domingo, 29 de agosto de 2010

Silêncio e paz


A dor quando é autêntica e sincera, dir-se-á que emudece pela exaustão. Assim li em um prefácio de livro dedicado a perpetuar a memória de uma pessoa, pinheirense por sinal.

Refletindo sobre tais palavras e acima de tudo experimentando, na própria carne, a concretização das mesmas nestes dias de agosto em que a realidade fez-se para mim por demais travosa e amarga, cheguei a algumas conclusões que não são por assim dizer dogmas, senão para mim que as proclama com a debilidade de minhas fragilizadas forças a quem a vida, outra vez, testa a resistência impondo a dor de uma perda/separação.

São palavras que encontram-se entre a racionalidade e a emoção, naquela tênue linha em que a dor emudecendo pela exaustão impõe o silêncio; aquele silêncio que se auto proclama soberano e hoje mais do nunca se faz exigível e única comunicação possível para mim que, uma vez mais, contempla na silenciosa chama do consumir de uma vela, uma procissão de lembranças que diante do último adeus a alguém querido desfila diante dos olhos.


In memoriam de Júlio Theodorico Alves
* São João de Cortes - MA 01/07/1909.
+ Pinheiro - MA 28/09/2010.

SILENCIOSAMENTE

De todos os ritmos e as melodias
Que as notas musicais podem criar
E dos sentimentos que fazem aflorar...
São do silêncio as doces sinfonias
Aquelas que hoje meu coração se põe...
Em confluência de emoções a ti cantar
Com a saudade de quem em silencio ficou!

De todas as belíssimas partituras
Tal qual letras adormecidas no papel...
Ressonando diante do olhar dos homens
És tu dentre tantas criaturas
A que a lembrança faz meu ser soluçar...
E impelido por saudades buscar
Através dos olhos que o pranto jorrou
Sentir-te presente na imensidão do céu
Qual maestro no comando do concerto.

Como o fogo em vão desafia a água
Assim, pois é de minha parte loucura
Afogando-me em mil recordações
Lembrado as pegadas que deixou teu pé...
Pensar que tua física falta inverto!
E se assim o é, é no oceano da fé
Que afogo nas lembranças tuas
A tristeza de não ter tua companhia

Mas como a loucura ignora...
O impossível; não aceita a razão
Enquanto cruel se faz a realidade
Eis o silêncio nobre loucura.
A partitura que a ti quero cantar
Silenciosamente em meu coração!

***

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

1ª Missa do Maranhão


Era pela altura do meio dia. Na Igreja de Nossa Senhora do Carmo, secular convento ludovicense que atualmente pertence aos frades capuchinhos, os sinos em toques festivos dobravam; e se passando por perto alguém sentia-se convidado a subir as escadarias daquele templo e adentrá-lo, por anfitrião encontraria o Santíssimo Sacramento que do altar dava as boas vindas a quem chegava.


Findo o dobrado dos sinos, a bênção do Santíssimo foi ministrada e logo em seguida teve início missa festiva com um esmero ímpar. E tudo porque era doze de agosto. Foi cheio de alegria que disse o frei Lázaro: Hoje, 12/08/2010, é uma data muito especial: há 398 anos um capuchinho rezava a primeira missa no Maranhão.


Para mim não foi surpresa a notícia, mas motivo de felicidade; pois vi alguém que também dá tanta importância à data e pesquisa sobre a história religiosa do Maranhão. Mas notei que na assembleia muitos foram os que ficaram pasmos com o anúncio, certamente por serem ignorantes sobre tanto.


Aproveitando o comentário do frei, observei algumas coisas: a primeira missa foi celebrada por um franciscano; os 400 anos daquela missa será celebrada em 2012, ocasião em que o doze de agosto recairá sobre um domingo, dia do Senhor, dia que tem tudo a ver com missa; se o governo da arquidiocese de São Luís não sofrer mudanças, o arcebispado terá a frente, em 2012, Dom Belisário, um franciscano.


O que dizer? Nada! silenciar-se é o melhor e nesse silenciar apenas meditar as palavras do Papa Leão XIII: as coincidências são elegâncias de Deus.

Deus salve o Maranhão!

domingo, 8 de agosto de 2010

Dia dos Pais

P alatino
A mor
I ncondicional

P rimazia
A ugusta
I mutável

P alavra A natômica I ndivisível
P olivalente A mparo I noxidável

PAI

terça-feira, 3 de agosto de 2010

A um "FRADI" nada convencional.

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A VIDA É REGIDA PELA IMPREVISIBILIDADE. Assim disse certa vez Ayres Britto, em um dos mais célebres julgamentos do Supremo Tribual Federal: o julgamento da constitucionalidade do uso das células-tronco embrionárias.

Imprevisibilidade! Faca de dois gumes. Com o mesmo ímpeto com que surpreende de forma nefasta para anunciar contrariedades e negatividades, por vezes também sabe surpreender com bons ventos. Entretanto, nem sempre este último momento ocorre com a mesma proporção do primeiro.

Hoje foi um desses dias em que imprevisivelmente a vida surpreendeu-me com um desses momentos em que as circunstâncias impõem uma despedida. É por essa razão que reler umas palavras escritas há algumas primaveras muito me é salutar, não porque falem de despedida, que aliás foi o que hoje o viver obrigou-me experimentar, mas antes de tudo porque diante da adversidade aprendi com um poema o quanto palavras tem poder.

As últimas linhas daquele poema, escrito nos verdes anos de minha adolescência, nunca ficaram em vão ou perderam-se no vento. Ao contrário, para mim sempre foram qual prece que subindo aos céus feito incenso, é sempre atendida.

É como faço. Dirijo palavras a um amigo que tenho e que é "fradi". Um "fradi" diferente que em seu jeito de ser ensinou-me que homens não se despendem dizendo "tchau" e sim "falou".

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SONETO DE DESPEDIDA

Antes castigo, trabalho pesado
Que uma difícil despedida
Que machuca e o ser mergulhado...
Em saudades deixa... Vida ferida.

Adeus... Palavra triste, amarga...
Em breve... Esperança renovada.
Nos adeuses e em breves da vida...
Saudade. Sim; ela é embalada.

Da amizade fica a lembrança
Na recordação imortalizada
Mas chega a hora dolorida

Co’alma cheia de esperança
Não digo adeus, sim até breve.
Até lá luz... Alegria... Bonança!
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Falou!
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sábado, 31 de julho de 2010

Santo Inácio de Loyola

AD MAIOREM DEI GLORIAM


Em 1556, partia deste mundo Inácio. Morria serenamente em Roma. Após sessenta e seis anos daquele trinta e um de julho foi canonizado e hoje é venerado em diversas partes do mundo. Pinheiro é um desses lugares em que o fundador dos jesuítas é venerado, cuja memória se imortalizou pelo exemplo de fé, vigor e valentia.

Abaixo segue um poema que rabisquei intencionando homenagiar esse santo, colocando algumas passagens de sua vida em versos.


"Soldado da fé".

Cesse do rico toda riqueza
E do sábio toda sabedoria
Pois diante dos desígnios de Deus
Mar... Céus... Universo se arrepia!
Do esterco fez a rosa florir
E do pecado brotar santo em Azpetia

Para sua maior glória... majestade...
Espanhol valente e orgulhoso
Quis extrair d’uma vida de futilidade
Para seu reino ajudar construir!
Conduzindo-o a santidade
O fez abandonar luxos e palácios
Para de novos horizontes dar o sorrir...
E assim Iñigo tornou-se Inácio.

Foi em Pamplona que de canhão
O Altíssimo se utilizou...
Para a ensinar-lhe a caminhar na fé
Quebrarem sua perna deixou!
Em meio as dores da convalescência
O nobre santo da morte escapou
Graças a Divina Providência

Fazendo-se soldado de cristo
Contra Lutero e os dele lutou...
Fundando a companhia de Jesus!
Do antigo Inácio apenas o vigor restou
Para defender a fé... Ser a todos luz!
Findo o combate ao Pai regressou...
Exercícios espirituais deu aos seus
“Tudo para maior glória de Deus”!

domingo, 20 de junho de 2010

Esquizofrenia contemplativa



Instante eterno

Embora seja da natureza do que é eterno a impossibilidade de mensuração com parâmetros próprios do que é efêmero; a eternidade se sublima e atinge a quintessência de sua plenitude quando, como que em um ato de generosidade e grandeza, se deixa sintetizar-se na efemeridade do instante transformando a fugacidade que dele é própria em infinito momento que, a despeito de exalar eternidade, dura apenas o intervalo de um relâmpago.

Nesse enlace amoroso em que o efêmero e o eterno trocam carícias, o universo se condensa na pequenez de um grão de areia para depois explodir em toda a sua vastidão nas dimensões do coração humano, acelerando-lhe o compasso das suas batidas para fazê-lo experimentar os limites do indizível, mediante as dimensões d’alma que transforma idênticas a imensidão que lhe é peculiar. E tudo porque há quebra de paradigmas e proclamar de paradoxos: o efêmero comporta nas dimensões de sua fugacidade a visita da eternidade; e a eternidade despojando-se de sua interminável infinidade, humildemente, valsa com o efêmero, ainda que por milésimos de segundos, num contraste em que as características de ambos deixam-se contagiar mutuamente.

Todavia, é apenas uma visita, um valsar sutil e sublime que sendo eterno dura apenas a fugacidade de um instante, mas produz fruto saboroso e de agradável degustação; que sacia e sem causar enjôo só aumenta cada vez a fome, que sacia gerando mais e mais fome com o desejo de ser saciado e transubstancia-se na mais sublime, pura e autêntica saudade que floresce dessa fugacidade-eterna.

A constatação desse mister é algo que não convém em palavras pormenorizar! Semelhante ao que ocorre com praticamente quase todas as boas coisas da vida, nem sempre explicar traz aos sentidos a satisfação que o simples sentir proporciona. Trata-se daquela satisfação que sacia pelo deleite de simplesmente sentir o frescor daquele mister que se esvai, no caminhar das horas, pelo soprar do tempo, deixando antes a fragrância impar, que lhe é particular e faz imortal, obliterada nas lembranças sob o pálio do que é inesquecível; e tudo em meio a sinfonia do silêncio que, de todas as melodias existências, seja talvez a única capaz de transformar o instante em momento imortal.

Quanta sonoridade, aliás estridente, no som do silêncio que serpeia uma troca de olhar; de um singelo e discreto sorriso; o rolar silencioso de uma lágrima; a sutileza de um gesto ou mesmo um aceno... Quanta eternidade não exala da tenra duração de tais momentos! Quanta efemeridade não se transmuta em eternidade e faz desses momentos instantes eternos que valem toda uma vida! Aliás, que instante eterno não o é esse que, por epíteto, chama-se vida.

Se o explicar não ocasiona a mesma satisfação que o sentir, que tal simplesmente sentir o instante? Sim; o “agora”, o momento que floresce e murcha diante de nossos olhos. Como senti-lo? Vivê-lo parece ser uma boa pedida. Como vivê-lo? Que tal tentar simplesmente valsar com o agora no ritmo em que se apresenta, mas com o compasso da vontade de simplesmente ser feliz? E se a empreitada lhe parece tentadora, a recomendação para uma boa dança, com direito a bis e tudo mais, Vinicius de Morais bem a deixou: “que não seja imortal posto que é chama, mas que seja infinito enquanto dure”. O agora... o instante eterno! O outono não para é agora. É pra depois!

sábado, 5 de junho de 2010

Dia do meio ambiente



A terra das palmeiras.

Será que se Gonçalves Dias estivesse vivo diria que sua terra tem palmeiras onde canta o sabiá e que as aves que lá onde se encontrava não gorjeavam como as de cá? Lá as aves ao menos gorjeavam e as daqui quase não as vemos. Será que o cinco de junho não é um dia agourento? Ou será que, quando não existia, as aves gorjeavam e agora não o gorjeiam porque a humanidade só se lembra de preservar o ambiente nesse dia?

Eh! Gonçalves Dias... Deus ouviu tua prece: morreste antes que estes funestos fatos acontecessem e as palmeiras que tanto te encheram os olhos caíssem por chão: ainda as viste cheias de sabiás. Certamente se não tivesses morrido ser-te-ia menos doloroso suportar o exílio, contudo viram as águas que não merecias tal desgosto, talvez por isso te afogaram: só para te poupar de uma dor maior.

Ao menos o sabiá vez ou outra ainda canta, mas se seu canto é um hino de alegria ou de nostálgica melancolia, só outros inúmeros "cinco de junho" poderão dar a resposta. Isto é, se o calendário passar a ter doze meses de junho e somente dias cinco. É como dizem: a esperança é última que morre.

Só nos resta torcer para que essa esperança tenha a sorte de Mathusalém.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Corpus Christi

A partilha pela fé e a fé pela partilha.

“Nem só de pão o homem viverá, mas de toda palavra que procede da boca de Deus”. Assim ensina a Sagrada Escritura em seus evangelhos. Entretanto, não se pode fechar os olhos para a necessidade de que se o homem necessita do alimento capaz de saciar a fome espiritual, também necessita daquele que sacie a corpórea.

A fé e a razão são duas asas que elevam o pensamento humano. Assim certa vez disse João Paulo II e na festividade de Corpus Christi, penso que se faz plenamente aplicável esse modo de pensar.

A transcendência da fé, desaguando na transubstanciação do vinho e do pão no corpo e sangue de Cristo é algo extraordinário, no sentido de que de forma admirável reuni em torno de um altar inúmeras centenas de milhares de pessoas em toda parte do mundo onde se professa a fé cristã católica.

Mas se a fé nos leva a experimentar o sobrenatural, através da elevação, pela graça divina, mediante os sacramentos, de nossas imperfeições através do reconhecimento não só das mesmas como também da necessidade que temos de Deus, semelhante a terra seca o tem de água fresca... É preciso usar da razão para que nosso espírito a partir do nosso pensar, possa zarpar logos altos sem capengar, ou perder altitude, em elevadas alturas.

Deste modo, não é demais lembrar expressões como “eu sou o pão vivo descido dos céus”; ou “meu corpo é verdadeira comida e meu sangue é verdadeira bebida” entre outras tantas que na Sagrada Escritura se atribui a Cristo. Também não é demais lembrar que a fé necessita de obras, ou seja, se o alimento espiritual é imprescindível, o alimento corpóreo também não se faz menos importante haja vista que é vital ao homem cuja fé só floresce e desabrocha se este estiver em condições de suprir suas necessidades físicas primeiras.

Em outras palavras, a fé sem obras não se aproveita e vice-versa, pois uma fé sem obras é morna, não se faz plena; já obras sem fé não tem sentido de ser. Ambas se completam nessa empreitada de elevar o pensamento humano assim como a teoria e prática, as quais se não forem conjugadas num perfeito binômio, jamais podem alcançar a excelência.

Celebrar a festa de Corpus Christi antes de tudo implica se renovar em suas forças, espiritualmente falando, com o alimento próprio para tanto através do Cristo Eucarístico que em toda sua divindade e grandeza se deixa encontrar na singeleza de uma hóstia através do sacramento da comunhão. Porém, tendo em vista a palavra comunhão, celebrar tal festa também implica em partilhar o pão, seja ele espiritual ou corpóreo.

Não é sem razão que combater toda e qualquer forma de exclusão ou corrupção, que de um modo ou de outro colabora para o acúmulo de riquezas e bens nas mãos de poucos, em detrimento da miséria de milhares, deve ser o compromisso moral de quem comunga aquele que é incorruptível por essência. Eis a árdua tarefa de todos quantos veneram o Santíssimo Sacramento, pois se nem só de pão vive o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus, esse mesmo Deus é quem ordena a amarmo-nos uns aos outros e a dividir o que temos com quem não tem, dá de comer a quem tem fome e de beber a quem tem sede.

A fé precisa de ações e ações concretas e consistentes, ou melhor, incisivas, no sentido de coibir os meios de exclusão e repressão causadores de tanta fome e desrespeito ao homem em sua dignidade de filho de Deus e de indivíduo cujas necessidades básicas vitais não só devem ser saciadas como devem ser oportunizados os meios capazes de tanto, a fim de que não fique o homem refém do compadecimento alheio e isto é algo que sugere princípios éticos na contenção de práticas corruptas de todas as áreas da atuação humana; práticas estas que patrocinadas pelo egoísmo/individualismo, se fazem em patente confronto com a fraternidade, principio - mor da comunhão própria da partilha do pão do céu: CRISTO.

Como fazer para coibir tais práticas? Não ser conivente com tal quadro mostra-se meio eficaz. Como não ser conivente com tanto? Não se acovardar em silêncio parece ser uma opção louvável, afinal como dizia Leão XIII, “a ousadia dos maus cresce com a covardia dos bons”.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Devaneios poéticos


Insana lucidez

Alegria suprema... Eis doce palpitação...
Que o peito encerra júbilo... Turbilhão
Afaga e incita... À fantasia
Eis dos amantes doce utopia

Eis da realidade abstração...
Que ao pensamento asas empresta
E à vida de cada dia motivos doa...
Em crepúsculos d’aurora renasce em festa!

A neblina que prados deixa à toa...
Não se curva, mas mostra sua altivez
E da turva lágrima faz seresta

D’esperança e do tombo novos passos
Até viver insana lucidez...
Sonhar e o infinito embalar nos braços!

(Mauricio Gomes - Aos sonâmbulos de um mundo melhor)

sábado, 22 de maio de 2010

O perfume da Margherita de Roccaponare


É imperioso dizer, e eu o faço com toda minha humildade, que desconheço as atuais técnicas de produção de perfume. Inobstante a isso, sei que, em tempos outros, eram retirados apenas de rosas, esmagando-se com inclemência as mesmas, as dezenas ou centenas, para conseguir-se extrair as suas essências, as quais adquiriam a forma de gotas, porém, em uma gota apenas, qual martírio não era sacrificar a beleza de muitas dezenas de flores.

Margherita de Roccaponare é um espécime raro de flor cuja essência da fragrância foi retirada em meio a grandes dificuldades e mortificante esmagamento pelo sofrimento da carne. Na verdade isto é uma Metáfora; Roccaponare é um lugarejo próximo de Cássia, região italiana da Úmbria e Margherita é uma mulher-flor que nasceu nesse lugar e que cujo viver, transmutou-se em celeste perfume desde seu alvorecer até o seu ocaso, momento em que se deu o ponto auge da extração da sua fragrância.

"Nascida em 1381, ela fora batizada com o nome de Margherita, mas foi logo apelidada pelo pedacinho de seu nome, Rita. Margherita – do latim margarita- significa pérola ou pedra preciosa. Leão XIII, quando a declarou Santa, chamou Rita de “Pérola Preciosa da Úmbria”. (STAUT, Neusa. A vida de Santa Rita de Cássia. Neusa Staut. [s.l], [s.d]. Disponível em: http://recantodasletras.uol.com.br/homenagens/1607647. Acessado em 22/05/2010).

“Pérola preciosa da Úmbria!” Corria o ano de 1900 e com este epíteto, o Romano Pontifice Papa Leão XIII conseguiu a proeza de sintetizar, em poucas palavras, a grandeza de uma alma humilde onde a mão de Deus fez prodígios, mostrando todo o seu poder, desde o alvorecer até o ocaso da vida de Margherita Lotti. Debaixo do céu de maio, Leão XIII elevava a honra dos altares, em Roma, aquela flor desabrochada no inverno existencial e cujo perfume exala na sutileza de seu viver uma verdade imorredoura e incontestável: “Para Deus nada é impossível”(Lc 1,37).

A hagiografia dos séculos nos desloca, em 22 de maio, para o ano de 1457 e nos convida a lançar nossos olhares à cidade de Cássia na região italiana da Úmbria e nos deleitar com a suavidade da fragrância divina de uma Rosa-flor, guardada na singeleza de um corpo incorrupto que, desafiando o tempo, atravessou os séculos e ainda hoje dá testemunho daquela verdade profetizada pelo anjo Gabriel à Virgem Maria: “Para Deus nada é impossível”(Lc 1,37).

O que dizer de Rita de Cássia após mais de quinhentos anos de sua morte e o fato de seu corpo, sem nunca ter sido embalsamado, permanecer exalando agradável perfume sem apresentar sinal de putrefação quando as leis da biologia são no sentido de que todo corpo, após sua morte, naturalmente, tende a se decompor? A ciência se emudece, o silêncio, por sua vez, se faz estridente em uníssono e vibrante som que, diante de tal acontecimento, não murmura na fragrância daquele perfume outra coisa que não seja o ensinamento de que... “para Deus nada é impossível”(Lc 1,37).

Semelhante a São João Batista, a santa dos impossíveis nasceu de um casal de idosos, sua mãe lhe deu a luz com 62 anos e segundo hagiógrafos também teve, a exemplo daquele santo, um anjo como o mensageiro do anúncio de seu nascimento e do nome que deveria ostentar: Margherita, que carinhosamente seus pais, Antônio e Amata Lotti, e posteriormente o mundo todo, abreviando-o, passaram a dizer apenas Rita. Aliás, isso é costume, por assim, dizer universal; quantos no Brasil não se chamam José, Francisco, Cecília, Juliana entre outros e são conhecidos como Zé, Chico, Cici, Juju...

O epíteto de Santa das Causas Impossíveis se deve por uma razão bem simples: muitos são os prodígios e milagres que se atribuem ao patrocínio e intercessão da referida santa, junto a Deus, na obtenção de graças em causas tidas como difíceis, ou mesmo impossíveis, aos olhos humanos. O impossível aos olhos humanos, por sinal, foi algo que sempre se mostra no viver de Rita em diversos momentos dando prova da sua intima ligação com Deus.

"Quando Antônio e Amata iam trabalhar nos campos, colocavam sua filhinha em um cestinho de vime que levavam consigo e abrigavam-na à sombra das árvores.
Um dia, enquanto lavradores e pássaros cantavam em uníssono, a criança sonhava com os olhos voltados para o céu azul. Foi quando um grande enxame de abelhas brancas a envolveu fazendo um zumbido especial. Muitas delas entravam em sua boca e aí depositavam mel, sem a ferroar, como se não tivessem ferrões. Nenhum gemido da criança aconteceu para chamar a atenção de seus pais; ao contrário, a pequena Rita dava gritinhos de alegria.
Enquanto isso, um lavrador que estava próximo feriu-se com uma foice recebendo um grande talho na mão direita. Dirigindo-se imediatamente para Cássia a fim de receber os necessários cuidados médicos, ao passar perto da criança viu as abelhas que zumbiam ao redor de sua cabeça. Parou e agitou as mãos para livrá-la do enxame. No mesmo instante, sua mão parou de sangrar e o ferimento se fechou. Ele deu gritos de surpresa, o que chamou a atenção de Antônio e Amata que correram ao local. O enxame, por poucos instantes disperso, voltou ao seu lugar e mais tarde, quando Rita foi para o mosteiro de Cássia, as abelhas ficaram nas paredes do jardim interno".
(Santa Rita de Cássia. [s.l], [s.d]. Disponível em: http://www.derradeirasgracas.com/2.%20Segunda%20P%C3%A1gina/Santa%20Rita%20de%20C%C3%A1ssia.htm. Acessado em 22/05/2010).

Na vida, entretanto, o seu desejo de abraçar a vida consagrada foi obstaculizado por um matrimônio que seus pais arquitetaram para a mesma que mesmo sem ser seu desejo acabou por aceitá-lo em sinal de obediência aos pais, os quais tendo avançada idade, receavam que, morrendo, sua filha única ficasse sozinha no mundo.

Rita foi dessas pessoas que teve que conviver com o temperamento arrogante de um marido agressivo, vingativo e dado a farras e quando enfim obteve a graça de vê-lo mudar de vida teve que conviver com a dor do assassinato do mesmo pelos desafetos por ele colecionados em sua vida de tortuosos caminhos.

Se a dor do luto lhe era amarga, a profunda angustia de ver seus filhos inflamados pela sede de vingança pela morte do pai, não lhe era sentida em menor grau de intensidade, tanto assim o era que vendo que nada abrandava o ímpeto daquele anseio de vingança, em suas orações, pediu a Deus vê-los antes mortos a vê-los como assassinos, o que de fato ocorreu após cause um ano de convalescência de grave moléstia. Por consolo, veio o fato de no leito de morte seus filhos desistindo da vingança, terem perdoado os assassinos do pai.

Já atingindo a casa dos trinta anos, contabilizava uma viuvez, a morte de seus filhos gêmeos, a ausência também de seus pais e tudo em lapso de tempo muito próximo. O desejo pela vida religiosa desabrochado nos anos de adolescência enfim poderia ser realizado, já que em épocas pretéritas sujeitou-se ao casamento para ela arquitetado por seus pais muito embora não fosse seu desejo, mas não sendo mais virgem, provavelmente não seria admitida em um convento, era algo impossível aquela época onde inclusive a mulher não tinha notoriedade no meio social.

Após ter entrado milagrosamente, durante a noite, no mosteiro das monjas agostinianas sem que as trancas do mesmo fossem abertas ou quebradas, as monjas a acolheram. Teria ela entrado no recinto com a ajuda de três santos que a conduziram suspensa do chão até o alto do mosteiro onde entrou em êxtase e, quando retornou ao estado normal, se achou nas dependências daquele recolhimento de religiosas sem entender bem como; os santos eram santo Agostinho, São João Batista e São Nicolau de Tolentino. Mas, ao menos em meu julgar, também é muito interessante o fato que a seguir transcrevo:

"Certo dia, a superiora, para pô-la a prova, pediu-lhe que, todos os dias, regasse um galho seco pela manhã e à tarde. Em sinal de obediência, Rita o fez com todo o carinho e, tempos depois, milagrosamente, o galho seco se transformou em uma bela videira. Esta ainda existe, em Cássia, e continua produzindo uvas”. (Santa Rita de Cássia. [s.l], [s.d]. Disponível em: http://www.derradeirasgracas.com/2.%20Segunda%20P%C3%A1gina/Santa%20Rita%20de%20C%C3%A1ssia.htm. Acessado em 22/05/2010).


Também não se pode deixar de dizer deixar de ressaltar o fato de que tão logo fora admitida no mosteiro, Rita plantou uma roseira que todos os anos dá flores no inverno e nisto repousa o impossível: na Europa flores florescem na primavera e não no inverno onde sequer as plantas tem folhas.

“Já no leito de morte uma parente de Rita a visitou no inverno, quando tudo estava coberto pela neve. Ao se despedir, a parente perguntou se Rita queria algo. Ela disse que sim, e pediu uma rosa do jardim de sua antiga casa, em Roccaporena. A parente julgou que ela estava delirando; desde quando havia rosas no inverno? Para atender o pedido foi em sua antiga casa e chegando em sua vila, a surpresa: Milagrosamente em meio à neve, havia uma rosa magnífica! A parente a colheu e levou para Rita, que agradeceu a Deus por Sua bondade". (Santa Rita de Cássia. [s.l], [s.d]. Disponível em: http://www.derradeirasgracas.com/2.%20Segunda%20P%C3%A1gina/Santa%20Rita%20de%20C%C3%A1ssia.htm. Acessado em 22/05/2010).

No mosteiro de Cássia, até hoje, conserva-se um belo jardim onde inclusive existente aquela roseira. Não por menos, Rita tem sua figura associada a uma rosa e diante do fato de ter desabrochado no inverno em condições tão adversas, mais uma vez penso se fazer latente a certeza de que “para Deus Nada é impossível”(Lc 1,37).

Nos últimos quinze anos de sua vida, trazia na testa um estigma, uma ferida, provocado por um espinho da coroa de um crucifixo, o qual desprendeu-se e feriu a santa que encanto rezava diante dele pedirá poder participar um pouco do sofrimento de Cristo; ferimento este que causava-lhe atrozes dores, tinha aspecto feio e exala odor tão desagradável que o convento achou por bem isolá-la do convívio das outras freiras em uma cela onde levam o que ela precisava para manter-se viva. Tudo foi por ela suportado com grande paciência no ofertar de tudo nas mãos de Deus, inclusive o isolamento do qual fez escada caminho para aumentar sua intimidade co o divino.

Após sua morte, todo o quarto onde convalescerá, bem como as adjacências se impregnam de agradabilíssimo odor de rosas e seu corpo também partilha de igual sorte chegando inclusive a ganhar um aspecto corado próprio de que está vivo e que a dias já lhe era escasso, ao passo que a ferida na testa imediatamente cicatrizando ganhou um tom avermelhado semelhante a um rubi, dando o cheiro até então purulento e desagradável lugar a agradabilíssima fragrância. Hoje seu corpo se encontra em uma urna de cristal suspensa por sobre o altar do Santuário a ela dedicado em Cássia.

O perfume da Magherita de Roccaporena não é senão a santidade própria dos eleitos de Deus. Não por menos a figura de Rita associa-se a rosa que em verdade é entre as flores a que tem fragrância das mais agradáveis. Como toda rosa tem espinhos, a vida também não lhe foi fácil, antes foi generosa no ofertar de sofrimentos e diante de seu perfume nos mostra o quanto somos mesquinhos em nossa visão torpe arraigada em coisas mundanas, na moda, no prazer, na riqueza, no egoísmo, no desrespeito ao próximo e na falta de sabedoria pra viver, a qual se faz latente em nossos queixumes, quando estes em verdade são irrisórios diante de tantos outros sofrimentos infinitamente mais inclementes.

O perfume que vem de Cássia é a simplicidade e a humildade, presentes no evangelho, que emanam uma profunda sabedoria que deixa a inteligência e o conhecimento humanos abestalhados diante de questões como a incorruptibilidade do corpo de Rita. É somente à luz dessa sabedoria humilde e simples que o impossível se realiza naquela sutileza que somente o sentir satisfaz, sossegando a pretensão de explicar o porquê de tanto, na arrasadora certeza de uma fé: “para Deus nada é impossível”(Lc 1,37).

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Discurso de Formatura

Íntegra do discurso proferido em 19/01/2010 na Igreja de Nossa Senhora da Conceição do Anil, por ocasião de Missa em Ação de Graças pela Colação de Grau dos Formandos da V Turma de Direito da Faculdade Santa Terezinha - CEST, Turma Professor Thales da Costa Lopoes, da qual fui eleito orador.
_____________________________
FACULDADE SANTA TEREZINHA - CEST
FORMANDOS DO SEGUNDO SEMESTRE LETIVO DE 2009
COLAÇÃO DE GRAU DO CURSO DE DIREITO
IGREJA MATRIZ DA PARÓQUIA DE NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO DO ANIL
SÃO LUÍS, 19 DE JANEIRO DE 2010
MISSA EM AÇÃO DE GRAÇAS PELA COLAÇÃO DE GRAU


DISCURSO PARA MISSA EM AÇÃO DE GRAÇAS


Estimados colegas; amigos de faculdade;
Estimados... Estimados Senhores e Senhoras aqui presentes;
Nossos familiares e amigos... Boa noite!


“Não faças de ti um sonho a si realizar. Vai!”

No horizonte da existência e no regaço deste dia, estas palavras da poetisa Cecília Meireles ganham vida e são protagonizadas por cada um dos que hoje trazem no semblante a estampa do sorriso de quem fez dos ideais espada de combate, completou a corrida... Guardou a fé e esperança, alicerçando-se na certeza de que, quando perseveramos, tudo é possível.

Impregna-se nas calendas de janeiro, em meio a amplidão desta hora, o crepitar do brilho do olhar que cintila em cada rosto aqui presente, o qual ilumina-a com o resplendor próprio dos que emanam a luz radiosa da vitória que cinge o semblante com a diadema da glória, o qual a existência hoje oferta aqueles que fizeram do direito uma escolha e objetivo de vida, perseguido de forma árdua ao longo dos anos de faculdade.

Mas se a alegria se faz companheira de caminhada, no transcurso destas horas, em que a felicidade ressoa no silêncio da profundidade dos corações, fazendo-se comunicável mediante o “murmúrio do indizível” que serpeia os olhares e tudo fala em silenciosa melodia... A saudade por sua vez também se aproxima sorrateira e em meio aquela melodia, transformando a vida em baile, tira-nos para dançar com as recordações de outrora e, nesse valsar de emoções, faz dos olhos lagos perenes que fendidos, em filete d’água correm e deságuam no oceano das lembranças, as quais já se avolumam pela sonata dos ponteiros, que não tarda em anunciar a hora em que as essências do perfume deste momento se impregnaram nas belas páginas de um passado que já nasce vitorioso.

Realmente, trata-se de um passado que já nascerá vitorioso e não poderia sê-lo de forma diversa se o momento presente é todo repleto de vitórias, individuais e coletivas, que se fazem perceptíveis por todos nós que ora o vivemos, escrevemos e sentimentos; mas se um por um lado já nasce vitorioso... Permanecer assim é tarefa que exige um comprometimento com o presente; comprometimento este que chama a colação o mais íntimo de cada um à resposta da indagação sobre o que somos e o que queremos ser.

"Pergunto: tu, ante o presente,
Como te defines como será do passado?
Há urgência de resposta, antes que a noite chegue.
Carregarás fardos para evitar
(repara que o rio corre e a noite vem como onda)
ou deixarás que apenas sejamos o tempo
e irreparável memória?"(José Carlos Capinam).

Presente e passado são hiatos existenciais que se comunicam mediante o agir humano que repercuti no futuro; repito, repercuti e não o define, mas tão somente aponta possibilidades, cuja ratificação repousa nas entrelaças do porvir, nos acontecimentos vindouros que em parte tem por tecelão a vontade divina e em outra, como já dito, o agir humano com a persecução dos propósitos a serem eleitos mediante o livre-arbítrio.

Justiça e Direito não são e nem devem ser concebidas como realidades distintas, entretanto em determinados momentos podem que se mostrarem conflitantes entre si semelhante a flor que se causa encanto com o aroma e colorido de suas pétalas, também sabe ferir e causar desencanto com a agudeza de seus espinhos e a ocorrência desses conflitos é algo sobre o qual nenhum de nós, bacharéis de Direito, estará imune daqui por diante. A vida se encarregará de nos por em situações dessa ordem e diante delas não vacilemos em preterir o direito pela justiça, pois assim haveremos de sermos promotores de um direito justo e muito mais consolidado, semelhante a roseira que podada, a despeito de desvanecer em suas forças, rebenta em viçosos ramos com flores de igual ou superior fragrância e esplendor.

Já dizia Albert Einstein que “o único lugar em que o sucesso vem antes do trabalho é no dicionário”! Caríssimos, alcançar o sucesso é um anseio de muitos, privilégio para poucos e conquista somente para alguns e isto porque ele jamais é atingido, e se o é não é de forma plena, se buscado primordialmente, mas sim, e assim o é mais esplendoroso, quando surgi como conseqüência de um propósito que é perseguido de forma silenciosa, porém consistente e decididamente abnegada, ou como preconizado pelo mesmo Einstein, “o segredo do sucesso não está em fazer aquilo que se gosta e sim em gostar daquilo que se faz”.

Santa Terezinha, patrona do Estabelecimento de Ensino Superior no qual cursamos a faculdade de Direito, certa vez disse: “perguntas-me um caminho para a perfeição, eu conheço o amor e somente o amor”! São Paulo, na Primeira Carta aos Coríntios, já exortava que ainda que tivesse o conhecimento de todos os mistérios e de toda a ciência, ainda que tivesse toda a fé a ponto de transpor montanhas, se não tivesse o amor... Não seria nada!

Ao menos entendo; nenhum sucesso pode ser vislumbrado e nenhuma meta alcançada se não tiver por combustível o amor. Contudo, penso ser de uma mestria impar as palavras de Santa Terezinha: “não é bastante amar, é preciso prová-lo!” Exatamente por isso, neste dia em que a existência descortina diante de nós um horizonte no qual somos chamados a sermos bacharéis em direito, antes de tudo somos intimados a tornar-nos promotores da justiça tomando-a por sacerdócio a ser exercido com abnegado compromisso e humanitários propósitos e, não duvidemos, se assim fizermos, o sucesso virá consequentemente e naturalmente.

Pablo Neruda já dizia: "o mais amplo do mundo, o conhecimento, o reconhecimento, a alegria deixada por um presente, como um suavíssimo cometa, tudo isso é muito mais cabem na extensão de uma palavra. Quando se diz obrigado, se dizem muitas coisas mais, que vêm de muito longe e de muito perto, de tão longe como de origem do indivíduo, de tão perto como o secreto pulsar do coração." Nesse pulsar secreto é que neste momento é imperioso, é justo, é devido... Agradecer-se; agradecer-se antes de tudo a Deus, a vocês pais, aos nossos amigos e a todos que confiaram e nos apoiaram ao longo desta caminhada.

Já dizia Anchieta: “caminhante não há caminho; o caminho se faz ao caminhar”. Daqui para frente não haverá caminho traçado, teremos que trilhá-lo... Inventá-lo com nossos próprios passos. Antes de tudo fica a confiança em Deus e como já diz a prece; a benção irlandesa... “Que o sol brilhe cálido sobre tua face, o vento sopre fagueiro sobre teus ombros, a chuva caia serena sobre teus campos e até que nos vejamos de novo, que Deus nos guarde na palma de sua mão!”

Obrigado.

MAURICIO GOMES
Orador da Turma

terça-feira, 18 de maio de 2010

90 anos do nascimento de Lolek












Os bons sempre serão lembrados! Ser bom, definitivamente, não é uma tarefa fácil, ainda mais para nós que somos humanos, logo imperfeitos, e isto se torna evidente porque é da natureza humana, por exemplo, a vingança, muito embora em São Paulo se tenha o seguinte ensinamento: "não te deixes vencer pelo mal, mas vences o mal com o bem (Rm 12, 21)".

A pequena Vadovice, na Polônia, se levanta sobranceira nas primeiras horas deste dia 18 do corrente mês. Desperta e presta continência ao passado e faz silêncio para ouvir o choro característico dos recém-nascidos, só que não há choro e sim alegria pelo surgir de um lindo bebê: trata-se de “Lolek” que há exatamente 90 anos entrava no mundo pelo milagre da vida para fazer o bem e com isso se tornar bom para Vadovice e ao mundo semeando a paz.

Estamos no mês de maio, mês mariano, no qual de maneira toda particular a Igreja Católica Apostólica Romana tributa louvores à Virgem Maria e penso que é impossível falar nesse assunto sem ter em mente a aparição da Virgem em Fátima – Portugal.

Falar em Maria e, sobretudo, sob o título de Senhora de Fátima é algo que remete o saudoso Romano Pontífice João Paulo II, vítima de um atentado exatamente em um treze de maio, dia de Nossa Senhora de Fátima. Bem, com estas palavras, penso ter ficado evidente que Lolek não é senão o mencionado Papa. Explico: Lolek é a forma carinhosa com que Karol (João Paulo antes de se tornar Papa) era chamado por sua mãe.

Retomando a idéia anterior, não é demais dizer que na coroa da imagem da Senhora de Fátima, a qual exposta em seu Santuário em Portugal, encontra-se cravada a bala retirada do corpo do Papa. Ele como nenhum outro difundiu tanto a devoção à Virgem; e para tanto, determinou com a autoridade de seu cargo que o Rosário passasse a ter cinco novos mistérios, os chamados mistérios luminosos. Em seu brasão, por sinal, predomina o azul, cor de Maria, além de uma enorme letra “M” em ouro.

Noventa anos de um acontecimento maravilhoso na terra, que hoje por certo repercuti nos céus; eis, em síntese, o significado do transcurso deste 18 de maio de 2010. Noventa anos de um nascimento em torno do qual gravitam alguns fatos luminosos que navegando pela internet encontrei e aqui transcrevo:

“Nascimento de João Paulo II: Segundo se conta, não houve dor. No momento do parto, a mãe pediu à parteira que abrisse a janela para que os primeiros sons que seu filho recém-nascido ouvisse fossem o canto em honra de Maria, Mãe de Deus.
E assim a parteira saltou do pé da cama para a janela e escancarou as persianas. De repente o quarto se encheu de luz e do entoar das vésperas de maio em honra da Santa Virgem, vindo da Igreja Nossa Senhora, no próprio mês a ela dedicado. Dessa forma, os primeiros sons ouvidos pelo futuro papa, João Paulo II, foram cânticos entoados a Maria, da igreja paroquial que ficava bem do outro lado da rua da casa onde nasceu, num modesto sobrado cujos proprietários eram judeus, na cidadezinha de Vadovice, na Galícia.
Essa foi a história contada pelo velho Papa em pessoa, enquanto caminhava pelos jardins do Vaticano no seu septuagésimo ano de vida, contemplando o arco descrito por sua vida notável e descrevendo essa grande dádiva de sua própria mãe martirizada. Trecho do livro Sua Santidade, João Paulo II e a história oculta de nosso tempo, de Carl Bernstein e Marco Politi”.
(Disponível em http:// www.melgama.com/religiosas/papa/index.html acessado em 17/05/2010) .


Realmente, é difícil dar vida a idéia que João Paulo tenha morrido; é custoso dar azo ao pensamento de que seu espírito juvenil tenha se expirado com a dimensão corpórea de sua matéria; mais difícil ainda é, a luz da fé por ele professada, não tê-lo, desde já, como pertencente ao número dos eleitos de Deus, ou como bradado na Praça São Pedro em Roma por ocasião de seu sepultamento: “santo súbito”.

Em João Paulo II o Evangelho de Cristo foi pregado de forma contundente com palavras e muito mais ainda foi asseverado pelo exemplo. Exemplo de plena obediência, no perdão concedido ao turco que lhe baleou; poucas vezes o mando de Cristo foi observado com tanta retidão: “se alguém te der uma bofetada, oferta a outra face”. O Papa polonês o fez como ninguém!

Apesar de grande líder religioso, sua atuação extrapolou os limites da fé e, com seu carisma inato, bem soube transpor os valores fundamentais da cristandade ao restante do mundo propondo a cultura da tolerância, da paz, da reconciliação e do ecumenismo, do respeito ao homem na sua dignidade e em todas as fazes de sua vida. Antes de tudo soube ser diplomata sem ser demagogo, mostrando-se um valente destemido que levou até as últimas conseqüências suas convicções e se ainda hoje possa ser concebível não amá-lo, certamente, muito mais inconcebível é não admirá-lo e respeitá-lo.

Reconhecer o valor de algo quando ele o tem, muito mais que questão de fazer justiça, é caminhar para a perfeita elevação da alma. É por isso que hoje, na insignificância de minha pequenez, também me uno a Vadovice, a Cracóvia e a Polônia para reverenciar a memória de um gigante cujas primaveras doravante tem e terá a eternidade por jardim. Por ocasião de seu ocaso, em 02/04/2005, fiz três sonetos em sua memória: Antífonas das lágrimas; As vésperas do infinito e Augustas primaveras, dos quais aqui transcrevo este último, a título de homenagem, de forma inédita, inclusive com a dedicatória da época:

In memorian de João Paulo II, mensageiro da paz, defensor da família, desbravador de seus limites na busca de seus propósitos.

Augustas primaveras.

É pois com o adubo d’uma vida inteira
Que ao soar dos badalos dos séculos... Dias...
Deslizam na clepsidra da existência
Para do tempo vislumbrar fronteira

Ser gota no mar da glória radiante...
Onda na praia das eternas alegrias!
E quando ecoa sonata dos ponteiros
Ressoam concertos monumentais

Morgados de ventos exuberantes
Que do eterno se fazem caminheiros
Regidos pelas partituras d’alma!

E quando chega dos concertos outono
Esvai-se na relva perfume sem fim
De jardim que o esplêndido espalma!

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§§ Nota: As imagens aqui contidas foram acessadas em 17/05/2010 no sítio: http://www.pontificado.kit.net.biografia/html
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segunda-feira, 17 de maio de 2010

O que é Alusuras?

(Amanhecer no Rio Pericumã - Pinheiro/MA)

Recentemente muitas são as pessoas que convivendo comigo, tanto no meio familiar como no ambiente de trabalho, ouvindo o nome alusuras, fazem-me uma pergunta que em meus ouvidos cada vez mais tem maior freqüência: o que é Alusuras?

Bem. A resposta de tanto é algo que de antemão informo ser, ou melhor, pertencer a um campo transcendente que em ligeiras palavras não conseguiria transmitir e ainda que tivesse a meu favor a imortalidade, ainda assim, penso que a vitaliciedade também não colaboraria muito para que, não tendo que preocupar-me com o tempo, pudesse, enfim, responder o que é Alusuras.

Alusuras, por sinal, é palavra que à língua portuguesa só presta reverência nas normas atinentes ao plural das palavras e assim o faz, não é porque seja melhor que a referida língua, mas porque é de tal modo extraordinária que não é apenas substantivo, nem adjetivo, tampouco verbo, conjunção, preposição, advérbio e por ai vai. Mas antes que talvez possa ser entendido como louco, antecipo-me em dizer que concordo com a idéia de que seja um neologismo como sustentado por alguns, o que não afasta a necessidade de uma análise semântica, e sobre este aspecto assumo a paternidade de tanto.

Dito isto, chamo para mim a responsabilidade de, senão explicá-lo, pelo menos apresentá-lo, caros leitores, para que tireis vossas conclusões e nesse sentido um breve histórico, ao menos parece-me, é o melhor caminho a ser trilhado em tal propósito. Outrossim, lembro que sendo o filho extensão do pai, em última análise Alusuras sou eu próprio numa versão mais polida, pelo menos é o que pretendo ser.

Corria o ano de 2002. Na cidade de Pinheiro-MA, com a efervescência própria da mentalidade juvenil de 14 anos, muito me era agradável os dias da semana em que tinha aula com a Professora Mota que, aquela época, lecionava na Fundação Bradesco, Língua Portuguesa e Literatura. Como tenho saudades desse tempo! Dividia-o entre os afazeres domésticos com mamãe; a escola; os amigos; o convívio familiar; passeios vespertinos nos campos de Pericumã com banhos no rio de mesmo nome e a Catedral de Santo Inácio de Loyola, onde tornei-me acólito em 1998.

Destaco aqui a escola e a igreja. Nesta, a figura sempre risonha do saudoso Pe.Almir Lima Silva, pinheirense fanático como eu, grande orador, sacerdote fervoroso e amante das tradições sem perder de vista o novo, educador exímio e muito inteligente; naquela, a figura altiva e excelsa da Professora Mota que pelo domínio da arte de lecionar e o apurado senso crítico e elevado saber, fazia de suas aulas oásis da sabedoria que de encantamento deslumbrava-me.

Não deu outra: unindo o ensinamento divino ao humano e entrelaçando tudo no seio familiar surgiu a “alusura”. Aqui, ao menos parece-me, assiste razão ao filho mais ilustre de Pinheiro, José Sarney, que por ocasião do centenário da Academia Maranhense de Letras, falando sobre a arte de escrever, no discurso que proferiu na qualidade de decano do sodalício, lembrou que tal arte, ao autorizar conceber e reinventar mundos e pessoas pela palavra escrita, nos faz participar da grandeza criadora do arquiteto divino. Assim foi com a Alusura.

Lembro-me bem que, em uma tarde risonha dessas em que o céu de Pinheiro é faceiro em seu azul-anil, terminava em casa uns rabiscos que chamava de poesia, a qual tinha começado na Fundação Bradesco, sentado na grama, debaixo de uns cajueiros que faziam sombra em abundância por trás da quadra de esportes e onde por sinal os bem-te-vis são insistentes em sempre cantar, ao passo que a brisa soprava com uma agradabilíssima intensidade.

Naquele cenário tão encantador, experimentei algo bom em demasia que embora saiba e tenha consciência do que foi não quero aqui segredar; permitam-me esse “egoísmo salutar” desse mister que a mim foi dado viver e sentir. Apenas digo que no ímpeto de tanto, busquei nas palavras algo para expressar tal sensação e em meio a grandeza da arte de escrever, se experimentei a grandeza divina não sei, só sei que me veio nos lábios “alusura” e não por menos somente eu sei o que significa: foi a única palavra que satisfez minha sede.

Assim, a referida palavra figurou primeiramente naquela poesia, um soneto por sinal, da qual infelizmente perdi tanto o rascunho como a via que passei a limpo e entreguei a professora Mota que como se fosse hoje, lembro-me bem, disse: eu desconheço essa palavra, até procurei no dicionário, mas não encontrei. Ela foi a primeira a ficar intrigada com tal palavra, só que os dias foram passando... Outros tantos também começaram a partilhar com ela de tal inquietação e eu cada vez mais apreciava fazer versos; então, resolvi por alusura no plural, batizando meu endereço eletrônico pessoal com o mesmo, depois do que, tudo ganhou maior dimensão, desde a inquietação de alguns em saber o seu significado, como o embaraço de outros que quando lhes dizia o referido endereço, rendiam-se ao riso, perplexos, e pediam: soletre!

Partilho da idéia que determinadas coisas na vida muito embora possam ser explicadas, nada compara-se a satisfação que senti-las proporciona ao intelecto. Alusuras permanecerá meu segredo, minha força pungente, o meu “claro enigma” para o mundo, porém em tudo que faço sempre tem e fica um pouco das alusuras, muito embora entenda que, tomando o viver por luminária translúcida, tenha aplicação o pensamento que certa vez li folheando um livro de Schopenhauer: Somente extinta que a luz revela se quando acessa era luz de vela ou lampião.
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quarta-feira, 5 de maio de 2010

Rabiscos poéticos

Soneto das interrogações


Porquê! Por que existe tal palavra?
Por que há no mundo interrogações?
Por que sou sensato... Complicado?
Para que fazer boas ações?

De que adianta ser certinho?
Por que não viver melhor a vida?
Por que não sorrir... Alegria sentir?
Por que deixar a vida comprimida?

Por quê? Por quê? Porque não ser feliz?
Por que para tudo buscar respostas?
Por que não ser espontâneo, normal?

Por que seguir regras, não ser livre?
Por que pensar, ter medo de viver?
Porque sou homem e não imortal!

(Maurício Gomes - poesia aos homens com "H" maiúsculo).