Vivemos na contemporaneidade uma quebra de
paradigmas e de ruínas onde caem por terra as mais sólidas convicções e
valores, fruto de uma pseudo inovação que, na ânsia inconsequente de renovar tudo,
acaba por deformar sem se dar conta.
A tecnologia e o progresso industrial se
soerguem a noção de solidariedade, de fraternidade e humanidade; à máquina é
atribuído valor superior ao homem, sobremaneira no que tange a sua dimensão
imaterial, transcendental.
O comércio, famigerado pelo lucro, aliena.
Trabalhadores são reféns das necessidades econômicas implantadas pelo sistema
vigente, no qual a distribuição de riquezas de modo desproporcional referenda
esta nova modalidade de escravidão que é ditada pelo capitalismo que oprime e
sujeita os trabalhadores a uma paulatina alienação pela relativização e negação
de suas crenças e valores.
Só para ilustrar, pertence ao passado o
tempo em que dia das mães, ou dia dos pais, era festejado em família; em que no
natal, ou na páscoa, as famílias reuniam-se. Hoje tudo é passado, o comércio
não mais permite, ignora todo e qualquer feriado, mesmo os de cunho familiar. É
como se quem fosse comerciário não tivesse direito a comemorações em família.
Vive-se uma correria desenfreada para
nada, ao final tudo passa e fica só a poeira do esquecimento. Reflito e chego a
constatação de que procede um adágio que li certa feita, segundo o qual para
conhecer o grau de desenvolvimento de um lugar é mister visitar uma praça, uma
escola e um cemitério.
Na escola observa-se o grau de importância
a construção do futuro; na praça se observa o comprometimento com o presente;
e, no cemitério o valor que é dado ao passado e ao cultivo da memória, sem a
qual é impossível vislumbrar qualquer ideia de presente ou futuro, afinal
memória é fundamental.
Estando na minha terra natal no começo do
mês em curso, mais precisamente no dia 03, passei na porta da Câmara Municipal
e vendo o jardim daquela casa legislativa todo desgrenhado (grama alta e
arbustos ornamentais em desalinho, bem como a presença de ervas daninhas)
resolvi por a prova aquele pensamento sobre o grau de desenvolvimento de um
lugar e então direcionei meus passos ao Cemitério Santo Inácio.
Estando no cemitério encontrei o passeio
principal até arrumado e por ele caminhei até o cruzeiro e a capela (que de
capela pouco tinha, parecia mais depósito de materiais de construção como
tabuas, areias, cimento, tijolos), mas foi suficiente caminhar em direção de
alguns passeios transversais para constatar uma realidade ainda mais triste que
aquela do jardim da Câmara Municipal.
Ao tentar visitar o túmulo de alguns entes
queridos tive minha intenção prejudicada e fui obrigado fazer minhas preces a
distância com uma enorme tristeza diante daquele cenário: os passeios
transversais que davam acesso ao meu destino (e os demais em sua maioria)
estavam cheios de ervas daninhas.
Ainda empreendi forças para arrancar
alguns ervas daninhas e facilitar minha passagem, contudo deparei-me também com
arbustos cheios de espinhos que se embrenhavam de tal modo que prejudicavam a
passagem, afinal cresceram tanto que estavam com aproximadamente 130
centímetros de altura: claro sinal de que há muito o poder público não realiza
qualquer capina no local. E para todo lado que me virava não via uma alma, nem
viva e nem morta.
Confesso que era preferível ver alguma
alma penada a ter que caminhar por aquelas passagens tomadas pelo matagal e por
inúmeros camaleões, gigantescos por sinal, sem contar outros animais que
rastejavam e que eu não consegui identificar. O abandono era total e aqui não
me refiro aos túmulos (que são particulares) mas aos passeios e ruas daquele
que é o mais tradicional cemitério de Pinheiro.
A fachada daquele secular Campo Santo, em
estilo creio que neoclássico, datada do final do século XIX, apresenta
rachaduras, fruto das raízes de árvores que cresceram há meses e que
ameaçam a integridade do portal, pois são rachaduras de mais de 1 metro em
diversos lugares, principalmente na parte superior onde Embaúbas se destacam,
Como seria bom se o dia de Finados fosse comemorado todos os meses do ano!
Encerro estas linhas com a pena da
recordação e as tintas da nostalgia; com elas, avivo a expressão latina
“memento mori”. Que a contemplação do ocaso da vida, sob o ponto de vista
corpóreo, infunda no Ser Humano a consciência da necessidade de evolução, a
qual mensurada no estado das escolas, das praças e dos cemitérios.
Em relação aos cemitérios, e mais especificamente o Santo Inácio de Loyola, em
Pinheiro-MA, o qual relativamente pequeno (aproximadamente 30.000 m²) apenas
uma constatação: o descaso que hoje é protagonizado, amanhã vitimará os que
hoje o protagonizam, independentemente do cargo ou posição de ocupam, afinal memento mori.
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