segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

In Vita

Durante a vida, certos instantes, feitos sopros de infinito, remetem à eternidade o mais simplório fato. De tudo fica a lição de que a vida é – por si só – um extraordinário milagre que, nas possibilidades que oferta, protagoniza bênçãos.

A brevidade exige que a prolixidade cesse para que evite-se o desperdício e para que a vida não seja consumida, mas sim vivida. Viver a vida é sintetizar aquilo que vale a pena com aquilo que merece valor. Entretanto é de bom tom admoestar que a diferença entre prolixidade e a síntese não é a (in)existência de brevidade nesta ou naquela: a prolixidade pode ser brevíssima e a síntese deveras longa. Por hora, convém apenas sinalizar a existência dessa diferença a fim de tentar prevenir equívocos e acionar da prudência o alerta para não se incorrer em classificações precipitadas sobre a prolixidade e a síntese.

A compreensão das coisas e dos sentimentos perpassa não só a compreensão das suas causas, como também a divagação daquilo que lhes é antônimo, pois na contrariedade um lampejo que revela aquilo que os faz magnos e lhes faz valer a pena. Assim, pela divagação – que não exige a constatação de uma realidade contrária a que se vive – o gozo das coisas e sentimentos, que impelem no ser benefícios e bondades, se torna aquele motivo inexplicável pelo qual o viver ganha uma significância especial não só pelo bem-estar que se experimenta, como pelo fomento da consciência de que a ruindade advinda da sua ausência, quando torna-se realidade, supera a projeção da pior divagação. Então o gozo fica infinitamente bom, pois experimentado com a alegria da circunstância e com a sabedoria própria de quem sabe que no porvir o verbo reiterar é uma incerteza.

Hoje é 16 de fevereiro, véspera de carnaval. O dia em si é singelo, como todos os demais que compõem o ano, todavia para mim, em particular, ganha uma dimensão tão especial como aquela que envolve e consagra, na essência, os dias de natal, de ano novo, de páscoa e o próprio carnaval, porém com uma significância toda singular. A aureola do saudosismo traz à tona a lembrança de sentimentos bem vividos e, por isso mesmo, compreendidos e muito significantes mesmo agora em que, alguns, já são sinônimos de saudade.

Hoje faz dois anos de uma bela visão: o sorriso cheio de luz de minha primogênita, felizmente outros mais vieram e continuam vindo, atualizando assim aquela emoção cotidianamente. Um outro sorriso também neste dia me vem a mente, com a particularidade de no cotidiano apenas se fazer atual através da recordação: é o sorriso sereno, meigo e impregnado de paz de meu padrinho Pe. Pedro Paulo Sambalino (natural de Florença – Itália) que há 21 anos foi sorrir no céu, de onde irradia luz.

Aquela luz se reflete hoje para também me proporcionar, neste instante, aqueles sentimentos sublimes que avivam em mim o tempo em que a Legião de Maria tinha a direção espiritual de meu padrinho; e... uma legião de recordações assaltam-me, sobremaneira dos passeios e retiros espirituais daquele organismo mariano, nos quais ia com minha querida e saudosa avó Julieta, cujo sorriso também é inesquecível pela sinonímia de bondade que traduz. Então tudo se torna uma emoção maior que localiza aquele extremo onde a alegria e a tristeza fazem divisa.

Porém, o milagre da vida continua e com a saudade convive o presente da realidade de outros sorrisos que, a exemplo daquele primeiro de minha filha, continuam cheios de vida e realidade na dimensão corpórea do plano de existir, dos quais cintila com magno brilho o materno: luminosidade sublime.

Assim vivo este dia. Divagando, sonhando... Fazendo da “brevidade” aquele motivo primeiro para a síntese que entrelaça o presente com aquilo e aqueles que são caros: pais, irmãos, família, amigos... E a cada um tributo a gratidão pelos instantes que me proporcionam!

E assim a vida perdura e sintetiza-se.

*** & ...

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