segunda-feira, 30 de março de 2015

A ESSENCIA DE UMA ALEGRIA EM SUAS LUZES E SOMBRAS

Algumas datas são magnas pelo que significam. A significância é algo que entrelaça o racional e o emocional, na síntese de um sentimento maior que, por vezes, se transubstancia na sinonímia, intangível, de uma emoção que floresce na divisa de antônimos para conceber algo superior aos mesmos.
Em 30 de março de 1920, a antiga Vila de Santo Inácio do Pinheiro foi elevada à categoria de cidade sob a denominação de Cidade de Pinheiro, em homenagem ao capitão-mor lusitano Inácio José Pinheiro que, em 1806, demarcou – nas terras onde depois se erigiu aquela antiga vila – uma sesmaria de índios por ele batizada de “Lugar do Pinheiro”.
Pensar 30 de março de 1920 é mergulhar no tempo e meditar sobre os primórdios dos fatos que convergiram para o mesmo e compromissar-se, pois pinheirense de coração traz n’alma uma saudade do porvir e vivencia no presente – com as inúmeras possibilidades que florescem ao caminhar das horas – a sutileza de um compromisso enérgico: amar Pinheiro!
Após 95 anos daquela data magna, suspiros de antanho e antífonas de futuro evocam, no transpor destes últimos dias de março, sob os murmúrios dos “mansos ventos da chapada na cabeleira do babaçual”, uma história cheia daquela simplicidade bucólica que, ao mesmo tempo, paramenta-lhe com a majestade da realeza e coroa-lhe com a fidalguia da nobreza pungente e inata na brava gente pinheirense.
No veio das águas do Pericumã, o presente se espelha, em meio ao torpor da emoção que nasce da recordação dos dias idos e deságua na criação do município de Pinheiro, na sua emancipação política e no seu paulatino progresso social e econômico... Um sopro de desalento açoita-lhe a face e evidencia em seu redor uma realidade não tão bela: nem tudo são flores!
A constatação de que os verdes campos do Pericumã já não são tão verdes; as curacangas que outrora reinavam soberanas pelas noites nas ruas pacatas, deram lugar aos criminosos de toda espécie que assassinam o sossego e a paz pública; o novo se sobrepôs ao velho, sem dó e nem piedade, aniquilando-lhe quase todos os vestígios; a desigualdade social qualificada de egoísmo está sufocando a fraternidade, que nasce da consideração que antes nutria o povo pinheirense; o futuro está sendo assassinado antes de ser concebido; o babaçual já quase não tem mais babaçu e na Faveira, enfim, há de tudo, menos favas... Uma lágrima de tristeza, orvalhada da alma sentida, brota nos olhos do presente e se esvai até unir-se com as águas do Pericumã tornando-se imensa como ele, precipitando-se no mar.
Para não dizer que não falei das flores, chamo à baila a alegria de algumas constatações deveras salutares: a instalação de campus universitário e cursos superiores como, por exemplo, o de medicina, porém, neste caso específico, este sentimento implica reconhecer outra constatação que lhe diminui o gozo: o fato do número de pinheirenses ocupando as vagas do referido curso ser irrisório. Amarga evidência que assinala algo que não está bem!
Todavia, a vida prossegue e felizmente ainda oportuniza ouvir-se o ritmo sinfônico do tambor de crioula, o toque cadenciado das caixeiras do divino e o dobrado dos sinos da Matriz a ecoar no âmago do ser. É que, para quem ama, o tempo é um estar e ser o que será – em meio ao que foi – nas construções do agora e do amanhã.  Portanto, amar Pinheiro é tributar-lhe lugar cativo no peito devotando-lhe um bem querer que doa sem interesse, gosta sem explicação e ama com o inexplicável amor que move céus e terra e atravessa mares.
Quem ama cuida! Fica a advertência e a exortação para que nos próximos “trinta de março” possamos nas águas do Pericumã espelharmo-nos, para submergir no passado e antever um futuro, deveras promissor, em meio a um presente venturoso que reafirme a certeza de que é impossível amar Pinheiro sem cuidar de seus campos, de sua flora, de sua fauna, de sua história e de sua gente aguerrida por opção, boa por natureza e única pela sua consideração.
Ave Pinheiro, Jóia do Pericumã. Marchemos ao centenário, com fé e amor. Que a esperança se transforme em alegrias imensas, duradouras e repletas de luz!

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