terça-feira, 3 de dezembro de 2013

REQUIEM


Se a existência possui leis, regras que se impõe à semelhança do que a pontuação faz com as palavras, diria que nas pausas que tais leis impõem, em cada vírgula existencial e em cada ponto e vírgula circunstancial há um prenúncio de ponto final.

Contudo, o mesmo ponto que assinala um final também promove uma continuação, ou melhor, impõe uma continuação quando se faz plural e se torna reticências. Evidentemente que isto é um mister que dispensa o falar, mesmo porque fazê-lo é algo improvável, defini-lo é impensável, e entendê-lo... Entende-lo é vivê-lo.

E naquela tênue e delgada linha onde saudade é divisor-balança que traz a dor de não ter e a vontade de querer ter, floresce aquela esperança que acalma o intimo do ser com aquela força que alguns chamam confiança, uns conforto e outros fé, mas que em síntese é simplesmente esperança.

Dizem que a esperança é a última que morre, porém não sei se é verdade. Só sei que ela também adoece quando lhe acontecesse a ameaça de um ponto, pois este tanto pode sê-lo continuando ou final e ai somente pluralizando o ponto interrompe-se o fim para continuar pontuando e se deixando pontuar.

Ocorre que essas pontuações são etapas nas quais é inevitável não sentir dores: umas leves, outras vorazes e terrivelmente impossíveis de explicar, mensurar ou mesmo narrar, apenas doem e doem, simplesmente doem.  E no silêncio de doer o fazem como ninguém.

Assim, nesse silêncio interrompido de sofrer surgi o indizível sentimento de amar, inexplicável por essência e incomensurável por natureza que uma vez ferido pela espada da separação acaba oprimido de dor que emudecesse, que amarga, que dilacera, mas que não é capaz de exterminá-lo, pois se em vida viveu morrendo de amor, se for o caso de morte morre vivo de amor, mas nunca se acaba, se transforma em saudade: pretérito mais que perfeito de amar.

                                                          
                                           In memoriam JULIETA FERREIRA PEREIRA

                                                   * Peri-mirim-MA, 26/11/1926
                                                   + Pinheiro-MA, 02/11/2013

“Reticências do Inefável”

 (...)

Insondável sentimento de vazio
Ao apunhalar a alma... Tua ausência
Jardim sem flor... Alvorecer sombrio
Intangível na essência de ser
Mas concreto no abrasador frio
Que teu abraço bom solicita!

Horizonte vasto... Recordação!
Luz dourada que perene crepita
E inflama no peito emoção
Tua lembrança... Suspiro que palpita
Esse perfume suave-infinito
Tua saudade... Lágrima e canção!

Canto que se entoa ao Bendito
Sutileza-adjetivo verdade...
Sinfonia que dilata a amplidão
E de sublime tem de mais bonito
A centelha de eternidade
Que te dá vida no meu coração!

Lágrima que vem da realidade
Que priva da doçura do teu olhar
E impõe o fel da separação...
Com inclemência que faz sufocar
A essência da metáfora de existir...
Sonhar... Viver... Crer... Sempre florir!

Substantivo plural de saudade
Sinônimo da conjunção amor
Conjugado com a luz de teu sorrir...
Ah! Trarei comigo por onde eu for
Sempre e enquanto eu existir...
Teu nome cultivará igual flor

E se o infinitivo de saudade
Tem o imperativo de silenciar...
No mais profundo silêncio d’alma
Onde o indizível é suspirar
Saudade é mar... Silêncio-prece
Abismo-luz onde vou jardinar.

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