quarta-feira, 1 de julho de 2015

A LUA DE JULHO E SUA MARÉ DE LUZ

O decurso do ano de 2015 está propiciando momentos singulares, de encanto e deslumbramento, que fazem muitos fixarem a visão ao firmamento e não é pra menos, afinal os protagonistas são os corpos celestes. 
No anoitecer do dia 30 de junho os planetas Vênus e Júpiter se alinharam numa espécie de bailado cósmico que, segundo os iniciados na astrologia, é resultado da órbita dos aludidos planetas, fato que proporcionou a aproximação dos mesmos na última semana. Com efeito, o acontecimento pode ser visto com facilidade, pois ocorreu de maneira tal que dispensou a utilização de aparelhos como, por exemplo, binóculos.
O mês de Julho, por sua vez, já começou sob os auspícios de uma lua cheia que desponta logo no primeiro dia do mês, com a particularidade que também será a lua cheia quem fechara o mês, contudo com mais encanto e beleza do que iniciara, haja vista no dia 31 de julho está previsto um fenômeno lunar excepcional, assim como o é o fato de um mês possuir duas luas cheias.
Aos acontecimentos que sucedem no plano da visibilidade da existência humana, a notoriedade é pertinaz em sublinhar os antagonismos e antônimos: Alfa e Ômega; início e fim, etc. De certo modo, este destaque que em principio seria um sublinhar, transubstancia-se, em algumas ocasiões, em um "sublimar" quando à invisibilidade é permitido desfilar o colorido de seus matizes.
Com especial sutileza e encanto aquela lucubração, contemplativa, amealha dimensões e parâmetros antagônicos que se fazem visíveis e perceptíveis, na polarização que define o mês de julho de 2015, assinalada pela ocorrência de duas luas cheias que prometem ser, sucessivamente, uma mais linda que a outra.
A notoriedade visita o início de julho e também visitará o seu final – ao menos as ciências astrológicas prevêem – com a lua cheia, sendo que na segunda ocasião ocorrerá um fenômeno astrológico que deixará o luar com um brilho e uma proporção diferente do que hodiernamente lhe é peculiar e a diferença é para mais, não para menos. 
Neste ínterim, a contemplação faz florescer uma lição: a expectativa – primogênita da notoriedade – impregna nos sentidos e na imaginação uma ansiedade que, quando mal administrada, resulta em decepção que compromete o antes, o durante e o depois.
A decepção torna sem sentido o tempo empregado na espera; torna desolador o durante e deixa ao depois, por legado, a desilusão, em toda potencialidade de seu amargor. Tomando Julho por espectro ou mesmo álibi da quimera de existir, a constatação de que o tempo sempre ratifica o que merece sê-lo, impele no ser o inarredável compromisso de evolução, a qual não se confunde com progresso, mas antes se traduz na sinonímia do desejo e da busca da perfeição – como o luar de julho, desponta belo e caminha na senda que deságua no aperfeiçoamento dessa beleza.
É em razão dessa evolução que os bons sempre são lembrados; cintilam na escuridão, fulgurantes da imortalidade que sopra a poeira do esquecimento com a delicadeza de quem cultiva violetas e, com a impetuosidade do mar bravio, propaga suas lembranças na serenidade peculiar de um porto seguro.
A perfeição da condição humana é a benignidade, sobremaneira aquela que ocorre em mínimas proporções; é que o universo na sua grandiosidade e magnitude se compõe de minúsculas moléculas. As estrelas, por exemplo, que na visão humana aparentem ser pequeninas, em verdade são bem maiores, inclusive na essência - e essência faz magnas as coisas: sutileza singela que intriga e descortina em amplidão, o restrito e a imensidão da vastidão cósmica do universo. 
A vista destas lucubrações que se me assaltam neste primeiro de julho, não posso, de maneira alguma, olhando a lua e o transcurso do dia, não recordar meu avô paterno, Júlio Alves, homem centenário que vivia embarcado, homem do mar, porém com pé na terra firme e amante do luar, esse mesmo luar que lembra dias idos e que rebrilha saudade. 
Completaria meu avô paterno 106 anos, se vivo fosse, contudo foi habitar o insondável em agosto de 2010, abandonando a visibilidade para revestir-se do invisível no qual sua lembrança cintila para mim de maneira especial, assim como este luar de julho, protagonizado pela sutileza da lua que ele ensinou-me apreciar e que tantas vezes foi por ele contemplada, refletida nas águas da baia de São Marcos. 
Então um valor maior se levanta; é a consideração que independe de laços sanguineos, mas que de modo algum os despreza. Considerar é saber valorizar e valorizar e ter consciência do valor que as coisas possuem, exatamente por isso, já ensina a sabedoria popular que "pelo santo se beija o altar".
Ao clarão do luar, portanto, a luminosidade sugere muito mais que claridade, sugere a necessidade de cada pessoa, a exemplo da lua, administrar as fazes de sua existência de maneira a obter seu próprio clarão – visível e intangível – a fim de que quando o insondável se fizer invisível e nós partículas dele, a notoriedade não seja algo polarizado, porém linear e com a constância de uma evolução, oficiada pela benignidade, a promover uma maré de luz e o invisível congregado em poesia, canto e imensidão que ultrapassa os domínios da notoriedade para valsar com a eternidade ao luminoso som do inesquecível. 

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