A dor quando é autêntica e sincera, dir-se-á que emudece pela exaustão. Assim li em um prefácio de livro dedicado a perpetuar a memória de uma pessoa, pinheirense por sinal.
Refletindo sobre tais palavras e acima de tudo experimentando, na própria carne, a concretização das mesmas nestes dias de agosto em que a realidade fez-se para mim por demais travosa e amarga, cheguei a algumas conclusões que não são por assim dizer dogmas, senão para mim que as proclama com a debilidade de minhas fragilizadas forças a quem a vida, outra vez, testa a resistência impondo a dor de uma perda/separação.
São palavras que encontram-se entre a racionalidade e a emoção, naquela tênue linha em que a dor emudecendo pela exaustão impõe o silêncio; aquele silêncio que se auto proclama soberano e hoje mais do nunca se faz exigível e única comunicação possível para mim que, uma vez mais, contempla na silenciosa chama do consumir de uma vela, uma procissão de lembranças que diante do último adeus a alguém querido desfila diante dos olhos.
In memoriam de Júlio Theodorico Alves
+ Pinheiro - MA 28/09/2010.
SILENCIOSAMENTE
De todos os ritmos e as melodias
Que as notas musicais podem criar
E dos sentimentos que fazem aflorar...
São do silêncio as doces sinfonias
Aquelas que hoje meu coração se põe...
Em confluência de emoções a ti cantar
Com a saudade de quem em silencio ficou!
De todas as belíssimas partituras
Tal qual letras adormecidas no papel...
Ressonando diante do olhar dos homens
És tu dentre tantas criaturas
A que a lembrança faz meu ser soluçar...
E impelido por saudades buscar
Através dos olhos que o pranto jorrou
Sentir-te presente na imensidão do céu
Qual maestro no comando do concerto.
Como o fogo em vão desafia a água
Assim, pois é de minha parte loucura
Afogando-me em mil recordações
Lembrado as pegadas que deixou teu pé...
Pensar que tua física falta inverto!
E se assim o é, é no oceano da fé
Que afogo nas lembranças tuas
A tristeza de não ter tua companhia
Mas como a loucura ignora...
O impossível; não aceita a razão
Enquanto cruel se faz a realidade
Eis o silêncio nobre loucura.
A partitura que a ti quero cantar
Silenciosamente em meu coração!
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