quinta-feira, 23 de março de 2017

LETRAS DE ORVALHO

Porque se um beija-flor fascina com seu voo ele também comove com suas lágrimas.


"Súplicas a um beija-flor"

Pássaro ferido... Tuas meigas lágrimas
Mar salgado de tristeza inodora...
É desolação que tuas forças últimas
Faz o suspiro que a alegria ignora
Afogada na vastidão de teu olhos
Onde essa tua dor tão fina aflora
E destila liquefeita tua alma

O voo que a existência revigora
E sobrepujante a todo trauma
Faz da imensidão luzentes asas
Do infinito que germina aurora
Na sutileza da esperança em brasas
Pássaro ferido... Canta, sê e voa
E a leveza do suspenso sobrevoa!

Pássaro ferido...  Coração aflito
Pulsa o voo desprendido e perdoa
A ti... E celebra do belo no bonito
A vida! E ao pranto que escoa
Concede o permissivo bendito
De lavar tudo que te atordoa
Para sarar-te as asas e o espírito.
                    (Mauricio Gomes)
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sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

AFETUOSA ALEGRIA

Hoje colhe as flores de suas quatro primaveras a primeira poesia de minha vida que também tanto me inspira. Para ela estes versos, com todo carinho de meu amor.

                             A Cecília, minha amada primogênita.

"Canção do Encanto"

Substantivo de plural encanto
Conjugado com a vastidão do mar
É assim teu nome, uma ode... Recanto
Que me fascina e faz suspirar!
Da alegria do encontro primeiro
A essência não se consome... É brilhar
É perfume que faz do coração candeeiro
Onde reluz a surpresa daquele encontrar
Em teus olhos, da minh'alma cativeiro
Em teu sorriso, de meus louvores o céu
Em tua vida, a adição que me faz inteiro.

E de encantos um plural momento
Toda poesia feita claridade e véu..
A nobre efusão do sentimento
Do Eu querer-te bem com o Eu amar...
E cuidar, e sustentar na dor ou lamento
Se alguma amargura te inundar
Ser teu veleiro e o que mais puder
Em união de indissolúvel casamento
A paternidade enfim se agregar.
Em braços azuis de forte vento
A brisa cor-de-rosa de te amar

E nesse pluralismo de encanto
Que tanto me dá vida e faz sonhar
Daquele sorriso impar e singular...
Deste coração que saúda o portanto
Vem e paira com teu sorrir que ancora
A adverbial certeza do enquanto:
À lembrança da primeira hora
A alegria de ontem será o agora;
Naquele festivo e infinito canto
Quando em meus braços tomei-te filha
Qual pecador que venera um santo.
                           (Mauricio Gomes)  _*_*_*_*_*_*_*_*_

quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

DESEJOS DE ANO NOVO

Então outra vez tudo é novidade. Outro ano se inicia sob os auspícios do imprevisível e ao afago de esperanças. Então é ano novo e a novidade se faz sinônimo de possibilidades e estas se engendram ao cálido desabrochar de desejos.

De fato, os desejos são aquilo que nos impulsiona. O homem é movido por desejos, constantes e intermináveis desejos que se multiplicam a medida que se vive, a todo instante. Que no ano que se inicia, os desejos sejam bons. Desejo a todos a um ano poético e o faço com está bela poesia do imortal Lêdo Ivo, sugestivamente intitulada "Desejos".

DESEJOS

Não quero a eternidade
A trama interminável 
de uma roca que fia 
um dia pós um dia
na duração perpétua
Quero ser o que passa:
A leve nuvem branca
Que se desfaz no espaço
A fumaça de um jato
No céu vazio e claro
Não me agrada ou seduz
viver após viver.

Antes quero o relâmpago
Que rasga o céu sombrio
Uma folha de álamo
No chão de uma viagem
E a chuva momentânea
Que cai sobre as cidades
Prefiro um vôo de pássaro
 a tudo que é eterno.
A tudo que é durável

Prefiro o perecível.
A sombra fugidia
No dia luminoso
Dos narcisos e rosas;
Os instantes que regem,
Na noite indecorosa
O amor dos amantes
Seus gritos e gemidos;
A pétala fugaz
Ferida pelo outono.
Contenta-me o trajeto
entre uma porta aberta
e uma porta fechada
em plena madrugada
ou na manhã mais cândida.
O meu Deus é relâmpago,
O breve esplendor 
Antes do grande sono.

Recuso-me a durar
e a permanecer
Nasci para não ser
e ser o que não é
após tanto sonhar
e após tanto viver.
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