sábado, 1 de outubro de 2022

INDEPENDÊNCIA OU MORTE

 Independência ou Morte.

O brado do Ipiranga foi inegavelmente o estopim para o surgimento do Brasil Imperial e de uma “Nação Continental”. Porém, entre falar e fazer existe um hiato e transpô-lo exige denodo. Um brado heroico, não há dúvidas, mas a heroicidade do acontecimento não é mérito exclusivo do imperador.

Não se pode falar em independência brasileira sem retroagir no tempo e prestar continência à memória de Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, grande “Mártir da Independência” que testemunhou, com a própria vida, o que o Imperador bradou.

Ao celebrar-se a Independência do Brasil, é dever de justiça prestar reverência à memória dos irmãos Andrada e Silva, especialmente José Bonifácio, homem considerado o mais culto de seu tempo, cognominado “O Patriarca da Independência”, pelo papel decisivo para que o importante evento se projetasse no campo das realidades.

Para não dizerem que não falei das flores, pontuo a memória da baiana Maria Quitéria. Disfarçada de homem, sentou praça e empunhando armas, foi lutar por aquela independência proclamada pelo Imperador, para que “o brado retumbante” ultrapassasse às margens do Ipiranga. Trago à baila a cearense Bárbara de Alencar, avó do escritor José de Alencar, que reunindo homens aguerridos, lutou e foi presa em nome de uma independência, que apesar de proclamada com palavras imperiais, só se efetivaria em julho de 1823, quando a última província, o Maranhão cheio de portugueses, aderiu ao Império do Brasil.

A divisa “Independência ou Morte”, pela interjeição alternativa que utiliza, evidencia que as duas realidades não podem coexistir. A morte atualmente está ressoando mais forte, a começar no Ipiranga que não tem mais as margens tão verdes como quando foi pronunciado o célebre dístico, com o qual Dom Pedro I, aclamado Defensor Perpétuo do Brasil, se dignou romper os laços com Portugal para criar a nação brasileira e nela erguer um império.

Há 200 anos “raiou a liberdade no horizonte do Brasil”, todavia com a névoa densa da escravidão, que o viril proceder do Imperador não foi capaz de debelar. Outra independência hoje é premente. É urgente a independência da tirania do obscurantismo da ignorância, do tráfico de entorpecentes, da ditadura das facções e organizações criminosas.

Os grilhões da escravização, persistem em vários campos, modernizados. Camuflam-se sobre a forma de estatísticas e alarmam o degredo da Dignidade Humana, mas por serem reduzidos a números frios, esses grilhões estatísticos são ignorados, apesar de gritantes, com uma sonoridade maior que o brado o Imperador.

O coração do Imperador Pedro I, pela primeira vez, depois de sua morte, deixou a cidade do Porto, chegando a Brasília no dia 23 de agosto, onde permanecerá até dia 7 de setembro de 2022, como parte das comemorações do bicentenário da nação brasileira. Já o corpo do Patriarca da Independência, inumado no Panteão dos Andradas, faz de Santos um farol onde brilha a nobreza de seu espirito. Ir a Santos, portanto, é um ato de patriotismo que fomenta a heroicidade da inteligência, erudição e retidão de José Bonifácio de Andrada e Silva, tão necessárias ao Brasil

Independência ou Morte. Um brado que interpela a “brava gente brasileira” e para que a primeira alternativa se perpetue, que haja um pouco da “Inteligência Bonifácia” é primordial, para que se construa o porvir desde agora. Sejamos Bonifácios: BRASILEIROS de Inteligência e Coração.


CANAÃ DO PERICUMÃ

 CANAÃ DO PERICUMÃ.

Pinheiro, terra cheia de esperança que se derrama e espalha e tinge seus campos... Esperança que enche a alma, os olhos; e, de assalto, com deslumbre, o coração que contempla daqueles campos a vastidão.

O coração do pinheirense é verde porque esse é esperançoso. Nele pulsa um sangue nobre e fraterno que não é azul como o da Realeza, mas verde como o babaçual.

Sangue vivo, líquido e corrente que segue o curso caudaloso das águas do Pericumã; águas benditas, porque espelham o céu. Rio de peixes em que o milagre da fartura se renova a cada inverno e se prolonga no verão.

A esperança é a última que morre?! Não creio, pois é filha do futuro e esposa do amanhã. "Vive Pinheiro ainda, nos séculos rainha", eternamente em cada coração pinheirense, terra santa e do Pericumã a Canaã.

Parabéns Pinheiro. Cidade de Esperanças, imensas como o bem querer de todos os de sangue verde, que te amam com Verde Coração.


CASA SANTA

 

CASA SANTA 
(Mauricio Gomes Alves, APLAC)

Deus é CARIDADE e da prática dessa certeza de fé, dá testemunho o sobrado no cruzamento da Avenida Presidente Dutra com a Avenida Paulo Ramos, erguido pelo caridoso Coronel Manoel Serra Carneiro – genitor da sogra da escritora Graça Leite – coletor de impostos federais, que faleceu, em 1922, envolto no perfume da caridade que praticava. Ao noticiar sua morte o jornal Cidade de Pinheiro o descreveu “homem de acção, espírito devotado as grandes causas, trabalhador infatigável e desinteressado” e “amigo da pobreza, que protejia generosamente, até o sacrifício”.

Homem de posses, o coronel viajou pela Itália, França, Espanha, Inglaterra, Suíça e Portugal; e, regressando a terra natal, após casar-se, em 1909, com Esther Mendes Carneiro, ergueu a casa que seria o lar e refúgio dos caridosos nubentes e que hoje é um dos últimos edifícios remanescentes da antiga Vila de Santo Inácio do Pinheiro, que permanece de pé, com a distinção de ser o primeiro sobrado erguido na Rua Nova e naquela vila, como enfatizado pelo jornal Cidade de Pinheiro, no obituário do coronel.


A Rua Nova virou a Av. Presidente Dutra; e, a vila dilui-se na cidade que esse sobrado viu nascer, das janelas altaneiras de suas sacadas, acompanhando a pressa do progresso que passou na sua porta, a qual tantas vezes aberta, pela já viúva por dona Esther, para socorrer a pobreza que passava na calçada. Nessa casa, incontáveis quermesses foram promovidas, angariando importâncias generosas para a construção da Igreja Matriz que, mesmo sem viver par ver a conclusão, dona Esther teve grande participação.

Em 1933, apenas três anos antes de falecer, a viúva caridosa vendeu o sobrado, para o português Américo de Almeida Gonçalves, rico comerciante instalado em Pinheiro, que providenciou para o imóvel um bonito portão com suas iniciais e o ano da compra. Chega o ano de 1946 e nove padres italianos, desembarcam na Faveira, entre eles Dom Afonso Ungarelli, que adquire o terreno de propriedade de Doninha Paiva, que fica em frente a casa; fazendo, posteriormente, com o Sr. Américo Gonçalves, a permuta do terreno pelo sobrado, onde instalou os padres da Prelazia de Pinheiro.


Casa santa, aliás, santíssima! Desde quando tornou-ser residência dos padres Missionários do Sagrado Coração, respira os frescores de uma capela, modéstia, mas rica da graça que se encerra em um sacrário, onde Cristo, que é Caridade, habitou no silêncio da clausura daquele “cofre de graça”, iluminado ininterruptamente pelo clarão de uma lâmpada. O último morador dessa Casa Santa, Pe. Risso, falecido em 09/03/2022, santificou muitas vidas com a pregação da fé, palpável nas suas obras de caridade, testemunhadas pelas paredes desse sobrado até o último suspiro, impregnando-as com a caridade que sempre realizou, especialmente às crianças para quem se fez “Vovô Risso”.

Agora, nessa Casa Santa – onde o vazio preenche o sacrário da capela em que por mais de meio século a missa fora celebrada – a lâmpada do sacrário apagada é pressagio de incertezas, inclusive do funcionamento da capela. Nessa hora, para uma casa santa, as palavras de um santo caem bem e como dizia Santo Agostinho: “quem canta reza duas vezes”. Na porta dessa CASA SANTA, onde a caridade há mais de 100 anos fez morada, o futuro certamente há de ouvir, na nossa voz, o canto das taumaturgas e benditas ladainhas, aprendidas de nossos avôs.

Oh Deus te salve casa santa,
Onde Deus fez a amorada,
Aonde mora o cálix bento
E a hóstia consagrada.