter uma nova dimensão. A linguagem o vice-versa indica alteração à ordem que não prejudica a essência, mas no espelho a essência do verso, do anverso e do reverso projetam na existência sentidos e razões de uma singular e extraordinária causa que se imprime no ser das coisas.  

Com efeito, antes de ser vidro, o espelho era areia – grão de areia turvo – aquecida em altas e escaldantes temperaturas, até perder a cor, a consistência, a essência enfim, para tornar-se vidro transparente ou, por vezes, translúcido. Porém... perder a essência não é possível, tampouco deixar-se de ser o que se é par transmutar-se em algo diverso, pois a metamorfose só acontece porque lá no fundo do âmago do ser, já existe em potência aquilo que, pela transmutação, apenas externa algo adormecido. 

Contradição das contradições, o grão de areia, mero pó, feito vidro transparente, translúcido como o dia ensolarado; matéria prima do espelho, feito cativeiro onde habita a essência do vice-versa nas matizes do espelhar, onde outro grão de areia, feito ser humano, vai se olhar refletido, quase sempre iluminado pelo clarão da ignorância e da insensibilidade de perceber que ambos – ele e o espelho – são grãos de areia em estados diferentes.

A palavra ROMA e tudo que remete se mirou no espelho e viu da inversão de direita e esquerda o surgimento do AMOR e vice-versa, nesse baile de contrastes onde a essência perpassa o que é contrário para responder as questões mais intrigantes com a singela de um espelhar que, de modo simplório, aponta para o reverso na pedagógica lição de nos antagonismos, sobretudo estrutural das mais diversas conjunturas, para desvendar as mais complexas realidades a partir do deslinde do reverso.

E assim contempla-se o caule da mangueira tão rígido e espeço para sustentar mangas inversamente desproporcionais a copa de seus ramos e folhas; a melancia em seu gigantesco tamanho  em relação a frágil espessura do caule que a nutre e faz crescer. Mas o deslinde do reverso vai além e também ele para ser compreendido tem que ser espelhado

No espelho, a película de prata, em um dos lados do vidro, muito mais que chamar atenção para o valor do metal nobre, consiste na sua razão de ser, pois é o que permite as condições do refletir e projetar aos olhos de quem lhe olha a própria imagem; e, isto, quer demostrar a necessidade de cultivar em si valores nobres capazes de refletir, na consciência, aquela amplitude de compreensão de que somos o que somos, independentemente de como nos olhos, pois qual espelho, o que projetamos ou classificamos em outrem é apenas uma imagem trocada e invertida de nós mesmos, porque iludisse quem pensa que apenas nos temos reflexo: o espelho também se reflete na pupila de nossos olhos, do que decorre que nossos olhos também são um espelho.


quinta-feira, 17 de janeiro de 2019

VERSOS LÍQUIDOS



SONHO TINTO

Um sonho destilado ao vinho
Denso e forte qual o fulgor
De rubra rosa com espinho
Disperso, em gélido calor.
Ah! Sob lençóis de linho
A ressaca da insensatez...
Com euforia de sonhar
E a doçura de delirar...
Lúcido!

E liberto feito passarinho
Da gaiola da sensatez
Com as assas do desatino
O improvável acalentar
Deixando pelo caminho
Ao torpor de embriaguez...
Meio sóbrio, meio delgado
Suspiros em desalinho
Guardado!

Suspiros alucinantes...
Ah! Verdades inconstantes
Tingidas de emoção!
Desejos agonizantes
Com gostos incessantes
Ávidos de satisfação
Tudo destilado em vinho
Embebido em lençóis...
De linho!

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domingo, 6 de janeiro de 2019

ADEUS A MESTRA ZEZÉ MELO.

AS ESTRELAS O ESPLENDOR E AOS MESTRES O RESPLENDOR.

Faleceu no dia 4 de janeiro de 2019, ao alvorecer do dia, quando o sol despontava nos campos de Pericumã, a professora Maria José Melo, carinhosamente conhecida por Zezé Melo. Mulher de um sorriso discreto, como a sua personalidade, e contagiante como o vigor com que lecionou, ensinando gerações de pinheirenses. O velório aconteceu na casa 143 da Rua Floriano Peixoto, no bairro Antigo Matadouro, na cidade de Pinheiro-MA, onde a professora viveu por mais de 40 anos. 

Professora competente e zelosa, exerceu o magistério com amor de mãe, tornando-se, pelo magistério, a mãe de várias gerações de crianças e jovens que a vida colocou em seu caminho como alunos e que hoje são pessoas integras, cidadãos exemplares. Lecionou na Escola da ACREP e na então Escola Estadual Presidente Médice, onde se aposentou.

Tive o prazer de conhecer dona Zezé Melo e, mais ainda, a alegria de desfrutar da simpatia de sua personalidade generosa quando, ainda na infância, estudei o primário na Escola Presidente Médice. A última vez que nos olhamos, foi no dia 30 de setembro de 2018, por ocasião do encerramento do Festejo de Santa Teresinha do Menino Jesus, cuja igreja fica na mesma rua em que morava a saudosa professora.

Naquela oportunidade, participava da procissão da referida santa e, pela primeira vez, vi lágrimas no semblante de dona Zezé que, já adoentada, no terraço de sua residência, estava tomada de grande emoção ao ver o andor de Santa Teresinha, repleto de rosas passar na sua porta, ao som do tradicional cântico "Queremos Deus", carregado por mim e outros jovens, alguns dos quais, creio, eram também seus ex-alunos.

As 8 horas do dia 5 de janeiro, após a cerimônia religiosa de Encomendação do Corpo, oficiada pelo Pe. Paulo Nogueira (pároco da Paroquia de Santo Inácio), o féretro deixou a residência, sendo conduzido a punho até o Cemitério Santo Inácio, por parentes e amigos. No cortejo, havia apenas algumas dezenas de pessoas, porém durante todo trajeto foi possível observar pessoas que de modo silencioso faziam sua homenagem a professora Zezé Melo, das quais ressalto a senhora Marieta (diretora aposentada da Escola Presidente Médice, residente à rua que da acesso ao cemitério), que apesar da idade avançada, colocou-se em pé na calcada de sua casa para ver o cortejo passar.

Estive no velório, fui no enterro e carreguei o caixão, com o sentimento de pesar pelo falecimento, mas com a alma cheia de gratidão a dona Zezé Melo. Aqui acola alguém que carregava o caixão dizia: "foi minha professora"; "uma excelente professora"; "professora como essa não existe mais"; outros ainda diziam " eu aprendi foi com dona Zezé, na época que existia o livro Marcha do Saber". E assim, o enterro chegou ao seu destino, adentramos a cidade para onde todos os viventes, cedo ou tarde, hão de fazer morada. Passamos pelo corredor principal do Cemitério Santo Inácio, convergindo na segunda rua a direita ate o jazigo da família da professora, em frente ao jazigo da Diocese de Pinheiro, onde repousam Frei José Precioza e Pe. Bento Dominici, dois grandes vultos da educação de Pinheiro.

Num último adeus, foi aberta parte da tampa do caixão, que permitia, pelo vidro, olhar a face de dona Zezé que era tão placida e serena, com um semblante de leveza de quem dorme o sono dos justos, com a serenidade de quem cumpriu sua missão, com um aspecto que, sem exagero, não parecia que havia falecido, antes de quem dormia um sono leve do qual a qualquer momento poderia acordar. Se de fato o era, ou se era a emoção da ocasião a me anestesiar a dureza inerente ao clima mórbido do cemitério... O fato que é que essa foi a minha impressão ao ajudar carregar e depositar o caixão no túmulo.

Mas de tudo ficou uma certeza que cada vez mais em mim se consolida: "os bons sempre serão lembrados". Muito obrigado por tudo dona Zezé Melo, as estrelas iluminem teu percurso ao céus e de lá resplandeça a alegria sem fim dos benditos, pois como já dizia Castro Alves...

Oh! Bendito o que semeia
Livros à mão cheia
E manda o povo pensar!
O livro, caindo n'alma
É germe – que faz a\palma.
É chuva – que faz o mar!

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NOVO & VELHO

A