quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

SAUDAÇÃO AO ANO QUE PASSA

Como os poetas que já cantaram,
e que já ninguém mais escuta,
eu sou também a sombra vaga
de alguma interminável música.

Com estas palavras do gênio poético de Cecília Meireles, quero oficiar as despedidas inerentes a este dia - derradeiro do ano. De fato, todo final de ano possui, no mais das vezes, sob a ótica da coletividade, uma gama emocional em que saudade, esperança, ansiedade e expectativa causam um sentimento difícil de ser explicado com palavras.
Os poetas já cantaram; os dias já se passaram e as noites também; as alegrias já floresceram, outras tantas já murcharam e há aquelas que perduram como se fossem uma eterna primavera enquanto o ano vai dando seus últimos acenos. Por educação, entendo que deve haver recíproca nos acenos, afinal o ano que passa ofertou, generosamente, dias que foram vividos conforme o alvitre das circunstâncias dos propósitos de cada pessoa e das forças empregadas para fazê-los reais.
A realidade estruturada durante o ano que finda é resultado das escolhas feitas a todo instante, dia após dia. Portanto, não parece responsável classificar o ano como bom ou mal, alegre ou triste, responsabilizando-o por atos nossos. Exatamente, por isso, ele não é igual a todos, embora a todos disponibilize igual quantitativo de dias, horas, minutos e segundos.
A luz do entendimento aqui defendido, não convém dizer “adeus ano velho”. Há pessoas a cujo respeito a passagem de ano em nada influirá: seja porque neles a mesmice estagnante e inconsciente fará do ano que se aproxima pura velhice; seja porque nele a diversidade criativa e consciente que preserva, permitindo-se inovar, descobrirá e se fará arquiteta da novidade, fazendo do novo uma construção diária e constante.
Em uns o conhecimento de causa sobre o que pode vir a ser o velho e abundante e constante; em outros a abundância e a constância de conhecimento é sobre o novo, porém existem também aqueles que experimentando o velho caminham paro o novo e vice-versa e desta constatação para resposta da indagação sobre qual o caminho correto, dou as mãos a São José de Anchieta para dizer "o caminho se faz ao caminhar".
Para alguns a passagem de ano não simbolizará a passagem de um estado de velhice para um estado de novidade, mas tão só a transposição de um dia a mais de uma contínua novidade. Sejamos a interminável música, cheia de novidade, repleta de luz.
A sombra será sempre resultado de posturas covardes; embora vagos, tenhamos a coragem de iluminar, porque a luz, em si mesma, não possui sombras nem se permite sombrear, crepita em estado gracioso, o qual não é velho e nem novo.
A todos, até mesmo ao instante que respira-se, Luminosidades e à passagem de ano, Graciosidade. Com Cecília Meireles que cantou, e ainda hoje se faz escutar, concluo com cânticos, afinal o canto é bem maior que a razão:

Faze a tua palavra perfeita. 
Dize somente coisas eternas. 
Vive em todos os tempos 
Pela tua voz. 
Sê o que o ouvido nunca esquece. 
Repete-te para sempre. 
Em todos os corações. 
em todos os mundos.
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sábado, 14 de novembro de 2015

O BEM VIVER

A vida bem vivida é um bem cuja grandiosidade reside na ausência de grandeza, em se tratando dos padrões de acumulação, haja vista a impossibilidade do “bem viver” coadunar com a ideia de “armazenamento”, pois esta permite aglomerar, tanto o bom como mal, ao longo de reiterados dias.
Saudade sim, sentimento sublime, abraça a noção de armazenamento e o faz de modo benéfico porque armazena somente bondades e nisso repousa o seu valor, por assim dizer, transcendental. Destarte é que nunca se ouviu dizer que alguém sinta saudade do que lhe causa sofrimento, dor ou algum malefício e um viver sem nenhuma fagulha de saudade é grave diagnóstico de uma vida mal vivida.
Portanto, cada dia a sua vez é uma vida e em cada dia, renascer e/ou morrer, um pouco, é escolha solitária da qual o vivente é supremo senhor, dentro do arbítrio de decidir. 
Ainda que sob a égide de adversidades ou coações que, muitas vezes, tolhem a vontade, mesmo assim renascer e morrer é uma escolha diária que, de modo involuntário talvez, se processa nas aspirações que as subjetividades engendram no ideário de vida de cada pessoa.
É possível sofrer pressões externas emergentes das mais variadas situações, contudo os anseios d’alma são indiferentes a tanto, encontram-se em um patamar elevado, protegidos pela berlinda da esperança que em seus suspiros profundos chancelam a possibilidade de sonhar. 
Sonhar é o sublime penhor de viver. Quem não traz no peito uma utopia está gravemente doente e sequer deu-se conta de seu estado moribundo, no qual se processa a putrefação espiritual que engendra o perecimento da matéria que, pela sua própria natureza, já é perecível.
O espírito, imperecível por essência, quando entra em estado de putrefação, a míngua de ilusões, envenena-se com desilusões. Porém sonhar não é se iludir. Um sonho é uma enseada no mar das possibilidades do ideário criativo que habita todo ser humano.
Quando sonhamos nos libertamos das pressões e das amarras próprias das dimensões de nossas limitações e ao desprendimento do torpor do sono, a vastidão do subconsciente, reino do invisível onde o impossível não tem prestígio tampouco existência, tudo se cria e recria, inventa e reinventa.
Há quem sonhe acordado e nisso nada há de mal se o sonhador, imbuído e embebido, de auroras se predispõe a contemplar o sol para depois concebê-lo em si de modo inteligente e com sabedoria.
Uma diferença é clara: vida é o milagre das possibilidades que se oportunizam; a oportunidade é um estado criativo que pertence ao momento; viver é o coletivo de vida; vivente é o administrador e promotor desta coleção.
A vida bem vivida é uma consequência natural, um desdobramento contínuo da compreensão da diferença integrativa existente entre vida, oportunidade, viver e vivente e da disponibilidade e compromisso deste último em protagonizar seu papel de modo dinâmico, consciente e consistente.
             O mais é pura vivência: Vida + Experiência; Vida + Consciência; Vida + consequência. A vida é o enigma de ser, então sejamos, apenas sejamos, pois o “ser” pertence ao momento e ele é todo oportunidades.
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quinta-feira, 1 de outubro de 2015

LEMBRANÇAS DE OUTUBROS

Em torno do dia primeiro de outubro muitas recordações orbitam, de modo singular para mim. Hoje, festivamente, celebra-se Santa Teresa de Lisieux, ou simplesmente Santa Teresinha e a memória desta festa litúrgica evoca-me a capela da referida santa na minha cidade natal.
Ao dobrar do sino da singela, porém acolhedora, capela de Santa Teresinha, lá em Pinheiro, a humildade do recinto faz-me lembrar dos tempos idos quando em meu coração nasceu está devoção que tornou-me advogado. Explico.
Primeiramente preciso fazer memória da minha querida avó do coração, Julieta Ferreira Pereira. Ao tomar-me pela mão, foi quem ensinou-me o caminho daquela pequena capela, o mais surgiu naturalmente.
Quando alguém conclui o ensino médio e se prepara para o vestibular, dá preferência aos cursos com os quais mais se afeiçoa, no meu caso a filosofia. Porém, quando dada por certa a necessidade de partir de meu torrão para cursar faculdade em São Luís do Maranhão, aconteceu algo inusitado.
Antes de escolher o curso que iria fazer comecei por escolher as instituições de ensino Superior, utilizando por critério aquelas com carisma cristão ou então denominadas com nomes que remetessem ao sagrado sob a ótica de minha convicção religiosa. Então fui listando aquelas com nome de santos e quando encontrei uma com o nome de “Santa Terezinha”, dei-me por satisfeito e encerrei a procura. Agora faltava apenas definir qual dentre os cursos ofertados em pleitearia.
Na faculdade homônima da santa que hoje se celebra, os cursos eram quase todos relacionados a área da saúde e eu não tenho inclinação para essa área, por falta da coragem necessária para assumir a responsabilidade de tratar de modo mais direto de algo tão precioso como a vida humana. Entretanto, no turno noturno, havia um curso que a pouco tempo começara a ser lecionado, era o curso de Direito.
Parei, refleti um pouco e pensei, afinal Direito é curso muito concorrido e talvez não lograsse êxito, porém o nome da instituição de ensino deixou-me fascinado e ao visitá-la pela primeira vez ficou cheio de força ao encontrar na entrada do estabelecimento uma imagem da Santa das Rosas rodeada de rosas. Confiei em Deus e pela intercessão de Santa Teresa de Lisieux obtive êxito. 
Hoje vejo em volta e digo que valeu a pena. Ouvir o coração e confiar-se a fé providente é sempre o melhor caminho. Só é pena que em volta não tenha mais a presença, física, da minha avó do coração. 

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segunda-feira, 28 de setembro de 2015

EMANCIPAÇÃO PINHEIRENSE

No dia 03 de setembro de 1856 o Presidente da Província do Maranhão, Antônio Candido da Cruz Machado, assina a Lei Provincial n° 439. Eleva à categoria de Vila a antiga sesmaria indígena demarcada pelo Capitão-mor Lusitano Ignácio José Pinheiro e batizada como o nome de “Lugar do Pinheiro”. 
Anos depois – 1920 – o ato deságua na criação do município homônimo.Naquele ano bissexto de 1856 – ano do nascimento de Freud – uma peste varre a capital da Província do Maranhão e faz sucumbir dezenas de pessoas diariamente. Todavia, nos campos de Pericumã o progresso sopra com tenacidade e sustenta-se na agropecuária bovina e no cultivo de roças de milho, feijão, mandioca e congêneres.
O Brasil apresenta-se uma monarquia, o Maranhão uma enorme província e a capitania de Cumã um rincão banido das benesses da civilização da época pelo isolamento, sobretudo geográfico. Este é o cenário no qual a antiga Freguesia de Santo Inácio do Pinheiro ascende ao patamar de Vila e EMANCIPA-SE. Sabe-se através dos relatos Cesar Marques, coligidos no célebre Dicionário Histórico e Geográfico da Província do Maranhão, que o “Lugar do Pinheiro” sofreu bastante com o descaso das autoridades daquela época, pois não havia qualquer assistência religiosa, tampouco social, embora altíssimos impostos fossem cobrados.
O magno três de setembro, com desfiles estudantis e demais pompas, é realidade que procede do vigor intrépido da boa gente deste torrão, que de longas datas enfrenta as adversidades sem perder o ânimo e nem a picardia.Mas por trás da festividade que possibilita o presente se irmanar ao passado através da comemoração do acontecimento, fica a reflexão de que aquela vila que hoje é cidade, está perdendo a emancipação conquistada com bastante luta. Provo.
Flagela a sociedade deste século a penumbra do obscurantismo que desponta sob o patrocínio da ignorância. E não é sem razão: faltam escolas, faltam políticas públicas para uma educação de qualidade e acima de tudo se está faltando com o respeito aos professores, sonegando-lhe um salário compatível com a dignidade inerente ao oficio que exercem.
A realidade salta aos olhos, o curso de medicina instalado em Pinheiro não possui nenhum pinheirense entre os matriculados. Seria isto um reflexo da falta de interesse dos nossos jovens pelo referido curso? Não. Isto é um reflexo de uma educação limitada e que, como tal, promove discrepâncias sociais e abismos de desigualdades.
A noção de emancipação perpassa o indivíduo, nas várias áreas da atuação humana, para poder conceber-se em uma sociedade. Um povo educado não pode ser dominado e é a liberdade (na acepção mais substancial do que sugere) um reflexo que comprova e mensura o grau de emancipação de um homem, de uma cidade, de um país.
Promoção da educação com esmero e qualidade garante a verdadeira emancipação. Enquanto isto não retrata um aspecto social que direciona os rumos de sociedade, não há progresso, há retrocesso e toda espécie de atraso, principalmente intelectual. Será essa a explicação para o fato do território da Princesa da Baixada atualmente ser pouco mais que a metade da época em que tornou-se cidade?
Pedro do Rosário e Presidente Sarney são dois municípios que se encontram onde outrora era território pinheirense. Sem nenhuma objeção ou convicção de caráter depreciativo aos referidos municípios, é imperioso despertar para uma consciência holística e de emancipação, urgentemente, antes que o retrocesso nos sufoque a ponto de retirar todo o fôlego.
Avancemos com o coração feito escudo e lança. Paladinos de uma educação de qualidade, formemos fileiras contra o obscurantismo na defesa da nossa dignidade de pinheirense para que a emancipação conquistada por nossos avós se plenifique a cada geração.

Salve Pinheiro!

                 Acd. Mauricio Gomes Alves.

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P.S: Discurso proferido, pelo Acd. Agnaldo Mota, no Salão Nobre da Usina de Ideias por ocasião de Sessão Solene da Academia Pinheirense de Letras Artes e Ciências, alusiva a emancipação política do Lugar do Pinheiro.

domingo, 9 de agosto de 2015

MEMENTO MORI

Vivemos na contemporaneidade uma quebra de paradigmas e de ruínas onde caem por terra as mais sólidas convicções e valores, fruto de uma pseudo inovação que, na ânsia inconsequente de renovar tudo, acaba por deformar sem se dar conta.

A tecnologia e o progresso industrial se soerguem a noção de solidariedade, de fraternidade e humanidade; à máquina é atribuído valor superior ao homem, sobremaneira no que tange a sua dimensão imaterial, transcendental.

O comércio, famigerado pelo lucro, aliena. Trabalhadores são reféns das necessidades econômicas implantadas pelo sistema vigente, no qual a distribuição de riquezas de modo desproporcional referenda esta nova modalidade de escravidão que é ditada pelo capitalismo que oprime e sujeita os trabalhadores a uma paulatina alienação pela relativização e negação de suas crenças e valores.
Só para ilustrar, pertence ao passado o tempo em que dia das mães, ou dia dos pais, era festejado em família; em que no natal, ou na páscoa, as famílias reuniam-se. Hoje tudo é passado, o comércio não mais permite, ignora todo e qualquer feriado, mesmo os de cunho familiar. É como se quem fosse comerciário não tivesse direito a comemorações em família.

Vive-se uma correria desenfreada para nada, ao final tudo passa e fica só a poeira do esquecimento. Reflito e chego a constatação de que procede um adágio que li certa feita, segundo o qual para conhecer o grau de desenvolvimento de um lugar é mister visitar uma praça, uma escola e um cemitério.
Na escola observa-se o grau de importância a construção do futuro; na praça se observa o comprometimento com o presente; e, no cemitério o valor que é dado ao passado e ao cultivo da memória, sem a qual é impossível vislumbrar qualquer ideia de presente ou futuro, afinal memória é fundamental.
Estando na minha terra natal no começo do mês em curso, mais precisamente no dia 03, passei na porta da Câmara Municipal e vendo o jardim daquela casa legislativa todo desgrenhado (grama alta e arbustos ornamentais em desalinho, bem como a presença de ervas daninhas) resolvi por a prova aquele pensamento sobre o grau de desenvolvimento de um lugar e então direcionei meus passos ao Cemitério Santo Inácio.

Estando no cemitério encontrei o passeio principal até arrumado e por ele caminhei até o cruzeiro e a capela (que de capela pouco tinha, parecia mais depósito de materiais de construção como tabuas, areias, cimento, tijolos), mas foi suficiente caminhar em direção de alguns passeios transversais para constatar uma realidade ainda mais triste que aquela do jardim da Câmara Municipal.
Ao tentar visitar o túmulo de alguns entes queridos tive minha intenção prejudicada e fui obrigado fazer minhas preces a distância com uma enorme tristeza diante daquele cenário: os passeios transversais que davam acesso ao meu destino (e os demais em sua maioria) estavam cheios de ervas daninhas. 
Ainda empreendi forças para arrancar alguns ervas daninhas e facilitar minha passagem, contudo deparei-me também com arbustos cheios de espinhos que se embrenhavam de tal modo que prejudicavam a passagem, afinal cresceram tanto que estavam com aproximadamente 130 centímetros de altura: claro sinal de que há muito o poder público não realiza qualquer capina no local. E para todo lado que me virava não via uma alma, nem viva e nem morta.
Confesso que era preferível ver alguma alma penada a ter que caminhar por aquelas passagens tomadas pelo matagal e por inúmeros camaleões, gigantescos por sinal, sem contar outros animais que rastejavam e que eu não consegui identificar. O abandono era total e aqui não me refiro aos túmulos (que são particulares) mas aos passeios e ruas daquele que é o mais tradicional cemitério de Pinheiro. 
A fachada daquele secular Campo Santo, em estilo creio que neoclássico, datada do final do século XIX, apresenta rachaduras, fruto das raízes de árvores que cresceram há meses e que ameaçam a integridade do portal, pois são rachaduras de mais de 1 metro em diversos lugares, principalmente na parte superior onde Embaúbas se destacam, Como seria bom se o dia de Finados fosse comemorado todos os meses do ano!
Diante do que vi e senti, uma enorme tristeza pairou. Vi naquele cenário um diagnóstico e termômetro do grau de evolução social não só de Pinheiro, mas o Maranhão e do Brasil, este último mergulhado na lama da corrupção. Haverá saída? Não sei, contudo olhando para aquele cemitério e o descaso no qual está não convém, e nem quero, encontrar culpados ou dizer a esta ou aquela autoridade como proceder, apenas trago à baila uma secular aforisma latino: “memento mori” (lembre-se de que você vai morrer).
Encerro estas linhas com a pena da recordação e as tintas da nostalgia; com elas, avivo a expressão latina “memento mori”. Que a contemplação do ocaso da vida, sob o ponto de vista corpóreo, infunda no Ser Humano a consciência da necessidade de evolução, a qual mensurada no estado das escolas, das praças e dos cemitérios. 
Em relação aos cemitérios, e mais especificamente o Santo Inácio de Loyola, em Pinheiro-MA, o qual relativamente pequeno (aproximadamente 30.000 m²) apenas uma constatação: o descaso que hoje é protagonizado, amanhã vitimará os que hoje o protagonizam, independentemente do cargo ou posição de ocupam, afinal memento mori.

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quarta-feira, 1 de julho de 2015

A LUA DE JULHO E SUA MARÉ DE LUZ

O decurso do ano de 2015 está propiciando momentos singulares, de encanto e deslumbramento, que fazem muitos fixarem a visão ao firmamento e não é pra menos, afinal os protagonistas são os corpos celestes. 
No anoitecer do dia 30 de junho os planetas Vênus e Júpiter se alinharam numa espécie de bailado cósmico que, segundo os iniciados na astrologia, é resultado da órbita dos aludidos planetas, fato que proporcionou a aproximação dos mesmos na última semana. Com efeito, o acontecimento pode ser visto com facilidade, pois ocorreu de maneira tal que dispensou a utilização de aparelhos como, por exemplo, binóculos.
O mês de Julho, por sua vez, já começou sob os auspícios de uma lua cheia que desponta logo no primeiro dia do mês, com a particularidade que também será a lua cheia quem fechara o mês, contudo com mais encanto e beleza do que iniciara, haja vista no dia 31 de julho está previsto um fenômeno lunar excepcional, assim como o é o fato de um mês possuir duas luas cheias.
Aos acontecimentos que sucedem no plano da visibilidade da existência humana, a notoriedade é pertinaz em sublinhar os antagonismos e antônimos: Alfa e Ômega; início e fim, etc. De certo modo, este destaque que em principio seria um sublinhar, transubstancia-se, em algumas ocasiões, em um "sublimar" quando à invisibilidade é permitido desfilar o colorido de seus matizes.
Com especial sutileza e encanto aquela lucubração, contemplativa, amealha dimensões e parâmetros antagônicos que se fazem visíveis e perceptíveis, na polarização que define o mês de julho de 2015, assinalada pela ocorrência de duas luas cheias que prometem ser, sucessivamente, uma mais linda que a outra.
A notoriedade visita o início de julho e também visitará o seu final – ao menos as ciências astrológicas prevêem – com a lua cheia, sendo que na segunda ocasião ocorrerá um fenômeno astrológico que deixará o luar com um brilho e uma proporção diferente do que hodiernamente lhe é peculiar e a diferença é para mais, não para menos. 
Neste ínterim, a contemplação faz florescer uma lição: a expectativa – primogênita da notoriedade – impregna nos sentidos e na imaginação uma ansiedade que, quando mal administrada, resulta em decepção que compromete o antes, o durante e o depois.
A decepção torna sem sentido o tempo empregado na espera; torna desolador o durante e deixa ao depois, por legado, a desilusão, em toda potencialidade de seu amargor. Tomando Julho por espectro ou mesmo álibi da quimera de existir, a constatação de que o tempo sempre ratifica o que merece sê-lo, impele no ser o inarredável compromisso de evolução, a qual não se confunde com progresso, mas antes se traduz na sinonímia do desejo e da busca da perfeição – como o luar de julho, desponta belo e caminha na senda que deságua no aperfeiçoamento dessa beleza.
É em razão dessa evolução que os bons sempre são lembrados; cintilam na escuridão, fulgurantes da imortalidade que sopra a poeira do esquecimento com a delicadeza de quem cultiva violetas e, com a impetuosidade do mar bravio, propaga suas lembranças na serenidade peculiar de um porto seguro.
A perfeição da condição humana é a benignidade, sobremaneira aquela que ocorre em mínimas proporções; é que o universo na sua grandiosidade e magnitude se compõe de minúsculas moléculas. As estrelas, por exemplo, que na visão humana aparentem ser pequeninas, em verdade são bem maiores, inclusive na essência - e essência faz magnas as coisas: sutileza singela que intriga e descortina em amplidão, o restrito e a imensidão da vastidão cósmica do universo. 
A vista destas lucubrações que se me assaltam neste primeiro de julho, não posso, de maneira alguma, olhando a lua e o transcurso do dia, não recordar meu avô paterno, Júlio Alves, homem centenário que vivia embarcado, homem do mar, porém com pé na terra firme e amante do luar, esse mesmo luar que lembra dias idos e que rebrilha saudade. 
Completaria meu avô paterno 106 anos, se vivo fosse, contudo foi habitar o insondável em agosto de 2010, abandonando a visibilidade para revestir-se do invisível no qual sua lembrança cintila para mim de maneira especial, assim como este luar de julho, protagonizado pela sutileza da lua que ele ensinou-me apreciar e que tantas vezes foi por ele contemplada, refletida nas águas da baia de São Marcos. 
Então um valor maior se levanta; é a consideração que independe de laços sanguineos, mas que de modo algum os despreza. Considerar é saber valorizar e valorizar e ter consciência do valor que as coisas possuem, exatamente por isso, já ensina a sabedoria popular que "pelo santo se beija o altar".
Ao clarão do luar, portanto, a luminosidade sugere muito mais que claridade, sugere a necessidade de cada pessoa, a exemplo da lua, administrar as fazes de sua existência de maneira a obter seu próprio clarão – visível e intangível – a fim de que quando o insondável se fizer invisível e nós partículas dele, a notoriedade não seja algo polarizado, porém linear e com a constância de uma evolução, oficiada pela benignidade, a promover uma maré de luz e o invisível congregado em poesia, canto e imensidão que ultrapassa os domínios da notoriedade para valsar com a eternidade ao luminoso som do inesquecível. 

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quarta-feira, 24 de junho de 2015

São João no Maranhão: Igreja & memória

Com singular esmero o dia de São João, foi preparado na paróquia de mesmo nome, cuja Matriz – tangenciada pela Rua da Paz – fica no coração do Centro de São Luís do Maranhão.
A secular imagem do padroeiro foi descida do altar-mor, para veneração dos fiéis, durante toda a novena preparatória e o pároco cumpriu com maestria o encargo que lhe compete, sobremaneira nas homilias, proferidas com uma magnitude que revelam seu empenho para com o festejo.
O ano de 2015 para aquela comunidade ganhou um brilho todo especial, realçado pelo deslumbre de uma emoção: transpor a soleira do tempo que assinala a passagem dos 350 anos da edificação daquele templo consagrado a Deus, pela fé, e também, pela devoção, a São João Batista.
Ao longo de mais de três séculos quantas marcas, quantas lembranças e quantos acontecimentos: o templo que nasceu de uma promessa, projetado para ser uma capela, tornou-se igreja matriz. Para assinalar a passagem dos 350 anos da edificação religiosa, a missa de São João teve toda solenidade; o renomado coral São João – assim chamado porque germinou entre as paredes daquela casa de oração – altaneiro ergueu a voz para louvar a Deus entoando as mais belas músicas sacras durante a missa, homenageando aquele lugar bendito onde começou dar seus primeiros passos.
Os sinos da igreja erigida em 1665, entretanto, por razões que acredito decorrerem de manutenção da infra-estrutura secular, não tocaram com o vigor de antes: desafiar a passagem dos séculos é algo que exige manutenção e, lamentavelmente, vivemos em uma época de muita insensibilidade, sobretudo das autoridades, para com a preservação cultural e ambiental.
Um dos sinos da torre estava posto no chão da igreja matriz e não dobrou festivo quando o andor com a imagem do precursor de Cristo saiu em procissão, mas para a ausência do badalar de sinos, concorreram os fiéis com caloroso aplauso e dada a quantidade de pessoas, aqui e acolá ouvia-se, bela e fervorosamente, irromper em alta voz: “ viva São João; Viva!” A fé fez as vezes dos sinos e ignorou a circunstância imposta pelo transcurso de quase quatro séculos.
São João Batista era filho Santa Isabel, prima da Virgem Maria, tia de Jesus e sobrinha de Sant’Ana. Portanto, Sant’Ana era tia de Santa Isabel e tia-avó de São João. Por isso mesmo, mereceu singular tratamento a passagem da procissão diante das Igrejas de Nossa Senhora do Carmo e de Sant’Ana. Em ambas as igrejas os sinos dobraram retumbantes tão logo a procissão por elas passava e, na porta de ambas, o andar de São João parou, sendo que na Igreja de Sant’Ana demorou-se um pouco mais: tempo suficiente para rezar um Pai-nosso e algumas Ave-Marias.
Finda a procissão, movida pela fé – aquela mesma que move montanhas – outra vez ecoou imensa salva de palmas quando o andor com a imagem de São João Batista subiu a escadaria da igreja de que é patrono.
No alto da escadaria, outra vez a imagem foi volvida para o povo que, aglomerado na pequenina praça, empunhava nas mãos as velas – já abaixo da metade – levadas durante o cortejo de fé. A pedido do pároco, Pe. Heitor, um enorme e imenso silêncio fez-se ouvir nas imediações da igreja e nele a prece silenciosa de cada um foi dirigida a Deus pela intercessão de São João; um silêncio altivo e vibrante de uma sonoridade estridente.
Para a adversidade advinda do descaso do Poder Público que não disponibilizou meios para que de modo mais belo se realizasse aquele ato de fé – que também se traduz em uma das manifestações mais caras da cultura ludovicense e maranhense – socorreu a gratidão de muitos devotos, pelas graças obtidas, com o empenho necessário para fazer a data jubilar não passar em branco e grupos folclóricos, em especial de bumba-meu-boi, generosamente se apresentaram na frente da igreja em louvor a Deus pela mercê de São João.
Nas fogueiras acessas neste dia na Ilha do Amor, para os que as tomam por testemunhas de supremas verdades, fica o clarão de uma certeza de fé e convicção: o tempo sempre se encarrega de ratificar aquilo que merece sê-lo.
A história é o povo quem faz e o que atravessa gerações merece respeito e tem valor. Ontem e hoje, as gerações passadas, no plano do invisível, e as presentes, no plano da visibilidade, há 350 anos unidas proclamam: Viva São João!

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segunda-feira, 15 de junho de 2015

PADRE GERALDO: UMA SAUDADE PERFUMADA DE LUZ


Pe. Geraldo Lima Silva
   Pinheiro-MA
* 04/01/1934  + 14/06/2015

Ao anúncio do súbito falecimento do querido padre Geraldo Lima Silva, o céu azul anil pinheirense vestiu-se com aquele cinza pesaroso e chorou, precipitou sua imensidão em chuva torrencial que, como que num soluçar de dor, ia e vinha com intermitência; os sinos da Catedral choraram; o sol, como que num gesto de solidariedade, recolheu-se de forma amena; por todo lado a brisa fagueira soprou velozmente espalhando a notícia, causando um furação de tristeza.

Como definir Pe. Geraldo em uma palavra? Para mim, particularmente, a mais adequada seria amigo e digo seria porque, neste momento de separação, seu nome se traduz em sinônimo de saudade que já começa a se fazer imensa, como as águas do Pericumã a inundar os campos de Pinheiro. Dele nunca se viu no rosto a sombra de cansaço. Como coroinha, convivi com ele de perto e dou testemunho do que vi: era ele quem acordava o sol para rezar a missa; aos domingos fazia uma verdadeira maratona para celebrar cinco missas e ainda fazer desobrigas onde promovia uma média de dez batizados na zona rural.

Das 6:30h – hora da missa dominical matinal na Catedral antigamente  apenas as 15h, quando voltávamos das desobrigas, famintos, ele descansava e bem rápido; as 17h voltava a celebrar missa, a qual seguida de outra as 19:30h: desdobrava-se em quantos fossem necessários para que Deus fosse louvado. Nele ganhou vida a inscrição que principia a fachada da Matriz de Santo Inácio: tudo para a maior glória de Deus. Sacerdote, poliglota, professor, músico e poeta: ao passar pela Catedral deixou-a com os afrescos que tanto a embelezam; proferiu homilias fecundas e edificantes, cheias de uma sofisticada simplicidade; e, compôs dois hinos em louvor a Santo Inácio, um mais belo que o outro, tanto na letra como na melodia.

Quando deixou a administração da Catedral, os paroquianos renderam-lhe uma justa homenagem, impregnada de gratidão pelo trabalho desenvolvido. Naquela ocasião ele emocionou-se e até chorou, mas logo em seguida, para não ficar refém da emoção, fez desabrochar sorrisos nos lábios de todos; disse cheio de bom humor, em meio a risos, naquela sua voz grave inconfundível: eu pensei que eu tivesse morrido, porque ouvi tantas coisas bonitas e geralmente só se diz essas coisas quando alguém morre.

Agora aquele vigor intrépido e a sonoridade do timbre daquela voz firme e vibrante que animava nossas procissões são silenciados pela lápide fria que tombará o corpo desprovido de vida; a sua existência começa a se diluir no oceano sem fim da centelha daquela Eternidade que se celebra em cada missa. Doravante habitará o invisível, porém tornou-se inesquecível; continuará na corporeidade do pulsar dos corações que cativou e que agora se abrem como sacrários para guardar-lhe a memória, o sorriso, o olhar, a voz e a canção.

Na efusão da emoção que floresce ao clarão da vela silenciosa que se consome; aqueles sentimentos caros que emergem do âmago d’alma – por não poderem ser transmitidos em palavras – fazem fechar os olhos para enxergar-se através da fé; cintilam na lembrança as homilias onde dizia que santo é todo aquele que faz a vontade de Deus. Então, com os olhos da fé, vejo seu irmão Pe. Almir, na porta do céu, juntamente com São Pedro a dar-lhe as boas vindas, bem como Cristo pressuroso, com uma batuta, para incumbir-lhe de reger, ensaiar e dar o tom ao coro dos anjos que cantam louvares a Virgem Maria que lhe abre os braços e sorri.

Deus te chamou, ele te acolha meu amigo. E já que santo é todo aquele que faz a vontade de Deus, a sinceridade de minha amizade hoje te canoniza: São Geraldo de Pinheiro; rogai por nós!

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terça-feira, 9 de junho de 2015

O MILAGRE DE SÃO JOSÉ DO BRASIL

Tu és um mito de saber do meu Brasil
Jovens alunos somos teus guerreiros
Trago no peito o teu nome com orgulho
José de Anchieta apóstolo brasileiro.
Tua bandeira simboliza a luta
Tuas cores vivas sempre a cintilar
Azul, vermelho e branco são mais fortes
Meu Anchieta orgulho de todos nós.
Minha Pinheiro te abraça tanto
São esses laços que me faz feliz!
José de Anchieta somos todos nós
Lutando pela educação deste país

Com estas estrofes do hino da Unidade Escolar José de Anchieta da cidade de Pinheiro-MA, da qual com orgulho sou egresso, começo a tecer as linhas desta que é uma simplória homenagem que emana do imperativo de justiça que se sintetiza na máxima que “a justiça é a vontade constante e perpetua de dar a cada um o que é seu”. Os bons devem ser lembrados, lembrá-los é questão de justiça.

José de Anchieta, é um brasileiro que, como diria meu confrade Agnaldo Mota, por acidente geográfico nasceu em outro país. De fato, nasceu a 19 de março de 1534, na Laguna de Tenerife, arquipélago das ilhas Canárias - Espanha e nestas terras brasilienses chegou ainda jovem, com 19 anos, como noviço da Companhia de Jesus; aqui foi ordenado padre para não mais sair. Dedicou sua existência empregando a exaustão de suas forças em prol do anúncio do Evangelho sem perder de vista, em sua catequese, a necessidade de vê-lo ganhar vida no cotidiano, pelo que também muito se esforçou.

Em 2014 foi declarado Santo em um processo canônico de mais de 400 anos; tanta demora foi pelo fato da necessidade de obediência canônica a exigência da comprovação de milagres. Ora, no rastro de luz deixado pelos passos de Anchieta, rebrilha com especial luminosidade não só os clarões da fé que abraçou e que lhe fez atravessar rios, mares e oceano, mas também de modo todo especial e belo o resplendor da instrução pautada em uma educação, no mínimo, edificante e prova disto é o fato de que a maior cidade do Brasil – São Paulo – conserva o nome daquele colégio fundado por José de Anchieta em 1554, o qual se tornou embrião da metrópole em torno da qual o progresso fez morada e a educação é referência para o país.

Anchieta é, portanto, sinonímia da causa da educação, apostolado que hoje tem por zeladores, no gigantismo do nosso Brasil continental, a generosidade de almas intrépidas e aguerridas que abraçam o magistério por sacerdócio régio. A semente por ele lançada germinou, cresceu, deu frutos e embora a educação que hoje é ofertada aos brasileiros esteja longe de ser a ideal, a mais simplória educação é melhor que o implacável obscurantismo da total ignorância.

A educação liberta, quem é paladino da liberdade e pacificamente a promove sem o emprego da violência, tem méritos de taumaturgo, pois a liberdade, sendo instrumentalidade do livre arbítrio, por si só, é uma portentosa bênção e uma fecunda graça. Eis o grande legado deste homem que com esmero fez da educação religiosa um paradigma para todas as outras formas de educação e as maneiras de educar. Com todo o respeito as normas canônicas, ante o milagre da educação que promoveu, já não era sem tempo a canonização de Anchieta que ferrenhamente condenou a escravidão dos indígenas.

Com efeito, hoje pedagogos da estirpe de Paulo Freire e Jean Piaget chamam a atenção para a necessidade do professor ser dinâmico, deixando a laterre aquela postura de senhor da verdade, assente na certeza de que o processo de conhecimento possui estágios e que ao final tanto o docente como o discente sai ganhando, pois o conhecimento sendo um continuo processo, jamais poderá ficar prisioneiro da ideia de que alguém sempre ensina e outro sempre aprende, antes é síntese da simbiose em que aquele que apreende também ensina e vive-versa, ainda que não na mesma proporção.

Ocorre que há 400 anos José de Anchieta já havia despertado para esta necessidade e, na educação religiosa dos indígenas, usou de teatro, aprendeu a língua Tupi, fez-se poeta e até a musica recorreu, tudo para melhor transmitir a mensagem do conhecimento que tinha a oferecer e a prova de que suas atitudes estavam corretas foi a crescente conversão de indígenas ao catolicismo, aos quais também ensinou o latim, língua na qual a missa antigamente era celebrada. Nesta Terra de Santa Cruz, foi o primeiro zelador do “Apostolado da Educação” instituído pelo vigor e a abnegação de seu espírito elevado, através do estudo e da elaboração da primeira gramática referente a língua Tupi: atitude sensata de uma alma generosa e humilde que preferiu colocar-se ao encontro do outro, usando de empatia linguistica a ter que impor sua cultura linguistica de qualquer modo.

 A gramática elaborada pelo sacerdote jesuíta, só foi publicada em 1595, na cidade lusitana de Coimbra, ocasião sobre o título "Arte da Gramática da Língua Mais Falada na Costa do Brasil" e associada a Carta de Pero Vaz de Caminha, figura na história da ancestralidade e da contemporaneidade brasileira, baluarte da instrução na qual se congregou colonizador e colonizado na miscelânea que gerou a identidade e a singularidade da brasilidade da civilização sui generis que se formou em terras tupiniquins, dona de uma alegria que desafia qualquer adversidade e não desiste jamais: eis o perfil da brava gente brasileira.

 Neste ano de 2015, por deliberação da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, reunidos em Aparecida-SP, São José de Anchieta, a muito cognominado Apóstolo do Brasil, foi aclamado Co-padroeiro do Brasil. Da minha parte há uma grande admiração ao exemplo de vida de Anchieta, não por menos em meu brasão profissional cunhei no listel uma expressão latina que remete uma grande lição deste precursor da pedagogia moderna: “caminhante não há caminho, o caminho se faz ao caminhar

A este homem religioso e de luta, aguerrido defensor da liberdade dos mais fracos, vulneráveis e menos instruídos; a este santo poeta e que, na sua sensibilidade, fazia poesias rabiscando versos nas areias das praias, aonde a maré vinha enamorá-los, conduzindo-os no vai e vem das suas águas para a imensidão do oceano... Meu respeito, minha admiração e o fervor da prece de minha oração. 

São José de Anchieta; rogai por nós. Apostolo do Brasil; rogai a Deus pelos professores para que lhes inflame, no coração e na alma, intrépido vigor capaz de combater a opressão, fazendo-lhes paladinos da liberdade que rebrilha ao clarão da instrução!

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PARADA GAY: APOSTASIAS E APOLOGIAS A DIGNIDADE HUMANA


O que caracteriza o gênero humano? A priori esta pode parecer uma pergunta retórica, todavia não é e para respondê-la, tentarei demonstrar a grandeza desse gênero analisando, na diversidade da pluralidade inerente ao gênero, aquilo que é comum a tudo e a todos. Portanto, independentemente de diferenças de credo, sexo, ideologia, raça, posição socio-econômica e cultura, etc., é fato que alguns valores não se esgotam em apenas um destes segmentos e aqueles que são presentes em todos revestem-se, por isso mesmo, de uma magnanimidade que os torna supremos.

A emoção e a razão polarizam, não há duvidas, a medida que baliza a mensuração daquilo que é magno, ou seja essencial; supremo em todas as áreas da atuação humana, na qual coexiste a dicotomia secular: bem e mal, certo e errado, verdadeiro e falso, luz e treva, e assim por diante. Em todos os segmentos humanos se encontram essas realidades antagônicas, as quais representam entraves  o que não significa dizer que não possam ser superados   a plenitude da sublimação do gênero humano, cuja grandeza perpassa a racionalidade, urbanidade, fraternidade, consideração e a empatia pautada no respeito e na dignidade presente na singularidade de cada pessoa, seja ela homossexual ou heterossexual: em todos há sentimentos.

Contudo, com tristeza deveras imensa assisti e tomei conhecimento de atitudes, extremamente desrespeitosa, de ativistas e simpatizantes do movimento GLBT que, em marcha denominada “Parada Gay” promoveram no último domingo, 07/06/2015, na cidade de São Paulo-SP, uma manifestação na qual sobressaiu o desrespeito para com a religiosidade cristã, com vilipêndio e quebra de imagens que remetem os mais caros simbolismos e sentimentos da fé cristã. 

Imagens da Virgem Maria foram quebradas, crucifixos foram utilizados para tapar órgãos genitais e, em alguns casos, introduzidos no ânus por alguns participantes. Representações de Jesus crucificado em situações que insinuavam que o mesmo era homossexual, inclusive com beijo na boca. Enfim, embora tais acontecimentos impressionem pelo deboche que se impregna nos atos, em nítida afronta a Igreja Católica e a segmentos religiosos protestantes/evangélicos, não é de hoje que a “Parada Gay” da cidade de São Paulo inova em práticas tão reprováveis.

Atribuo o adjetivo reprovável, não porque eu tenha formação cristã, mas porque na conduta que zomba daquilo que para outrem possui um valor e um significado imaterial (embora representado simbolicamente através da materialidade de imagens e ícones) e, por isso mesmo, especial, rebrilha a mediocridade que não se coaduna com a grandeza do Ser Humano, o qual dotado de emoção, intelecto e racionalidade capaz de elevá-lo dos demais seres do planeta.

Quem quer ter suas convicções respeitadas deve respeitar as alheias e quando estas não lhes forem ou parecerem agradáveis, deve ter o necessário discernimento e inteligência para fazer valer suas convicções não pela força, ou pelo menosprezo pautado na zombaria desqualificada de bom censo, na vã ilusão de diminuir o que lhe é contrário. Afinal, pessoas até podem ser mortas, exterminadas, se calarem; contudo as ideias e as convicções que carregam jamais, elas pertencem ao campo do imaterial, logo do intangível, motivo pelo qual o uso da força e da zombaria apenas revelam a pobreza de espírito e a fraqueza moral e intelectual de quem as impunha.

O deboche e o desrespeitoso modo como alguns manifestantes portaram-se durante a Parada Gay, eu diria ser mais um ato irracional e, portanto, impensado. Jamais será uma conduta revolucionária de um movimento forte que se levanta sob a chancela de uma utópica luta por direitos e pela não discriminação e, por isso mesmo, tende a permanecer no campo da utopia, a intermináveis léguas de distância de se tornar a realidade aspirada.

É preciso utilizar a racionalidade de modo inteligente e a inteligência de modo criativo, dentro dos limites do mais austero e extremo respeito ao pensamento divergente, primando pela diplomacia na exposição de suas convicções, pois com mais eficácia tem sua ideologia abraçada pelos demais quem a expõe através de argumentos e não pela força, ou a pejorativa difamação do que lhe é contrário. Quem assim não age, não só não respeita, como também não se dá o respeito e, no apagar das luzes, é quem menos tem razão de reclamar ou reivindicar qualquer tipo de tratamento respeitoso, pois é a essência que faz magnas as coisas e somente as coisas magnas – portanto caras – inspiram respeito.

A Igreja Católica e as Igrejas Protestantes – a verdade é essa – se dão respeito e, seja esta a razão pela qual, uma vez afrontadas, ou mesmo ridicularizadas em suas ideias, através de atos de zombaria e grosseria que emergem de uma violência moral... Sem esforço algum, despertam a SOLIDARIEDADE de muitos, solidariedade esta que falta a comunidade GLBT por culpa exclusiva de alguns de seus integrantes revoltosos que ainda não souberam canalizar essa revolta em um protesto cívico e acima de tudo inteligente e tolerante ao pensamento contrário. Não por menos, penso que seja esta a resposta, repito, para que as metas pretendidas pelos GLBT’s ainda permaneçam apenas no campo da utopia.

Não sou “homofóbico”, tampouco sou “cristofóbico” e aqui falo de modo imparcial, sem fazer nenhuma apologia ou apostasia as Igrejas Católica e Protestante (embora seja cristão por fé e convicção), tampouco ao movimento GLBT. Levanto a bandeira da tolerância e desfraldo o estandarte da liberdade de expressão dentro dos limites da prudência e do mais austero e extremo respeito ao pensamento divergente, assente na necessidade de utilização racional dos argumentos e do embate de ideias no plano da urbanidade, com o nítido propósito de apenas expor suas convicções: o tempo sempre se encarrega de ratificar as proposições que merecem sê-las.

Consigno que em momento algum tomei partido para dizer que a razão está com uma ou outra forma de pensar, apenas não compactuo com a forma como as ideias do movimento GLBT foram defendidas, posto que a defesa implicou proposital desrespeito ao pensamento divergente, o qual levado a efeito da forma mais reprovável possível.

E para finalizar esta sutil reflexão penso que melhor maneira é expressamente renunciar a toda apostasia – desde a mais violenta até a mais branda – da grandeza da dignidade do gênero humano, fazendo-se, para tanto, da apologia desta grandeza um sacerdócio intrépido e impávido que não se cale aos brados irracionais de toda e qualquer apostasia da dignidade humana, com a convicção e a emoção de que, o silêncio que ignora, também tem o timbre capaz de suplantar a acústica de uma conduta reprovável, mediante o desprezo.

A terra, insultada, vinga-se dando-se flores (Tagore). Entretanto, sendo vingança um sentimento medíocre, encerro esta apologia com uma história sobre o Sândalo: as árvores quanto mais grossas em seus caules ficam mais resistentes a investidas de machados, contudo essa dureza não lhes permite produzir essências aromáticas duradouras e abundantes; aquelas de perfume mais suaves são, consequentemente, aquelas com o caule mais maleável que, exatamente por isso, produzem em maior escala a seiva que serve de substrato aos aromas e dentre elas destaca-se o sândalo; ocorre que por possuir bastante seiva e muito fácil derrubá-lo a golpes de machado, o qual sem encontrar no caule aquela dureza própria das arvores com pouca seiva, não tem sua lamina comprometida no atrito.

Isto quer dizer apenas uma coisa: machado que derruba um Sândalo nunca sai vitorioso, pois para a proporção da violência do golpe que desfere, concorre o Sândalo exatamente com a liberação pródiga e generosíssima da seiva perfuma que exala a cada golpe, impregnando na lamina de tal modo que o machado conserva em si, por onde for, a suavidade daquele aroma cuja investida tentou ceifar.

Portanto, a ambas as partes envolvidas no embate, do qual estou certo, restaram consequências chagadas de revolta para ambos os lados – afinal é grotesco engano fazer apostasia, ainda que sutil, da dignidade humana, qualquer que seja o motivo ou justificativa – deixo uma apologia esperançosa de paz que nasce do diálogo pautado no respeito e que aqui assume a forma de uma exortação que não é minha, mas a qual passei a refletir racionalmente: "Sê Sândalo; perfuma até o machado que te fere".

No cultivo dos valores que são a todos supremos a solução pacífica para uma convivência harmônica de antagônicas maneiras de pensar e conceber o gênero humano na pluralidade de sua diversidade, o que excede a isso não pertence ao gênero humano e renuncia a condição de humano quem ignora esta máxima, sobremaneira racional-emotiva.

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domingo, 31 de maio de 2015

ADEUS DE MAIO

Acabou-se o mês de maio/ que Jesus nos concedeu
Acabou-se o mês de maio/ adeus Nossa Senhora, adeus!

Assim dizia o refrão de uma canção que minha bisavó Cecília Marques cantou para mim, após recitar o Ofício de Nossa Senhora, no fim da tarde de 11 de maio de 2006. Após aproximadamente uma hora de uma gostosa conversa, pedi-lhe a bênção e ela abençoou-me dizendo pela última vez: Deus te abençoe. Nas primeiras horas da noite daquele mesmo dia, o adeus daquela canção ganhou vida e ela deixou, subitamente, esta dimensão corpórea do existir, deixando nos corações dos seus, no meu em particular, profunda tristeza.

Hoje vejo o caminhar do relógio, contemplo o passar das horas e o findar de mais um mês de maio e também digo “adeus Nossa Senhora, adeus!” E dentro em mim floresce uma tristeza, não por minha bisavó, pois hoje Ela é para mim muita saudade, e saudade boa, que não se coaduna com tristeza, mas com conforto que me faz fechar os olhos para enxergá-la na mansidão de seu sorriso fagueiro...

A tristeza é porque constato uma realidade triste na minha terra natal. Pela primeira vez em minha existência, e creio que também seja a primeira vez desde que foi criada a Prelazia de Pinheiro, o tradicional encerramento do mês de maio com a Coroação da imagem da Virgem Maria no dia 31 de maio não ocorre na Igreja Matriz de Santo Inácio de Loyola, Catedral da Diocese de Pinheiro-MA. E então questiono-me: qual seria a razão? O governo paroquial está deixando a Mãe do céu de escanteio?

Neste ano a Solenidade Litúrgica da Santíssima Trindade coincidiu com o dia 31 de maio, festa da Visitação da Virgem Maria a sua Prima Santa Isabel, daí porque as coroações da imagem da Virgem Maria nas igrejas de todo Brasil. A igreja Matriz de Santo Inácio, por ser a Catedral, se reveste de um valor que pede um respeito compatível com sua dignidade, pelo que o fim de maio sem a tradicional coroação – e a Igreja valoriza as tradições – soa desleixo, ao menos para mim, o que não significa dizer que minha impressão esteja correta.

A bem da Verdade preciso consignar aqui, o fato da Coroação da Virgem Maria ter ocorrido no domingo passado, dia 24 de maio, coincidindo a data com a Solenidade de Pentecostes, ocasião em que a cerimônia realizou-se de modo todo belo. A justificativa para a antecipação da cerimônia: a ordenação dos primeiros quatro diáconos permanentes da diocese. Como para a realização da Coroação é montado todo um cenário no Altar-mor da Catedral, com palanques e escadas – devidamente ornamentados com tecidos, tapetes, lâmpadas e flores – onde mais de 30 crianças e adolescentes vestidos de anjo fazem alusão a tão augusto acontecimento no céu, com a realização da coroação no dia 31 de maio, a celebração de ordenação dos diáconos, marcada para o dia 30 (ontem), ficaria prejudicado em razão do espaço do Altar-mor ficar pequeno para acomodar o Bispo com todo o Clero, ao menos foi o que apurei com meus conterrâneos e o que também me parece ser coerente.

Sou católico, procuro ser prudente e compreensivo e não critico apenas por criticar, muito menos para diminuir os outros, contudo a antecipação da Coroação da Virgem Maria na catedral – um espetáculo do ponto de vista artístico e ato sublime de fé – foi medida quase que profana no meu humilde entendimento de leigo pouco esclarecido das ciências teológicas. E ao final fica a indagação: para que foi antecipada a coroação? A cerimônia de ordenação dos diáconos permanentes ocorreu do lado de fora da catedral, em missa campal, na concha acústica da igreja: seria então ocasião para repensar-se a forma e o modo como as atitudes são tomadas no âmbito da paróquia de Santo Inácio de Loyola e mais especificamente na Catedral Pinheirense?

O fato é que na data de hoje quase todas, senão todas as capelas da cidade de Pinheiro e igrejas Matriz da diocese encerram o mês de maio, mês mariano, com este belíssimo ato de fé da Coroação da Imagem da Virgem Maria e a Catedral, igreja mãe, encerra o mês de maio de modo opaco e sem a austeridade inerente a condição da sua dignidade de Igreja Catedral. Então, suspiro fundo e relembro com tristeza a relativização de algumas cerimônias; sou obrigado a contemplar as consequências de tanto e chego a conclusão de que quem sai perdendo sempre nessas relativizações é a fé, que fica cada vez mais vulnerável.

Tempo houve em que a missa do galo era a meia noite na Catedral, foram antecipando o horário da missa ao longo dos anos de forma tal que hoje mal tem a missa (apenas no Fomento Pe. Risso resiste em fazer a missa a meia noite) e a procissão do Menino Jesus, tão piedosa, desde 2004 não ocorre, hoje vive apenas no passado; a cerimônia da Paixão do Senhor que começava as três horas da tarde foi postergada, atualmente se realiza a partir das quatro horas e a procissão do Senhor Morto, essa simplesmente morreu, acabou-se. Agora o encerramento do mês de maio com a Coroação da Virgem Maria foi relativizado, nos resta rezar e pedir a Mãe do Céu que o pior não ocorra e que a coração também não se torne ilustre lembrança exilada no passado.

Não sou intolerante, tampouco ergo a bandeira da intransigência para justificar que as coisas permaneçam da mesma forma per omnia saecula saeculorum. Todavia, a fé que professo, a faço acima de tudo com fé, mas também com convicção; já dizia São João Paulo II, "a fé e a razão são como que duas asas que elevam o pensamento humano", ou seja, uma nunca deverá anular a outra, ambas devem caminhar de mãos dadas, resultando desse convívio o fortalecimento de ambas.


Ao final, consigno aqui meu apreço pela Diocese de Pinheiro, da qual tenho orgulho em pertencer, e o meu profundo respeito ao bispado em comunhão com o bispo de Roma, bem assim a todo o Clero, onde possuo amigos. O importante é que o nome Santíssimo de Jesus seja louvado e a Bem-aventurada Sempre Virgem Maria. Se esta reflexão despertar para esta necessidade constante, não terá sido em vão minhas mal feitas linhas.


Aquilo que é caro deve ser tratado como tal e, sobretudo, aquilo que se consolidou na fé pela tradição, ao menos no meu módico jeito de ver, não pode ser - no todo ou em parte - de improviso, abruptamente desconsiderado. No mais, daqui a pouco já é junho! Maio já está se findando e encerro como comecei, com o refrão de uma tradicional cantiga que minha bisavó apreendeu de sua mãe lá no vale do Cariri, onde o sertanejo - na pobreza de sua instrução - trazia no peito a sabedoria de um coração repleto de fé que os fazia caminhar, até a Igreja da Virgem das Dores no Juazeiro do Norte-CE do Pe. Cícero, para cantar:


Acabou-se o mês de maio/ que Jesus nos concedeu
Acabou-se o mês de maio/ adeus Nossa Senhora, adeus!

SALVE MARIA per omnia saecula saeculorum. Amém.

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P.S: A virgem Maria, sob o título de Senhora do Sagrado Coração, é padroeira da Diocese de Pinheiro-MA.

A inesquecível Cici Amorim.

A vida é um caminhar indefinido e incerto que ganha sentido à medida que vivemos. O viver nos possibilita a experiência de momentos, permitindo-nos cruzar com pessoas luminosas e quando elas partem para longe tudo fica sombrio. Afinal, "as boas vivências são dádivas arquivadas no coração, em determinados momentos de nossa vida emergem e nos trazer a lembrança de um tempo que foi bom".

Aurelina Catarina Amorim, ou simplesmente Dona Cici, como gostava de ser chamada, mulher dinâmica e temente a Deus, ministra da eucaristia, católica fervorosa e assídua a Santa Missa, professora e também mestra de gerações de pinheirenses (50 anos de sua vida dedicados a educação), Acadêmica da Academia Pinheirense de Letras Artes e Ciências. Dona Cici, uma figura inoxidável e uma lembrança risonha que durante os 89 anos em que esteve neste mundo soube cativar corações, nos quais hoje vive – de forma serena e fagueira – sob o pálio da saudade, eis o que hoje ela é e representa: saudade, muita saudade.

Os bons devem ser lembrados; lembrá-los não é favor, é justiça. A Academia Pinheirense de Letras Artes e Ciências faz memória de dona Cici e solidariza-se com os seus familiares, flagelados pela ausência física de alguém tão especial. Também tempo rende graças a Deus por ter-nos dada a dádiva da convivência fecunda com ela em nossa academia, motivo de glória e alegria que hoje se transubstancia numa saudade tão imensa, como as águas portentosas do Pericumã a inundar os Verdes Campos de Pinheiro.

É costume que os membros de academias de letras sejam chamados imortais, mas diante da transitoriedade da vida, sob o aspecto biológico em que se encerra, esta imortalidade é posta a prova e a esperança é alento que nutri os passos na direção de um horizonte maior e ilimitado: a eternidade. Dona Cici é imortal pelo fato de que jamais morre quem é inesquecível e, na simplicidade do seu jeito de ser, ela tornou-se. É imortal porque sempre teve na eucaristia, pão da autêntica imortalidade, o sustento de seu caminhar assinalado pela fé e oração.

Portanto, ao encerrar este tributo de saudade, a melhor maneira, em se tratando dessa grande mulher de oração, é reverenciar o transcendente e o faço, a exemplo dela, rezando.

Ave Maria cheia de graça, o senhor é convosco,
bendita sois vós entre as mulheres
e bendito é o fruto do vosso ventre, Jesus.
Santa Maria, Mãe de Deus, 
rogai por nós pecadores, 
agora e na hora de nossa morte, amém.

Rogai por Ela Santa Mãe de Deus.
Para que seja digna das promessas de Cristo. Amém.

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P. S: Homenagem feita em cerimônia religiosa realizada dia 29/05/2015, na Igreja de Santo Antônio, Centro, São Luís-MA, por ocasião da passagem do primeiro ano do falecimento da confreira Cici.

quarta-feira, 6 de maio de 2015

AO MEU IRMÃO MAURILIO

A meu irmão, com carinho, nesta data as palavras são o que menos dizem, pois o PARABÉNS em si não comporta a dimensão e a extensão das felicitações que aspiro para ele neste dia especial onde contempla a passagem de mais uma primavera.

Opostos em alguns pontos, comportamentos e até mesmo ideais, contudo unidos por laços de sangue e de amizade, temos em comum uma história de vida pautada e alicerçada nos valores transmitidos na casa paterna e irrigados pelo desvelo materno. Dele não diria sentir inveja, antes uma admiração do seu gênio enérgico e destemido, algumas vezes intransigente, sobretudo ante as contrariedades, as quais com o impeto de suas forças transpõe de modo bravio.

Dele não diria ser a perfeição, mas traz consigo a beleza de ser autêntico e a personalidade irriquieta e criativa que permite desbravar horizontes vastos, embora no meu ponto de vista poderia ir mais além se canalizasse melhor as forças do seu potencial, domando a impaciência de seu gênio. Contudo, apesar disso, é um errado que acerta com seus erros quase sempre. Numa palavra, é trabalhador e trabalha com criatividade, valentia, firmeza e disposição, alias a disposição é própria ao seu jeito de ser em tudo aquilo que faz.

Naquilo que nele é imperfeição - e imperfeito todos somos - ele tem um coração bondoso e sem a falsa modesta que aflora da vaidade imbecil, ele não se deslumbra com facilidade, mas não chega a ser rude, apenas valoriza a simplicidade do cotidiano e enxerga o ser humano para além de títulos e aparências, da maneira mais curta e direta possível: suas conclusões são sumárias e contundentes. É portanto a sinceridade para ele quase um defeito dada a forma objetiva e incisiva como a externa.

Dele posso dizer que é uma alegria e um orgulho, uma satisfação e privilégio tê-lo por irmão, camarada... Pessoa de poucas palavras, porém pessoa com quem se pode contar sempre sem nem precisar pedir. Separados pela geografia, distanciados jamais! 

Felicidades meu querido irmão! Deus te abençoe imensamente.

sábado, 2 de maio de 2015

A LUMINESCÊNCIA DE UMA SAUDADE

SAUDADE é um sentimento e um estado de espírito que não comporta definições iguais. O menor dos acontecimentos, as vezes até um sopro de vento, o canto de um pássaro ou simplesmente um silêncio. A forma e o modo como se dá sua explosão é o que menos importa. Os bons sempre são lembrados!

Hoje o simples recitar de uma Ave-Maria lateja em minh'alma uma lembrança que o tempo nunca será capaz de apagar. No mês mariano minhas recordações se enchem do sorriso de minha querida Julieta que há dezoito meses partiu rumo ao infinito, deixando em mim um vazio físico imenso.

Com ela aprendi desde cedo o valor que se deve dar aquilo que merece e tem valor. Acabei por amar a Virgem Maria porque sempre vi nas atitudes dela aquele respeito e confiança na mãe de Deus e chegando o mês de maio, impossível ouvir os sinos chamando para a reza do terço e não sentir no peito uma enorme saudade.

Mas a saudade que sufoca e quase causa tristeza se relativiza no conforto da fé que - mesmo sem ver - sabe que junto de mim caminha uma santa, canonizada pelo amor que neste mundo fez-nos avó e neto. E então dentro em mim surge uma enorme alegria que se agiganta a cada pequeno milagre que recebo e a cada sutil visita que em minh'alma deixa o acalento daquela emoção, inebriante, que promove ao tato o calor de um abraço invisível.

E é por isso que saudade para mim hoje é rajada de luz que aquece e ilumina essa certeza que minha experiência de vida transforma em dogma: Bem-aventurada Julieta, rogai por nós.

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domingo, 26 de abril de 2015

Palavras a um Homem de Palavra.

O número sete, para os iniciados da numerologia e astrologia, tem uma natureza arcana que de certo modo projeta ao infinito. Não sou iniciado em tais áreas e das mesmas tenho conhecimento superficial, motivo pelo qual não discuto se assiste ou não razão a esse modo de pensar. Contudo, reflito nesta data sobre os dois: o número sete e o infinito.

Há sete anos uma pessoa que me é cara foi habitar o infinito. Seu nome, Domingos Esmeraldo de Araújo; seu legado, um censo de retidão e justiça extraordinário associado a uma inteligência incomum de uma simplicidade extrema temperada de severa picardia.

Nascido entre os povoados de Rio da Prata e Palestrina, próximo de Pinheiro-MA, em 21 de fevereiro de 1921, filho de Hipólito Silveira e de dona Inocência Gomes Silveira (parteira de enorme fama), foi criado por seus padrinhos batismais, os quais também lhe deram o sobrenome Araújo. Apesar de ter recebido sobrenome diverso daquele de seus pais biológicos, nunca deixou que os laços sanguíneos se rompessem.

Foi marido de mais de duas mulheres e pai de aproximadamente vinte filhos. Como do seu primeiro relacionamento amoroso os filhos nascidos foram registrados sem qualquer menção a seu nome, na qualidade de pai, a todos os demais filhos também não registrou. Ruindade? Não. Apenas um censo de justiça segundo o qual se registrasse os últimos não seria justo com os primeiros.

Assim, justifica-se o fato de que no meu registro de nascimento não consta nome de avô materno. Contudo, com ele convivi, tive experiências fantásticas como pescar; passar dias em seu sítio, ver todo o processo da fabricação da farinha desde o plantio da mandioca até o beneficiamento da mesma na casa do forno; extrair guarimã; preparar e tomar vinho de buriti e murici; apanhar perdizes entre outras experiências que só se vive e sente no campo.

Foi-se o homem, ficou o nome. Assim falou alguém no cemitério Santo Inácio a hora que o sepulcro era fechado. Ficou o nome e nele impregnado a solidez  do infinito de um sentimento bom. Dele não se pode dizer que fosse dado a externar manifestações públicas de carinho ou afetos, embora de fato nutrisse enorme estima pelos seus. Porém era deveras respeitador e gentil no tratar sem jamais renunciar a sua personalidade bem definida e consistente: seu sim era sim, seu não era não, não havia meio termo quando era preciso dizer e definir o certo do errado, só é pena que fazia com muita severidade, mas fazer o que?! Toda rosa tem espinhos.

Enfim... O tempo passou, ontem era presente e hoje só o infinito e o rastro luminoso das virtudes vivenciadas que relativizam a austeridade da severidade com a lembrança risonha do exemplo de justiça, retidão, inteligência. Vigor fenomenal e virilidade que o tornaram “um homem de palavra”.

A este homem de palavra, uma palavra, no plural – como eram suas virtudes: saudades.