Instante eterno
Embora seja da natureza do que é eterno a impossibilidade de mensuração com parâmetros próprios do que é efêmero; a eternidade se sublima e atinge a quintessência de sua plenitude quando, como que em um ato de generosidade e grandeza, se deixa sintetizar-se na efemeridade do instante transformando a fugacidade que dele é própria em infinito momento que, a despeito de exalar eternidade, dura apenas o intervalo de um relâmpago.
Nesse enlace amoroso em que o efêmero e o eterno trocam carícias, o universo se condensa na pequenez de um grão de areia para depois explodir em toda a sua vastidão nas dimensões do coração humano, acelerando-lhe o compasso das suas batidas para fazê-lo experimentar os limites do indizível, mediante as dimensões d’alma que transforma idênticas a imensidão que lhe é peculiar. E tudo porque há quebra de paradigmas e proclamar de paradoxos: o efêmero comporta nas dimensões de sua fugacidade a visita da eternidade; e a eternidade despojando-se de sua interminável infinidade, humildemente, valsa com o efêmero, ainda que por milésimos de segundos, num contraste em que as características de ambos deixam-se contagiar mutuamente.
Todavia, é apenas uma visita, um valsar sutil e sublime que sendo eterno dura apenas a fugacidade de um instante, mas produz fruto saboroso e de agradável degustação; que sacia e sem causar enjôo só aumenta cada vez a fome, que sacia gerando mais e mais fome com o desejo de ser saciado e transubstancia-se na mais sublime, pura e autêntica saudade que floresce dessa fugacidade-eterna.
A constatação desse mister é algo que não convém em palavras pormenorizar! Semelhante ao que ocorre com praticamente quase todas as boas coisas da vida, nem sempre explicar traz aos sentidos a satisfação que o simples sentir proporciona. Trata-se daquela satisfação que sacia pelo deleite de simplesmente sentir o frescor daquele mister que se esvai, no caminhar das horas, pelo soprar do tempo, deixando antes a fragrância impar, que lhe é particular e faz imortal, obliterada nas lembranças sob o pálio do que é inesquecível; e tudo em meio a sinfonia do silêncio que, de todas as melodias existências, seja talvez a única capaz de transformar o instante em momento imortal.
Quanta sonoridade, aliás estridente, no som do silêncio que serpeia uma troca de olhar; de um singelo e discreto sorriso; o rolar silencioso de uma lágrima; a sutileza de um gesto ou mesmo um aceno... Quanta eternidade não exala da tenra duração de tais momentos! Quanta efemeridade não se transmuta em eternidade e faz desses momentos instantes eternos que valem toda uma vida! Aliás, que instante eterno não o é esse que, por epíteto, chama-se vida.
Se o explicar não ocasiona a mesma satisfação que o sentir, que tal simplesmente sentir o instante? Sim; o “agora”, o momento que floresce e murcha diante de nossos olhos. Como senti-lo? Vivê-lo parece ser uma boa pedida. Como vivê-lo? Que tal tentar simplesmente valsar com o agora no ritmo em que se apresenta, mas com o compasso da vontade de simplesmente ser feliz? E se a empreitada lhe parece tentadora, a recomendação para uma boa dança, com direito a bis e tudo mais, Vinicius de Morais bem a deixou: “que não seja imortal posto que é chama, mas que seja infinito enquanto dure”. O agora... o instante eterno! O outono não para é agora. É pra depois!
O ecoar das efemérides vivências na eternidade... Nós somos construídos dessa matéria. São nossas vivências que nos definem. Certamente que não quiseste porfiar por este curso que tomo, mas o encontro do efêmero e o eterno são mais comuns e corriqueiros do que se nos assemelha, posto que estão imiscuídos. Afinal, o todo é composto de fragmentos. Excelente texto. Obrigado pela oportunidade de refllexão.
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