Durante a vida, certos instantes,
feitos sopros de infinito, remetem à eternidade o mais simplório fato. De tudo
fica a lição de que a vida é – por si só – um extraordinário milagre que, nas
possibilidades que oferta, protagoniza bênçãos.
A brevidade exige que a
prolixidade cesse para que evite-se o desperdício e para que a vida não seja
consumida, mas sim vivida. Viver a vida é sintetizar aquilo que vale a pena com
aquilo que merece valor. Entretanto é de bom tom admoestar que a diferença entre
prolixidade e a síntese não é a (in)existência de brevidade nesta ou
naquela: a prolixidade pode ser brevíssima e a síntese deveras longa. Por hora,
convém apenas sinalizar a existência dessa diferença a fim de tentar prevenir
equívocos e acionar da prudência o alerta para não se incorrer em
classificações precipitadas sobre a prolixidade e a síntese.
A compreensão das coisas e dos
sentimentos perpassa não só a compreensão das suas causas, como também a divagação
daquilo que lhes é antônimo, pois na contrariedade um lampejo que revela aquilo
que os faz magnos e lhes faz valer a pena. Assim, pela divagação – que não
exige a constatação de uma realidade contrária a que se vive – o gozo das
coisas e sentimentos, que impelem no ser benefícios e bondades, se torna aquele
motivo inexplicável pelo qual o viver ganha uma significância especial não só
pelo bem-estar que se experimenta, como pelo fomento da consciência de que a ruindade advinda da
sua ausência, quando torna-se realidade, supera a projeção da pior
divagação. Então o gozo fica infinitamente bom, pois experimentado com a alegria da circunstância e com a sabedoria própria de quem sabe que no porvir o verbo reiterar é uma incerteza.
Hoje é 16 de fevereiro, véspera de carnaval. O dia em
si é singelo, como todos os demais que compõem o ano, todavia para mim, em
particular, ganha uma dimensão tão especial como aquela que envolve e consagra, na essência, os dias de natal, de ano novo, de páscoa e o próprio carnaval, porém com uma significância toda singular. A aureola do saudosismo traz à tona a lembrança de sentimentos bem vividos e, por isso mesmo, compreendidos e
muito significantes mesmo agora em que, alguns, já são sinônimos de saudade.
Hoje faz dois anos de uma bela
visão: o sorriso cheio de luz de minha primogênita, felizmente outros mais
vieram e continuam vindo, atualizando assim aquela emoção cotidianamente. Um
outro sorriso também neste dia me vem a mente, com a particularidade de no
cotidiano apenas se fazer atual através da recordação: é o sorriso sereno, meigo
e impregnado de paz de meu padrinho Pe. Pedro Paulo Sambalino (natural de
Florença – Itália) que há 21 anos foi sorrir no céu, de onde irradia luz.
Aquela luz se reflete hoje para
também me proporcionar, neste instante, aqueles sentimentos sublimes que avivam
em mim o tempo em que a Legião de Maria tinha a direção espiritual de meu
padrinho; e... uma legião de recordações assaltam-me, sobremaneira dos passeios e
retiros espirituais daquele organismo mariano, nos quais ia com minha querida e saudosa avó
Julieta, cujo sorriso também é inesquecível pela sinonímia de bondade que traduz. Então tudo se torna uma emoção maior que localiza aquele extremo onde a alegria e a tristeza fazem divisa.
Porém, o milagre da vida continua
e com a saudade convive o presente da realidade de outros sorrisos que, a
exemplo daquele primeiro de minha filha, continuam cheios de vida e realidade
na dimensão corpórea do plano de existir, dos quais cintila com magno brilho
o materno: luminosidade sublime.
Assim vivo este dia. Divagando,
sonhando... Fazendo da “brevidade” aquele motivo primeiro para a síntese que
entrelaça o presente com aquilo e aqueles que são caros: pais, irmãos, família,
amigos... E a cada um tributo a gratidão pelos instantes que me proporcionam!
E assim a vida perdura e sintetiza-se.
*** & ...
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