sábado, 26 de novembro de 2011

Emoção

"Amor com amor se paga", já dizia Santa Teresa de Lisieux. "A medida do amor é amar sem medida" ensinava Santo Agostinho.


É o imperativo de um amor que hoje conduz a redação destas linhas que tem no momento presente a essência do perfume que embala as palavras que ora afloram imbuidas da mais autêntica sinceridade desse sentimento sublime, recíproco, incondicional e dessinteressado.

Neste dia até as palavras fogem-me ao tentar descrever este estado de espirito. Assim, tomo a liberdade de deixar de tentar narrar o inenarrável; limito-me a contemplar, ou melhor, recordar.

Quero falar de um amor excelso; excelso, porque possui elos indestrutíveis e mais fortes que os sanguineos. Hoje a bondade em pessoa completa 85 anos e se senti feliz em ter-me ao seu lado e vibra ao saber que eu, se não dispuser o porvir de forma diversa, retornarei para bem perto.

Trata-se de Julieta, minha avó, segundo um amor que transcende a consaguiniedade, cuja mão amiga acompanha-me desde o berço de forma zelosa, como se jóia rara eu fosse. Hoje, no calor de um abraço, esse amor se sublima em um querer bem imenso, como sempre o foi. E se a racionalidade não tem a capacidade de mensurá-lo ou compreendê-lo, a emoção o sabe bem e tudo sintetiza em uma expresão singela, porém sincera e carregada de amor: Parabéns vovó!

domingo, 13 de novembro de 2011

Radiografia poética

"Tântalo"

Conta uma lenda antiga, cuja fama
pelos tempos modernos inda voa,
que lá no inferno, condenado à toa,
de fome e sede Tântalo rebrama.

Junto, corre uma fonte clara e boa.
Perto, um galho de frutas se recama.
Mas, se ele quer comer, se afasta a rama,
e, se tenta beber, a água se escoa.

Tem minha vida e a lenda o mesmo traço,
flagela-me também um vão desejo,
fome e sede incontidas também passo.

Punido como Tântalo me vejo:
Tão perto desse corpo, e não te abraço!
Tão junto dessa boca, e não te beijo!


Esta beleza de poema é de Mata Roma: um dos grandes poetas do Maranhão. Alguns críticos consideram o soneto acima como um dos mais belos da literatura nacional.

José Mata Roma nasceu em Chapadinha-MA e era vaqueiro, contudo ao entrar em contato com as letras delas não mais se apartou, deixando o ofício de vaqueiro para tornar-se exímio professor e imortal da Academia Maranhense de Letras.

Mata Roma era um homem de espirito jovem, mas austero, conforme determinava a sociedade da primeira metade do século passado. Conta-se que esse erudito morria de amores por uma bela jovem, com quem não lhe era lícito casar, entre outras coisas pela diferença de idade entre ambos e pelo fato de que o divórcio não existia e os casamentos só tinham fim através da morte de um dos cônjuges.

Especula-se sobre o fato de Mata Roma ter mantido ou não uma relação amorosa extraconjugal com a jovem. Fato é que, ao que tudo indica, a moça que inspirou o poema Tântalo fosse talvez uma aluna sua, o que naquela epóca tornava ainda mais dificultoso que a sociedade aceitasse um romance entre os dois e, sendo assim, ao poeta cabia apenas sofrer e sofrer, em silêncio, essa angustia de amar e não poder se declarar.

Assim surgiu o soneto Tântalo e, ao menos parece, após esta radiografia poética, a beleza dos versos ganha maior relevo e faz que quem o lê senta e compreenda a angustia existente em cada verso. Se bem verdade que o poeta é um fingidor, como disse Fernando Pessoa em um de seus poemas, não fica dificil compreender porque quando o poeta põe no poema sua experiência própria - deixando o fingimento de lado - o resultado beira o esplêndido.

A amante dos sonhos do poeta soubera o tamanho do bem-querer que este lhe nutria? talvez sim, talvez não. Essa resposta o poeta levou ao túmulo. O certo é que como dizia Camões "o canto é maior que a razão", e que a amante do poeta, ao menos nos devaneios deste, fora talvez uma das mulheres mais amadas de sua epóca, amada com um "fogo que arde e não se vê", nesse "contentamento descontente".

Na minha pequenez, longe de igualar-me a Mata Roma também arrisco meus versos, mas a radiografia deles reservo-me para além túmulo. Que viva o canto e o meu é amoroso e tímido, tão tímido como eu.

"Timidez amorosa".

Quero-te mas não posso ter-te. Não posso...
Pois falta-me coragem para te dizer
Que quero em meus braços o carinho vosso!
Ainda que me fosse a coragem amiga

O hoje não permitiria eu viver
No calor de teus braços, lábios... Seios!
Se é para arriscar-me dizer-te e não ter-te
Como mulher. Prefiro ter-te assim...

Como menina, ou quem sabe amiga
Pois para viver sem o teu sorriso
É melhor desistir antes do fim

Ficar calado em sonhos... Anseios!
Pois neles tenho-te sempre comigo
Até o dia em que olhes para mim!
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