quarta-feira, 21 de setembro de 2011

LEMBRANÇAS EM VERDE MAIOR


Hoje acordei contemplativo em demasia.

Abri a janela de meu Eu para vislumbrar o infinito de meus devaneios incontidos.

Suspirei saudade na brisa feita favônio que me afagou a face.

Tributei louvores ao Criador prestando reverência a criação.

Finalmente resumi tudo em um silencioso contemplar e... Sentado à sombra de uma árvore, fixei o corpo neste plano e com o espírito vaguei em vôos rasos e planos pelas lembranças que outrora à sombra de uma árvore semeei.

De repente planei sobre o céu pinherense de brigadeiro e no pátio da escola José de Anchieta aterrissei exatamente em um dia como este: dia da árvore. O motivo desse nostálgico passeio?! Qualquer coisa de altivo e sublime da sofisticada simplicidade de uma afável cantilena que lá aprendi, observando e acompanhando, no dia da árvore, a diretora, dona Maria do Carmo, cantarolar quando nós, alunos, comemorávamos o dia das árvores plantando-as no pátio do colégio.

Voei mas alto. Visitei as praças de meu Pinheiro e nas sombras das árvores de lá meu espírito sosseguei lembrando a melodia daquele cantarolar. Daquele hino singelo, tão esquecido e, nestes dias de tanto desmatar, conservo em verde vibrante a essência de uma saudade-esperança de ver um verdejante-sol no horizonte despontar!

         Festas das Árvores
        (Arnaldo Barreto)

Cavemos a terra, plantemos nossa árvore,
Que amiga e bondosa ela aqui nos será!
Um dia, ao voltarmos pedindo-lhe abrigo,
ou flores, ou frutos, ou sombras dará!

O céu generoso nos regue esta planta;
o Sol de dezembro lhe dê seu calor;
a terra, que é boa, lhe firme as raízes
e tenham as folhas frescuras e verdor!

Plantemos nossa árvore, que a árvore amiga
seus ramos frondosos aqui abrirá,
Um dia, ao voltarmos, em busca de abrigo,
ou flores, ou frutos ou sombra dará!

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VERSOS EM MEL

  
                         A minha rosa-menina, Adriana Penha, com todo amor
                       de meu bem-querer, no superlativo plural da hipérbole
                       do infinito, na data risonha de seu aniversário.
        
        ROSA - MENINA

Delicadeza guarnecida em espinhos!
Paradoxo que revela sutil cantar...
Ao soar incógnitas feitas caminhos
Das cifras de teu Eu feitas luar
Translúcido em delgado véu de linhos
Mistério em fases de um abismo-mar...
Quimera do ímpeto de adivinhos
Perfume caudaloso do destilar
De pétalas de calmos redemoinhos...
Rosa - Menina... Dogma e sofismar!

Forte sustenido em fragilidade!
Contraste que valsa de infinito...
Fragrância de indócil-suavidade
No sopro de brando-bravo desfolhar
Centelha de eterno... Imenso-restrito...
Essência de fugaz perenidade
Deleite que da brisa é sussurrar
Fascínio de delírio bendito
Menina - Rosa... Rosa - Menina...
Luz que a primavera fez decantar!

Fulgura que a insondável visita...
De sentimentos condensa em efusão
Do colorir de corola que entrevista
No exalar de aroma-turbilhão...
Sépalas de fugidio eternizar...
Proclamas de intangível carrilhão
Suspenso em esperança que palpita...
Eis botão entreaberto ao suspirar
Gigantismo que em pequenez crepita...
Rosa - menina... Primazia singular!

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sábado, 17 de setembro de 2011

Tempo bom que ficou pra trás


As boas vivências são dádivas arquivadas no coração em determinados momentos de nossa vida emergem e nos trazem a lembrança de um tempo que foi bom. Assim diz uma missiva que recebi de alguém que me é deveras caro e que hoje utilizo para subindo o mirante da existência, por-me ao peitoril da sacada de meu Eu para prestar continência de saudade a um tempo que foi bom.

Nesta continência, feita naquela linha divisória tênue que se chama lembrança, a recordação traz a efusão de tempos idos, impregnados de realismo singular que não raro causa aquela bilocação existencial de, estando no presente, vivenciar o passado que se põe faceiro ante os olhos, desfilando com todas as suas cores, perfumes e sabores na avenida da vida sob o cadenciar de um saudosismo que projetado no presente, nutri o desejo de perpetuação do âmago de tempos pretéritos.

Em meio aquela bilocação existencial, contemplo a Matriz de Santo Inácio que dobrando de seus sinos saúda a aurora, desperta a cidade de Pinheiro a qual logo se envolve em atmosfera fúnebre para despedir-se de um tempo que foi bom: um tempo em que no Natal tinha-se a procissão do Menino Jesus e na Semana Santa a do Senhor Morto; tempo em que a Catedral de Pinheiro tinha missa todo santo dia e não apenas de terça-feira a domingo; tempo em que havia a procissão da Virgem de Fátima em maio e de São Sebastião em Janeiro; tempo em que as Missas do Galo e de Passagem de Ano, bem como a vigília pascal eram realizadas bem próximas da meia-noite; tempo em que a fé que transpõe montanhas, fazia o povo vencer a distância e sair em procissão da Igreja de São José, no Fomento, até a Igreja Matriz no dia de “Corpus Christi”; tempo em que a Praça Pe. Newton Pereira tinha a vitalidade do verde das plantas e não a frieza e morbidez do cimento corrido; tempo em que Pe. Almir Lima Silva M.S.C. (Missionário do Sagrado Coração) era pároco e vigário da Igreja Matriz de Santo Inácio de Loyola, Catedral da Diocese de Pinheiro!

Um dia, porém, os fiéis estranharam o fato do padre não ter ido celebrar a missa matinal das seis horas e logo veio a notícia: o padre passará mal no caminho até a igreja, sendo socorrido por um moto-taxista que o levou até o Hospital Antenor Abreu, onde chegou próximo das seis da manhã com sintomas de infarto, vindo a falecer por volta das 6 horas e 22 minutos daquela segunda-feira, 16 de setembro de 2002.

A notícia ecou ligeiro nos quatro cantos da cidade que perplexa chorou com profundo pesar a morte repentina de seu vigário; o prefeito decretara luto oficial de três dias e o Colégio Pinheirense preparara seu salão nobre para velar seu diretor durante todo aquele dia, colocando um lençol preto que ia da fachada do último até o primeiro andar, bem como hasteara seu pavilhão a meio mastro. Ao cair da tarde contingente numeroso de pessoas, entre elas alunos, acompanharam o translado do caixão com o corpo do religioso até a Igreja Matriz, onde ficaria até a tarde do dia seguinte.

Naquele 17 de setembro, ao cair da tarde, a Catedral ficara pequena para a missa de corpo presente do padre defunto. As homenagens numerosas eram tributadas ao homem religioso, ao pinheirense estimado, ao educador incansável, que dirigiu o Colégio Pinheirense até o ultimo sopro de vida. Finda a missa a guarda de Honra da Banda Marcial do referido Colégio retirou o caixão da igreja nos ombros, debaixo de um profundo silêncio, quebrado somente pela cadência lentíssima de batidas de bumbo pelos demais integrantes da banda que, acompanhavam o cortejo, executando sons que se assemelhavam ao pulsar de um coração que desfalece.

A frente do cortejo até o Cemitério Santo Inácio, ia o Senhor Bispo e ao seu lado eu com outros coroinhas e padres que traziam nas mãos as flores deixadas durante todo o dia no velório e, por todo caminho pessoas se colocavam a esquina para ver o caixão conduzido a pulso por autoridades e pelo povo, enquanto um mar de gente se formava da Rodoviária até a Praça Pe. Newton, aumentando a proporção que a marcha prosseguia. Adentrando o corredor principal do campo santo, o cortejo convergiu a esquerda no meio do caminho que vai até a capela, seguindo em direção ao jazigo da família do morto que se acha no fim daquela viela e estando a catacumba aberta, as últimas orações eram feitas pelo padre italiano Nicolau Gizzi M.S.C. e quando o túmulo ia ser fechado, com a voz embargada, Pe. Geraldo Lima Silva, irmão do falecido, recitara três ave-marias, sendo acompanhado pela multidão.

Hoje, passados nove anos daquele ocorrido, a nitidez dos sorrisos largos, a consistência das homilias, a essência da jovialidade, o espírito de vanguarda, tradição e otimismo de Pe. Almir ainda se apresentam em cores vibrantes nas lembranças de quem o conheceu e se aquele tempo bom em que ele era vigário de Pinheiro não é mais possível, ao menos é possível tomá-lo por referência para que outros tempos bons frutifiquem no porvir!

Soldado de auroras, nunca se preocupou com quantidade: celebrava missas com um vigor próprio dos entusiastas não importando se na assembléia tinha apenas um os muitos fiéis, assim como também nas procissões. Homem cheio de conhecimento, humano e divino, vivia dizendo que o dia mais importante da vida do cristão é dia de sua morte, pois nesse dia parte para o encontro definitivo com o Pai.

Terminando esta continência de saudade a um tempo que foi bom, lembrando das palavras do saudoso padre para quem o mar só é imenso e único entre as obras da criação que pode refletir o céu (em suas águas) porque, numa atitude de humildade, se coloca abaixo de todos, só posso dizer uma coisa: Quanta saudade de você Pe. Almir!

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terça-feira, 13 de setembro de 2011

LETRAS ENLUARADAS

                    
           "Ao esplendor do reflexo das noites de luar pinheirenses nas centelhas das águas caudalosas e misteriosas do Pericumã". 

ROSAS A MEIA NOITE

Perseverança traduzida em cores
Que ante a debilidade das retinas
Tem seu brilho furtado ao entardecer
E que mesmo nos da escuridão horrores
Continuam coloridas a quem saiba ver...
Oh! Sois rosas nas carnificinas...
Prova que do horrendo nasce beleza
Que do desprezo grande açoite
Transforma em adubo para a glória
D’esterco faz belas rosas à meia noite!

Espetáculo para os bravos seres
No temor que da noite assalta...
Tranqüilidade que da luz provém
E dos que corajosamente seus teres
Deixam ante sonhos que põem em pauta...
Presente dos céus aos que amor tem
No mais profundo do âmago d’alma
Fazendo da perseverança açoite
Ao amargo que ao ódio bate palma...
Eis rebentar de rosas à meia-noite!

Tributo à generosidade
Que doa sem visar recompensa ter...
Alento ao mundo em putrefação
Que insiste em não se sanear...
Do eterno visita efêmera
Cheia de doce cordialidade...
De sutil melodia oferecer
Em tons de silenciosa canção
Eis das rosas... Oh! Das doces rosas...
Perfumar nas noites do coração!

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