Se a existência possui leis, regras que se impõe à
semelhança do que a pontuação faz com as palavras, diria que nas pausas que
tais leis impõem, em cada vírgula existencial e em cada ponto e vírgula
circunstancial há um prenúncio de ponto final.
Contudo, o mesmo ponto que assinala um final também
promove uma continuação, ou melhor, impõe uma continuação quando se faz plural
e se torna reticências. Evidentemente que isto é um mister que dispensa o
falar, mesmo porque fazê-lo é algo improvável, defini-lo é impensável, e
entendê-lo... Entende-lo é vivê-lo.
E naquela tênue e delgada linha onde saudade é
divisor-balança que traz a dor de não ter e a vontade de querer ter, floresce
aquela esperança que acalma o intimo do ser com aquela força que alguns chamam
confiança, uns conforto e outros fé, mas que em síntese é simplesmente
esperança.
Dizem que a esperança é a última que morre, porém
não sei se é verdade. Só sei que ela também adoece quando lhe acontecesse a
ameaça de um ponto, pois este tanto pode sê-lo continuando ou final e ai
somente pluralizando o ponto interrompe-se o fim para continuar pontuando e se
deixando pontuar.
Ocorre que essas pontuações são etapas nas quais é
inevitável não sentir dores: umas leves, outras vorazes e terrivelmente
impossíveis de explicar, mensurar ou mesmo narrar, apenas doem e doem,
simplesmente doem. E no silêncio de doer
o fazem como ninguém.
Assim, nesse silêncio interrompido de sofrer surgi
o indizível sentimento de amar, inexplicável por essência e incomensurável por
natureza que uma vez ferido pela espada da separação acaba oprimido de dor que
emudecesse, que amarga, que dilacera, mas que não é capaz de exterminá-lo, pois
se em vida viveu morrendo de amor, se for o caso de morte morre vivo de amor,
mas nunca se acaba, se transforma em saudade: pretérito mais que perfeito de
amar.
In memoriam JULIETA FERREIRA PEREIRA
* Peri-mirim-MA, 26/11/1926
+
Pinheiro-MA, 02/11/2013
“Reticências do Inefável”
Insondável sentimento de vazio
Ao apunhalar a alma... Tua ausência
Jardim sem flor... Alvorecer sombrio
Intangível na essência de ser
Mas concreto no abrasador frio
Que teu abraço bom solicita!
Horizonte vasto...
Recordação!
Luz dourada que
perene crepitaE inflama no peito emoção
Tua lembrança... Suspiro que palpita
Esse perfume suave-infinito
Tua saudade... Lágrima e canção!
Canto que se entoa
ao Bendito
Sutileza-adjetivo
verdade...Sinfonia que dilata a amplidão
E de sublime tem de mais bonito
A centelha de eternidade
Que te dá vida no meu coração!
Lágrima que vem da
realidade
Que priva da doçura do
teu olharE impõe o fel da separação...
Com inclemência que faz sufocar
A essência da metáfora de existir...
Sonhar... Viver... Crer... Sempre florir!
Substantivo plural de saudade
Sinônimo da conjunção amor
Conjugado com a luz de teu sorrir...
Ah! Trarei comigo por onde eu for
Sempre e enquanto eu existir...
Teu nome cultivará igual flor
E se o infinitivo de
saudade
Tem o imperativo de
silenciar...No mais profundo silêncio d’alma
Onde o indizível é suspirar
Saudade é mar... Silêncio-prece
Abismo-luz onde vou jardinar.
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